sexta-feira, 21 de agosto de 2015

JUDEUS NÃO ACREDITAM EM JESUS.

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Por que os judeus não acreditam em Jesus?

O que diz um rabino:



Por séculos os judeus foram perseguidos por sua fé e prática religiosa. Muitos tentaram impor suas idéias e aniquilar o judaísmo. Nem as cruzadas, nem a inquisição implacável, nem os pogroms conseguiram manipular nossas almas cumprindo seu intento.

O judaísmo mantém sua chama sempre viva.

A história comprova: os judeus continuam rejeitando o Cristianismo. Por quê?

Porque somos simplesmente judeus, nascemos e vivemos o judaísmo e temos nossas próprias convicções.

Mas quando judeus são seguidamente questionados sobre esta questão e não-judeus frequentemente perguntam: "Por que os judeus não acreditam em Jesus?" Preparamos alguns argumentos com o objetivo, não de depreciar outras religiões, pois respeitamos a todos e por esta razão não fazemos proselitismo, mas sim apenas para esclarecer a posição judaica.



Por que os judeus não acreditam em Jesus? Porque:

1. Jesus não preencheu as profecias messiânicas

2. Cristianismo contradiz a teologia judaica

3. Jesus não personifica as qualificações pessoais do Messias

4. Versículos bíblicos "referindo-se" a Jesus são traduções incorretas

5. A crença judaica é baseada na revelação nacional

Veja também:

6. Judeus e Gentios

7. Trazendo o Messias





1. JESUS NÃO PREENCHEU AS PROFECIAS MESSIÂNICAS

O que o Messias deveria atingir? A Torá diz que ele:

a - Construirá o terceiro Templo Sagrado (Yechezkel 37:26-28)

b - Levará todos os judeus de volta à Terra de Israel (Yeshayáhu 43:5-6).

c - Introduzirá uma era de paz mundial, e terminará com o ódio, opressão, sofrimento e doenças. Como está escrito: "Nação não erguerá a espada contra nação, nem o homem aprenderá a guerra." (Yeshayáhu 2:4).

d - Divulgará o conhecimento universal sobre o D'us de Israel - unificando toda a raça humana como uma só. Como está escrito: "D'us reinará sobre todo o mundo - naquele dia, D'us será Um e seu nome será Um" (Zecharyá 14:9).

O fato histórico é que Jesus não preencheu nenhuma destas profecias messiânicas.



2. CRISTIANISMO CONTRADIZ A TEOLOGIA JUDAICA

a - D'us em três?

A idéia cristã da trindade quebra D'us em três seres separados: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (mateus 28:19).

Compare isto com o Shemá, a base da crença judaica: "Ouve, ó Israel, o Eterno nosso D'us, o Senhor é UM" (Devarim 6:4). Os judeus declaram a unicidade de D'us todos os dias, escrevendo-a sobre os batentes das portas (Mezuzá), e atando-a à mão e cabeça (Tefilin). Esta declaração da unicidade de D'us são as primeiras palavras que uma criança judia aprende a falar, e as últimas palavras pronunciadas antes de morrer.

Na Lei Judaica, adorar um deus em três partes é considerado idolatria - um dos três pecados cardeais, que o judeu prefere desistir da vida a transgredir. Isto explica porque durante as Inquisições e através da História, os judeus desistiram da vida para não se converterem.



b - Um homem como deus?

Os cristãos acreditam que D'us veio à terra em forma humana, como disse Jesus: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30).

Maimônides devota a maior parte do "Guia para os perplexos" a idéia fundamental que D'us é incorpóreo, significando que Ele não assume forma física. D'us é eterno, acima do tempo. É infinito, além do espaço. Não pode nascer, e não pode morrer. Dizer que D'us assume forma humana torna D'us pequeno, diminuindo tanto Sua Unidade como Sua Divindade. Como diz a Torá: "D'us não é um mortal" (Bamidbar 23:19).

O Judaísmo diz que Messias nascerá de pais humanos, com atributos físicos normais, como qualquer outra pessoa. Não será um semi-deus, e não possuirá qualidades sobrenaturais. De fato, em cada geração vive um indivíduo com a capacidade de tornar-se o Messias. (veja Maimônides - Leis dos Reis 11:3).



c - Um intermediário para a oração?

É uma idéia básica na crença cristã que a prece deve ser dirigida através de um intermediário - i.e., confessando-se os pecados a um padre. O próprio Jesus é um intermediário, pois disse: "Nenhum homem chega ao Pai a não ser através de mim."

No Judaísmo, a prece é assunto totalmente particular, entre cada pessoa e D'us. A Torá diz: "D'us está perto de todos que clamam por Ele" (Tehilim 145:18). Além disso, os Dez Mandamentos declaram: "Não terá outros deuses DIANTE DE MIM," significando que é proibido colocar um mediador entre D'us e o homem. (veja Maimônides - Leis da Idolatria cap. 1).



d - Envolvimento no mundo físico

O Cristianismo freqüentemente trata o mundo físico como um mal a ser evitado. Maria, a mais sagrada mulher cristã, é retratada como uma virgem. Padres e freiras são celibatários. E os mosteiros estão em locais remotos e segregados.

Em contraste, o Judaísmo acredita que D'us criou o mundo físico não para nos frustrar, mas para nosso prazer. A espiritualidade judaica vem através do envolvimento no mundo físico de maneira tal que ascenda e eleve. O sexo no contexto apropriado é um dos atos mais sagrados que podemos realizar.

O Talmud diz que se uma pessoa tem a oportunidade de saborear uma nova fruta e recusa-se a fazê-lo, terá de prestar contas por isso no Mundo Vindouro. As escolas rabínicas ensinam como viver entre o alvoroço da atividade comercial. Os judeus não se afastam da vida, elevam-na.





3. JESUS NÃO PERSONIFICA AS QUALIFICAÇÕES PESSOAIS DO MESSIAS

a - Messias como profeta

Jesus não foi um profeta. A profecia apenas pode existir em Israel quando a terra for habitada por uma maioridade de judeus. Durante o tempo de Ezra (cerca de 300 AEC), a maioria dos judeus recusou-se a mudar da Babilônia para Israel, e assim a profecia terminou com a morte dos três últimos profetas - Chagai, Zecharyá e Malachi.

Jesus apareceu em cena aproximadamente 350 anos após a profecia ter terminado.



b - Descendente de David

O Messias deve ser descendente do Rei David pelo lado paterno (veja Bereshit 49:10 e Yeshayáhu 11:1). Segundo a reivindicação cristã que Jesus era filho de uma virgem, não tinha pai - e dessa maneira não poderia ter cumprido o requerimento messiânico de ser descendente do Rei David pelo lado paterno!



c - Observância da Torá

O Messias levará o povo judeu à completa observância da Torá. A Torá declara que todas as mitsvot permanecem para sempre, e quem quer que altere a Torá é imediatamente identificado como um falso profeta. (Devarim 13:1-4).

No decorrer de todo o Novo Testamento, Jesus contradiz a Torá e declara que seus mandamentos não se aplicam mais. (veja João 1:45 e 9:16, Atos 3:22 e 7:37).





4. VERSÍCULOS BÍBLICOS "REFERINDO-SE" A JESUS SÃO TRADUÇÕES INCORRETAS

Os versículos bíblicos apenas podem ser entendidos estudando-se o texto original em hebraico - que revela muitas discrepâncias na tradução cristã.



a - Nascimento virgem

A idéia cristã de um nascimento virgem é extraído de um versículo em Yeshayáhu descrevendo uma "alma" que dá à luz. A palavra "alma" sempre significou uma mulher jovem, mas os teólogos cristãos séculos mais tarde traduziram-na como "virgem". Isto relaciona o nascimento de Jesus com a idéia pagã do primeiro século, de mortais sendo impregnados por deuses.



b - Crucifixão

O versículo em Tehilim 22:17 afirma: "Como um leão, eles estão em minhas mãos e pés." A palavra hebraica ka'ari (como um leão) é gramaticalmente semelhante à palavra "ferir muito". Dessa maneira o Cristianismo lê o versículo como uma referência à crucifixão: "Eles furaram minhas mãos e pés."



c - Servo sofredor

Os cristãos afirmam que Yeshayáhu (Isaías) 53 refere-se a Jesus. Na verdade, Yeshayáhu 53 segue diretamente o tema do capítulo 52, descrevendo o exílio e a redenção do povo judeu. As profecias são escritas na forma singular porque os judeus (Israel) são considerados como sendo uma unidade. A Torá está repleta de exemplos de referências à nação judaica com um pronome singular.

Ironicamente, as profecias de perseguição de Yeshayáhu referem-se em parte ao século 11, quando os judeus foram torturados e mortos pelas Cruzadas, que agiram em nome de Jesus.

De onde provêm estas traduções erradas? S. Gregório, Bispo de Nanianzus no século IV, escreveu: "Um certo jargão é necessário para se impor ao povo. Quantos menos compreenderem, mais admirarão."





5. A CRENÇA JUDAICA É BASEADA NA REVELAÇÃO NACIONAL

Das 15.000 religiões na História Humana, apenas o Judaísmo baseia sua crença na revelação nacional - i.e., D'us falando a toda a nação. Se D'us está para iniciar uma religião, faz sentido que Ele falará a todos, não apenas a uma pessoa.

O Judaísmo,é a única entre todas as grandes religiões do mundo que não confia em "reivindicações de milagres" como base para estabelecer uma religião. De fato, a Torá afirma que D'us às vezes concede o poder de "milagres" a charlatães, para testar a lealdade judaica à Torá (Devarim 13:4).



Maimônides declara (Fundações da Torá, cap. 8):

"Os Judeus não creram em Moshê (Moisés), nosso mestre, por causa dos milagres que realizou. Sempre que a crença de alguém baseia-se na contemplação de milagres, tem dúvidas remanescentes, porque é possível que os milagres tenham sido realizados através de mágica ou feitiçaria. Todos os milagres realizados por Moshê no deserto aconteceram porque eram necessários, e não como prova de sua profecia.

"Qual era então a base da crença judaica? A revelação no Monte Sinai, que vimos com nossos próprios olhos e ouvimos com nossos ouvidos, não dependendo do testemunho de outros... como está escrito: 'Face a face, D'us falou com vocês...' A Torá também declara: 'D'us não fez esta aliança com nossos pais, mas conosco - que hoje estamos todos aqui, vivos.' (Devarim 5:3)."

O Judaísmo não são os milagres. É o testemunho da experiência pessoal de todo homem, mulher e criança.





6. JUDEUS E GENTIOS

O Judaísmo não exige que todos se convertam à religião. A Torá de Moshê é uma verdade para toda a Humanidade, seja judia ou não. O Rei Salomão pediu a D'us para considerar as preces de não-judeus que vão ao Templo Sagrado (Reis I, 8:41-43). O profeta Yeshayáhu refere-se ao Templo Sagrado como uma "Casa para todas as nações." O serviço no Templo durante Sucot realizava 70 oferendas de touros, correspondendo às 70 nações do mundo. De fato, o Talmud diz que se os Romanos tivessem percebido quantos benefícios estavam conseguindo do Templo, jamais o teriam destruído.

Os judeus nunca buscaram ativamente converter as pessoas ao Judaísmo, porque a Torá prescreve um caminho correto para que os gentios o sigam, conhecido como "As Sete Leis de Nôach." Maimônides explica que qualquer ser humano que observe fielmente estas leis morais básicas recebe um lugar apropriado no céu.







7. TRAZENDO O MESSIAS

De fato, o mundo está desesperadamente necessitado da Redenção Messiânica. A guerra e a poluição ameaçam nosso planeta; o ego e a confusão estão erodindo a vida familiar. Na mesma extensão em que estamos conscientes dos problemas da sociedade, é a extensão em que ansiamos pela Redenção. Como declara o Talmud, uma das primeiras perguntas que um judeu recebe no Dia do Julgamento é: "Você ansiou pela vinda do Messias?"

Como podemos apressar a vinda de Mashiach? A melhor maneira é amar generosamente toda a humanidade, cumprir as mitsvot da Torá (da melhor maneira que pudermos) e encorajar outros para que as cumpram também.



O Mashiach pode chegar a qualquer momento e tudo depende de nossas ações. D'us estará pronto quando estivermos. Pois, como disse o Rei David: "A Redenção chegará hoje - se derem atenção à Sua voz."



Por que os judeus não crêem em Jesus?



Por que os judeus não crêem em Jesus. Sob esse título o publicista judeu rabino Shraga Simmons, editor daAish.com em Jerusalém, redigiu uma lista com alguns argumentos na tentativa de demonstrar que Jesus Cristo não é o Messias prometido de Deus e anunciado pelos profetas. Para ele:

1) Jesus não cumpriu as principais tarefas do Messias;
2) Ele não possuía as qualidades requeridas para aspirar ao título de Messias;
3) As profecias que os cristãos lhe aplicam são mal traduzidas.

Eis os três argumentos que mormente queremos examinar aqui. Eles vão servir para pôr em evidência a solidez da santa religião católica.




I – As principais tarefas do Messias, segundo o rabino Simmons

O rabino Simmons reduz a quatro proposições o ensinamento das dezesseis profecias do Antigo Testamento acerca do papel do Messias.

Segundo ele o Messias:

1. Erigirá o terceiro templo (Ezequiel 37, 26-28);
2. Congregará todos os judeus na terra de Israel (Isaias 43, 5-6);
3. Fará o mundo entrar numa era de paz universal, e dará fim ao ódio, à opressão e às doenças, tal como está escrito: “Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se arrastarão mais para a guerra” (Isaias 2, 4);
4. Propagará o conhecimento universal do Deus de Israel, que reunirá a humanidade em um só povo, como está escrito: “O Senhor reinará sobre toda a terra. Naquele dia o Senhor será o único Deus e só o seu nome será invocado” (Zacarias 14, 9).

Segue o rabino: É fato histórico que Jesus não cumpriu nenhuma dessas profecias messiânicas.

De fato o rabino leu todas as profecias citadas com um preconceito subjacente: a concepção temporal do messianismo (o papel do Messias diz respeito sobretudo à sociedade terrestre, à felicidade neste baixo mundo). E só por tê-las lido nessa perspectiva terrestre (carnal) é que o rabino Simmons pôde acusar o Cristo de as não ter cumprido. Há-de se examinar antes de tudo esse pressuposto.

O REINO MESSIÂNICO

O anúncio do Messias perpassa e se reforça ao longo do Antigo Testamento, desde o primeiro livro (Gn 3, 15; 22, 18; e 49, 8-10) até Malaquias (Ml 3, 1), desdobrando-se em imagens particularmente impressionantes em Isaias e Daniel. O Messias será um rei judeu (descendente de Davi), cujo esplendor embaciará o dos demais reis; seu reino reunirá os povos em torno do culto do Deus verdadeiro. Todos estão de acordo com isso. Ora foi justamente desse reino messiânico que Jesus veio falar por meio de parábolas (uma dúzia delas se apresentam desde o começo como a descrição do reino tão esperado, semelhante a um grão de mostarda, a um tesouro escondido etc.).

Dominados pelos romanos os judeus da época sofriam havia séculos a influência de uma literatura apócrifa que apresentava o futuro Messias como o herói da guerra de libertação e conquista do mundo. Inflingiram-se grande mal ao se instruírem da noção temporal do reino de Deus. Contrapõe-se Jesus a tal juízo. Anunciam as parábolas que o Reino será belo e se estabelecerá sobre a terra, mas somente como antecipação provisória da realidade celeste (Nosso Senhor designa-o como O Reino dos Céus: Mt 13); ele se constituirá na dimensão política e social, mas é antes de tudo interior, havendo mister de buscá-lo para descobri-lo verdadeiramente (parábolas do tesouro escondido e da pérola preciosa); não virá com a pompa esperada pelos fariseus (Lc 17, 20), mas crescerá com lentidão (parábola do semeador), transformando a pouco e pouco o mundo (parábola do fermento), no qual não obstante haverá sempre maus (parábolas do joio, da rede, do homem em núpcias sem a roupa nupcial, das virgens imprudentes etc.); sobretudo, o reino não se estabelecerá no brandir do aço (Mt 26, 52), mas ao contrário sofrendo perseguições (Mt 5, 10-12; Jo 12, 24-25); as riquezas não serão mais de ouro ou prata, mas interiores (Mt 5, 3); os chefes não terão por fim dominar outrem, mas servi-los (Lc 22, 24-27; Jo 13, 15); enfim, ainda que surgindo entre os judeus (Mt 15, 24) e impondo-se ao mundo inteiro (Mt 28, 18), o reino não constituirá domínio mundial e temporal do povo eleito, mas ao contrário será lugar de eleição dos pagãos convertidos, figurados nas ovelhas reencontradas (Jo 10, 16), no filho pródigo que retorna ao lar (Lc 15), no publicano arrependido (Mt 9, 9-13; Lc 18, 14 e 19, 2) e na conversão dos pecadores públicos (Lc 7, 39 e 23, 43); por sua vez os judeus – os primeiros a serem chamados – excluir-se-ão a si, como indicam as parábolas dos vinhateiros homicidas (Mt 21, 33-46), das núpcias reais (Mt 22, 1-14) e do grande festim (Lc 14, 15-24).

Confrontam-se duas concepções opostas do reino messiânico durante a vida pública do Cristo. Quando vem o demônio tentar o provável Messias, fala-lhe apenas de satisfações do corpo, glória humana e domínio mundial (Mt 4, 1-11), em conformidade ao comportamento que a maioria espera do Messias. Mais tarde após a multiplicação dos pães, quando proclamaram-no rei, evade-se Jesus para evitar que os judeus se revoltem contra os romanos. (Jo 6, 15). Interrogado por Pilatos reconhece-se todavia como rei (Jo 18, 37), mas precisa que seu reino não é deste mundo (Jo 18, 36).

Pouco antes da Ascenção os próprios apóstolos manifestaram uma como ignorância acerca da natureza do reino messiânico: “Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel?” (At 1, 6). Somente a vinda do Espírito Santo em Pentecostes pôde esclarecê-los.

Dois mil anos mais tarde ainda é a mesma a pedra de tropeço: Nosso Senhor Jesus Cristo viera pregar um reino sobrenatural, salvando as almas das garras do demônio, distribuindo as riquezas da graça e caridade divinas, e preparando coroas de glória eterna no outro mundo. Persistem os judeus ao contrário na expectativa de reino, riquezas, coroas, vitórias e glórias terrestres, interpretando nessa perspectiva as profecias do Antigo Testamento. A oposição é insolúvel.

A QUESTÃO PRIMORDIAL

O debate honesto entre judeus e cristãos não deveria remeter-se a tal ou qual profecia em particular, mas à visão de conjunto em que as profecias se cumprem. O judeu que realmente aceitasse pôr em questão – um instante que fosse – os preconceitos que lhe inclinam à interpretação das profecias de modo sobretudo temporal e terrestre estaria, com a graça de Deus, mui próximo da conversão. Como não notaram logo que Jesus de Nazaré cumpriu, mas num plano superior, tudo quanto se prometera?

O rabino sabe que a promessa messiânica primordial é a do rei, descendente de Davi, que deve impor sua autoridade à terra inteira, reunindo os povos sob o culto do Deus único. Caso libertassem a inteligência dos preconceitos nacionais, como não enxergar que Jesus de Nazaré estendera tal autoridade por sobre a terra e espalhara por todo lado o culto do Deus único?

Antes do nascimento do Cristo o povo judeu mal e mal perseverara no culto do Deus único. Como fosse constante a tentação de fundir para si o bezerro de ouro ou prostrar-se de joelhos diante de Baal, uma série de profetas tivera de reconduzi-los ao reto caminho, vaticinando-lhes sempre que um dia todos os povos adorariam Javé. Mas os judeus mal podiam acreditar nisso, antes preferiram adotar os deuses das nações. Sucederam-se exortações, ameaças, maldições ao longo do Antigo Testamento com o fito de conservar o povo eleito na fidelidade da aliança com o Deus único. – E eis que são os povos pagãos, prestos, um após o outro, que se convertem ao Deus único. Receberam e abraçaram a revelação feita a Abraão, Isaac e Jacó. Esse inaudito retorno tem nome – cristianismo.

Ponderasse com seriedade nosso judeu certamente ficaria perturbado com esse fato histórico tão incontestável quanto inesperado: em três séculos os discípulos de Cristo acabam com a idolatria; mergulham os gregos – orgulhosos de sua filosofia – na leitura meditada dos livros santos do judaísmo; prosternam os imperadores romanos – conquistadores do universo – diante do Filho de Deus, Jesus de Nazaré. Não é evidente o cumprimento da promessa divina feita a Abraão (Gn 22, 18)?

Descomponha-se talvez nosso judeu: como dar o título de rei a um crucificado? Entretanto, se quiser ser honesto, ele deve admitir que centenas de milhões de seres humanos aclamaram realmente Jesus de Nazaré rei. Tão desconcertante, agastante – irritante até – quanto lhe pareça essa realeza de cariz religioso, não se pode considerá-la como inexistente. Durante séculos os reis e os imperadores – mesmo Napoleão, após a sagração – reconheceram em público Jesus de Nazaré mestre soberano.

O reinado do Cristo – essencialmente celeste e suprapolítico – de fato difere de tudo quanto esperam os judeu. Ainda que recusem a acreditar no seu caráter messiânico, não podem negar-lhe a existência, já que possui uma dimensão terrestre.

Argüirá nosso judeu que a Bíblia promete o triunfo temporal, que os profetas não mencionam reinado suprapolítico, riquezas espirituais, destino sobrenatural – mas a felicidade terrestre. Ora promessa é promessa. O Messias deve dar a felicidade terrestre.

Não é Deus infinitamente superior ao homem? Quem tem o direito de restringir a priori sua munificiência, encerrando-a nos estreitos limites terrestres? Por outro lado é faltar à promessa cumpri-la com superabundância, num nível superior? Caso Deus queira dar mais que prometera, como isso nos lesa?

Os oráculos dos profetas deixam entrever nas mais belas passagens a realização que ultrapassa a ordem material. Aquilo de Isaías, por exemplo:

Senhor virá estabelecer-se sobre todo o monte Sião
e em suas assembléias:
de dia como uma nuvem de fumaça,
e de noite como um fogo flamejante.
Porque sobre todos se estenderá a glória do Senhor,
como a cobertura de uma tenda,
à guisa de sombra contra o calor do dia,
e de refúgio e abrigo contra a procela e a chuva. (Is 4, 5-6)

Ou de Ezequiel:

Derramarei sobre vós águas puras,
que vos purificarão de todas as vossas imundícies
e de todas as vossas abominações.
Dar-vos-ei um coração novo
e em vós porei um espírito novo;
tirar-vos-ei do peito o coração de pedra
e dar-vos-ei um coração de carne.
Dentro de vós meterei meu espírito,
fazendo com que obedeçais às minhas leis
e sigais e observeis os meus preceitos. (Ez 36, 25-27)

Os textos se completam, sucedem e repetem, não há como lhes escapar. Por menos que nosso judeu consinta com a graça que se lhe oferece, a evidência está aí, ao alcance das mãos: todas as passagens vazadas em descrições de prosperidade terrestre (terra prometida, vinhas, frumento, alimária...), dão a estas sentido superior, sentido espiritual. Valem as promessas terrestres apenas para o tempo do Antigo Testamento. Deviam elas ceder espaço à Nova Aliança, de que eram preparação e figura. Não há se espantar de que realidades espirituais se anunciassem por imagens materiais, pois, sejamos francos, poderia ser de outro modo? Como anunciar o desconhecido, o sobre-humano, o celeste, senão se amparando de termos conhecidos, rementendo-se antes de tudo a realidades humanas e terrestres?

Caso abandonasse os preconceitos, poderia o próprio rabino Shraga Simmons chegar a tal conclusão. Basta-lhe orar com humildade e sinceridade, como fizera-o num dia de 1826 um certo Jacob Libermann, filho do rabino de Saverne:

Lembrado do Deus soberano das minhas preces, lancei-me de joelhos e conjurei-o a esclarecer-me acerca da verdadeira religião. Implorei a Ele dar me conhecimento da crença cristã, caso verdadeira; se não, afastar-me dela o quanto antes. O Senhor, sempre junto aos que o invocam de toda a alma, acolheu minha prece. De imediato fui esclarecido, vi a verdade: a fé penetrara em minha alma e inteligência.

Antes de orar assim, há mister de renunciar certos preconceitos, dos quais não é fácil se desembaraçar, uma vez que são absorvidos juntos com o leite materno. Como dissera outro convertido célebre, calejado por tais combates:

Não se deve combater objeções racionais, antes há de se apazigüar as angústias da consciência judaica. Não era eu assaz instruído para compreender a identidade entre judaísmo e cristianismo. Acreditava que eram duas religiões diferentes, o Deus de Abraão não era o Deus dos cristãos. Tinha medo de aprofundar a questão

Como muitos judeus, o rabino Simmons apega-se com desespero à concepção do “caderno de tarefas” do Messias. Ele deve construir o terceiro templo, congregar todos os judeus na terra de Israel, decretar a paz universal e finalmente propagar “o conhecimento universal do Deus de Israel, que reunirá a humanidade em um só povo”.

Vejamos isso de mais perto.

1. Primeira tarefa: o terceiro templo?

Reconstruir o templo não faria sentido no tempo de Jesus Cristo, porque o
segundo templo de Jerusalém ainda estava de pé. Entretanto o mesmo Jesus Cristo aludira à construção. “Destrui o templo, disse ele aos judeus, e eu o reedificarei em três dias”. Não está errado o rabino Simmons, apesar das aparências, em exigir do Cristo a construção do terceiro templo. Mas aqui como sempre a realidade supera e como eclipsa a expectativa dos judeus, por demais materialista: Jesus “falava do templo do seu corpo” (Jo 2, 21).

Anuncia Jesus, pouco depois, à samaritana:

Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém. [...] Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja.[...] [Jo 4, 21,23]

Apegados ao templo nacional os judeus ainda deploram-no 2000 anos após sua destruição. Mas o Messias – que anunciara a destruição (“Não restará pedra sobre pedra” Mc 13, 2) – inaugurou um culto espiritual. Chamou todos os homens a se tornarem “pedras vivas” (I Pd 2, 4-5) do templo onde ele mesmo é a pedra angular (I Pd 2, 6-8), e também a cabeça, porque o templo é seu corpo (Jo 2, 21; 1 Cor 12).

Enquanto os judeus se aferram à idéia do templo material, composto de pedras mortas e erigido em um lugar específico do planeta, o Cristo propõe o templo verdadeiramente definitivo, apto a durar pela eternidade, logodespegado da matéria; um templo universal, onde todos os homens poderão entrar, templo ao qual se integrarão até, por meio do batismo.

- O templo cristão é concreto e real

Um judeu poderia considerar essa explicação uma batata quente intelectual, destinada à ocultação de uma dificuldade incômoda. Parecer-lhe-ia arbitrária a aplicação do nome “templo” ao corpo de Jesus Cristo, sendo tentado a afastar o argumento com desdém. Contudo:

1. As noções de templo-corpo (Jo 2, 21) e de pedras vivas (I Pd 2, 4-5) não se forjaram de forma alguma segundo as necessidades da causa, com o fim de responder ao rabino. São elas princípios fundamentais da revelação cristã:

a) Não se pode crer em Jesus Cristo sem admitir que seu corpo humano – dentro do qual sua alma humana presta ao Pai incessantemente o mais perfeito culto que possa haver – é por natureza um templo (segundo a definição corrente da palavra, templo é o edifício dedicado ao culto de Deus), superior a todos aqueles que os homens possam construir;

b) Não se pode aderir ao ensinamento cristão sobre o batismo (que incorpora-nos o Cristo) sem reconhecer que os batizados se integram a esse templo como pedras vivas.

Eis aí o cristianismo. Ainda que se recusem a crê-lo, os judeus não podem negar que ele é assim, e que existe de fato. Podem a rigor censurar ao Cristo de não haver construído o templo material que eles esperavam, mas não de não haver construído o templo. E isso basta para destruir a objeção.

2. Até os profetas, malgrado a importância que conferiam ao templo (capítulos 30-34 de Jeremias, 40-48 de Ezequiel), dedicavam-se à promoção do culto espiritual e na relativização do templo material. Busque-se nas admoestações de Jeremias:

Não vos fieis em palavras enganadoras, semelhantes a estas: Templo do Senhor, templo do Senhor, aqui está o templo do Senhor. (Jr 7, 4)

O último profeta, Malaquias, anuncia o sacrifício universal, oferecido em toda
parte, do qual participam as nações (i. é, os não-judeus):

Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações - diz o Senhor dos exércitos. (Ml 1, 11)

3. Finalmente o judaísmo não poderia em consciência apontar a ausência de templo no cristianismo, visto que ele mesmo está privado de templo há quase vinte séculos! No momento em que Jesus oferecia o sacrifício na cruz (sacrifício do qual é ao mesmo tempo sacerdote, vítima e templo), o véu do templo de Jerusalém rasgou-se todo de alto a baixo (Mt 27, 51). Menos de quarenta anos depois estava totalmente destruído o templo judeu. Ora a ausência de templo material implica ao judaísmo a ausência do culto obrigatório prescrito por Deus no Antigo Testamento. Desde o ano 70 estava abolido o culto que Moisés estabeleceu. Não existe mais o sacerdócio de Aarão. Não há mais sacrifícios públicos. O livro do Levítico caducou, o
judaísmo deveu restabelecer-se sobre outros fundamentos (as preces na sinagoga tomaram o lugar dos sacrifícios do templo, e aos sacerdotes se substituíram os rabinos). Compele-se, pois, a devolver ao rabino Simmons sua própria objeção: se o templo material é tão importante, por que permite Deus tamanho eclipse já há quase 2000 anos? Por que o eclipse – anunciado pelo Cristo (“Não restará pedra sobre pedra”) – deu-se justo após a morte deste, no instante mesmo em que vinha de anunciar a criação do novo templo universal e espiritual?

Há nisso sinais que deveriam confranger até aos cegos.

2. A congregação de todos os judeus na terra de Israel.

A segunda grande missão do Messias: congregar todos os judeus na terra de Israel. Ora deu-se justamente o contrário. Portanto não é Jesus o Messias prometido.

O raciocínio do rabino seria impecável caso Deus prometesse de modo absoluto que o Messias congregaria todos os judeus na terra material de Israel. Mas indica a Santa Escritura o contrário. As promessas de Deus de prosperidade temporal a seu povo são condicionais: Se fordes fiéis, proteger-vos-ei e abençoar-vos-ei; mas se infiéis, entregar-vos-ei nas mãos dos inimigos e dispersar-vos-ei. É praticamente o resumo de todo o Antigo Testamento:

É a constante sob os juízes, desde Josué até Samuel; também sob os reis, desde Saul até Sedecias; e finalmente sob os Macabeus, desde Matatias até Hircam. Enquanto se mantivessem fiéis, Deus os protegia de modo miraculoso; logo saíssem da fé, eram punidos na proporção da grandeza de sua revolta: por vezes durava sete anos, outras de dez a vinte anos conforme a gravidade dos crimes. As penas nunca iam além disso, até ao tempo do ímpio Manassés, quando Deus por meio do cativeiro aplicou-a mais longa – durou ela setenta anos.

As promessas temporais estão sempre sob condição. Quando a condição não é explícita, subentende-se, como o indicara o próprio Deus, alertando contra a interpretação gramatical das promessas:

Ora anuncio a uma nação ou a um reino
que vou arrancá-lo e destruí-lo.
Mas se essa nação, contra a qual me pronunciei,
se afastar do mal que cometeu,
arrependo-me da punição com que resolvera castigá-la.

Outras vezes, em relação a um povo ou reino,
resolvo edificá-lo e plantá-lo.
Se, porém, tal nação proceder mal diante de meus olhos
e não escutar minha palavra,
recuarei do bem que lhe decidira fazer. (Jr 18, 7-10)

Em relação ao povo da aliança nenhuma das promessas do Antigo Testamento é absoluta, mas sim o liame entre fidelidade e recompensa, infidelidade e maldição. Enumera o capítulo 23 do Levítico toda a série de flagelos com que Deus punirá a infidelidade, culminando com a pior dentre todas, a dispersão:

Se, apesar disso, não me ouvirdes, e me resistirdes ainda, marcharei contra vós em meu furor e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados. Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas. Destruirei vossos lugares altos e quebrarei vossas estelas solares; amontoarei vossos cadáveres sobre os de vossos ídolos, e minha alma vos abominará. Reduzirei a deserto as vossas cidades, devastarei vossos santuários e não aspirarei mais o suave odor de vossos perfumes. Desolarei vossa terra e vossos inimigos ficarão estupefatos com ela quando a habitarem.

Eu vos dispersarei entre as nações, e desembainharei a espada atrás de vós; vossa terra será devastada e vossas cidades se tornarão desertas. Então gozará a terra os seus sábados enquanto durar a sua solidão, quando estiverdes na terra de vossos inimigos; então a terra gozará os seus sábados e repousará. Nos dias em que for devastada, ela terá o repouso que não gozou nos sábados do tempo em que a habitáveis.

Naqueles dentre vós que sobreviverem, porei tal espanto em seus corações na terra de seus inimigos, que o ruído de uma folha agitada pelo vento os porá em fuga: fugirão como se foge diante da espada e cairão sem que ninguém os persiga. Sem que ninguém os persiga, tropeçarão uns sobre os outros, como diante da espada. Não podereis resistir aos vossos inimigos. Perecereis entre as nações e a terra inimiga vos consumirá. Os que sobreviverem consumir-se-ão por causa de suas iniqüidades na terra de seus inimigos, e serão também consumidos por causa das iniqüidades de seus pais, que levarão sobre si. (Lv 26, 17-39)

Ora como nota Blaise Pascal não há relação entre o cativeiro de Babilônia e a narração da terrível dispersão que se abateu sobre o povo judeu a partir do ano 70. Como a diáspora do ano 70 fosse a pior maldição que desceu sobre o povo eleito, ela é por força conseqüência de seu maior crime. As profecias divinas não permitem ir ao contrário disso.

Segundo Maimônides (e a maioria dos judeus hoje em dia) o exílio não passaria de um meio para espalhar a mensagem judaica no mundo inteiro, como o levedo na massa – uma misteriosa e derradeira purificação (mas interminável!) antes do advento do Messias. Levando em conta tal hipótese, ainda assim o exílio não se torna menos uma maldição – o que necessariamente é, antes de tudo – já que as promessas formais de Deus vinculam de forma inarredável dispersão e punição. (O fato de o cativeiro preparar a vinda do Messias, difundindo as profecias, não impede que ele seja por natureza maldição sobre o povo eleito). Qual seja o modo de contornar o problema, a indagação permanece: que crime se cometeu para atrair tamanho opróbrio?

Em 1778 o padre Beurier – célebre predicador – interpelava desta feita os judeus seus contemporâneos:

Há mais de mil e setecentos anos que Deus os pune com severíssimo rigor; há mister pois de que tenhais culpa sobeja aos vossos pais, mesmo àqueles viventes à época de Manassés. Ora qual poderia ser vosso crime? Não é a idolatria, que Deus aborrece amiúde em vossos ancestrais; tendes louvável horror ao culto dos ídolos. Não é também a desobediência à lei de Deus imposta, de vos não mesclar com povos estrangeiros; vós a cumpris com tal justeza que não é possível ir mais além. Qual crime seria maior que a idolatria e as abominações todas que se cometiam ao tempo de Manassés, senão a morte que infligistes ao Messias?

E eis vós dispersos por todo o mundo há mais de mil e setecentos anos, e não obstante resistis sempre. Não é isto o cumprimento literal da profecia de Davi, que diz ao salmo 58: “Não os destruís, ó meu Deus, mais dispersai-os por uma virtude de vossa onipotência” (Sl 58, 12) ?

Um mancebo judeu do séc. XIX, Simon Théodore Ratisbonne (citado mais acima), perguntou-se a si as mesmas questões, e elas levaram-no ao catolicismo. Em 1824 ainda hesitante escrevia a um amigo:

Li com atenção nossa história, e concluí que a cessação do culto e a ruína do templo, a destruição da Cidade Santa, a confusão entre as tribos e diáspora da nação judia – que todos os fatos coincidem com o estabelecimento do cristianismo no mundo. [...] Vislumbro a situação, e isso me dói: eu daria a vida para tirar meus irmãos dessa situação... mas não posso mais viver entre eles, nem invocar o Deus de meus pais na mesma casa de oração [...]

Responsável pelas escolas israelitas da Alsácia (seu pai era presidente do Consistório) Théodore teve três anos depois a oportunidade de citar, diante dos pais dos alunos, o capítulo 28 do Deuteronômio, em que se enumeram as bençãos e maldições anunciadas ao povo de Israel. O texto causou espécie:

Se não quiseres escutar a voz do Senhor teu Deus, a maldição se abaterá sobre ti e te destruirá. [...] Tu serás varrido para todos os cantos da terra. [...] O Senhor te ferirá de cegueira e de embotamento, de modo que andes às apalpadelas em pleno meio-dia. [...] Tu serás em todo tempo denegrido por calúnias e oprimido por violências, sem que ninguém te defenda. [...] Essas maldições cairão sobre ti e tua descendência como sinal e prodígio [...].

Foi interrompida a leitura sob os protestos furibundos de um dos ouvintes que, intimando aos berros o público a se retirar, entendera ali um ataque contra as tradições judaicas. Respondeu Théodore calmamente que limitava-se a ler as palavras de Moisés, retomando a leitura. Compreendeu que não poderia adiar ao infinito sua profissão pública da fé cristã. Alguns meses depois declarou ao pai:

Sou cristão. [...] Sou cristão, mas adoro ao mesmo Deus que meus pais, o Deus três vezes santo, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, e reconheço Jesus Cristo como o Messias, o Redentor de Israel.

No séc. XIX sem embargo do restabelecimento do estado de Israel em 1948 e a admirável ressurreição da língua hebráica, a situação dos judeus não mudou em essência. Continuam sempre sem templo, sem sacerdote, sem sacrifício, e o povo ainda está mui disperso. Anuncia a fundação do estado de Israel o fim da dispersão e prepara a conversão dos judeus? Preludia ela ao contrário nova catástrofe prestes a lhes abater? O futuro dirá. Em todo caso longe de provar a não-vinda do Messias, a brutal dispersão dos judeus – menos de quarenta anos após a crucifixão – é sinal manifesto de sua vinda.

3. A Paz Universal

Terceira tarefa do Messias, segundo o rabino Simmons: “Fazer o mundo entrar numa era de paz universal, e pôr fim ao ódio, à opressão, ao sofrimento e à doença”. Cita o rabino para isso a célebre passagem de Isaias:

- O texto de Isaias

No fim dos tempos acontecerá
que o monte da casa do Senhor
estará colocado à frente das montanhas,
e dominará as colinas.
Para aí acorrerão todas as gentes,
e os povos virão em multidão:
Vinde, dirão eles, subamos à montanha do Senhor,
à casa do Deus de Jacó:
ele nos ensinará seus caminhos,
e nós trilharemos as suas veredas.
Porque de Sião deve sair a lei,
e de Jerusalém, a palavra do Senhor.
Ele será o juiz das nações,
o governador de muitos povos.
De suas espadas forjarão relhas de arados,
e de suas lanças, foices.
Uma nação não levantará a espada contra outra,
e não se arrastarão mais para a guerra. (Is 2, 2-4)

Essa profecia incontestavelmente messiânica anuncia a conversão dos pagãos ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó. As imagens são pungentes, mas são imagens. Ninguém ousaria interpretá-la como a obrigação de transportar a montanha de Sião para o cume do Himalaia, nem como o estabelecimento de todos os povos da terra naquele local. Não há razões para se forçar o sentido dos últimos versículos em direção a um pacifismo mundial (que por lógica deverá abranger até aos animais, se se interpreta de modo idêntico às novas do capítulo 11: “Habitará o lobo com o cordeiro, repousará a pantera com a cabra [...] folgará a criança de peito sobre o ninho da serpente etc.“). Isaías limita-se ao anúncio de que a revelação do verdadeiro Deus franquear-se-á a todos os pagãos, que encontrarão ali fonte de justiça e paz. O busilis está na natureza dessa paz.

- A paz cristã

Produz Jesus Cristo uma paz sobretudo interior e sobrenatural. Os judeus esperam a paz exterior, civil, social. Mas não é a paz interior a mais importante? Não é a guerra civil a pior das guerras? Que dizer então da guerra intestina que o homem deve travar e sofrer no interior da alma?

Todo homem experimenta a luta íntima entre a razão (que mostra o que é reto, honesto, justo) e as diversas paixões. No imo do nosso ser, desde o pecado de Adão, a relação com Deus está falseada. Vindo curar tal desordem fundamental Jesus Cristo traz a paz (que conforme a afamada definição de Santo Agostinho é “a tranqüilidade da ordem”). Oferece a todos os homens a amizade de Deus. O coração humano, tão preste na acusação ao próximo, compreende que o principal inimigo é doméstico. Daí forja da espada relhas de arado, i. é, volta as armas contra si mesmo, aplica-se a romper a própria dureza interior, a arrancar a sarça dos vícios, abrir-se à semente da palavra de Deus. Com seu cortejo de dons e virtudes a graça restabelece a ordem interior da alma humana – não em um repente brutal e espetacular, mas suave e progressivamente, na medida em que o homem, com sua liberdade, colabore a favor da ordem que Deus lhe quer infundir.

- A paz real e concreta

Um judeu qualificará a paz cristã como utopia ou ilusão piedosa. Que releia os profetas. No capítulo 53 de Isaias – em que se descreve a missão messiânica como um sacrifício propiciatório do pecado – não se vislumbra à evidência que se deve em primeiro lugar restabelecer a paz entre o homem e Deus?

Demais ainda que essencialmente sobrenatural não dá para contestar a paz que o cristianismo leva consigo, uma vez que ela tem também conseqüências temporais e visíveis, que os judeus não poderiam negar. Como explicar sem ela a fortaleza suave e calma (em um sorriso, no mais das vezes) de milhões de mártires cristãos? O ardor com que as maltas de jovens belicosos num átimo se livraram das espadas para arrotear as terras dos monastérios (realização literal do oráculo de Isaias 2, 4)? Que o diga São Bernardo de Claraval que, no séc. XII, conduzira à vida monástica seus irmãos, tios e pai, quase todos devotados ao serviço de armas. Mas o apelido ilustre não deve obnubilar os milhares de jovens que em todas as épocas fizeram o mesmo sacrifício. No tempo de São Bernardo o conde Godefroy de Cappenberg, descendente de Carlos Magno, transformara o castelo em monastério, aplicara as riquezas em prol da fartura dos pobres, consagrara as mãos ao consolo dos leprosos, e passara a vida inteira em obediência perfeita, na companhia de seu irmão Atton (padrinho do imperador Frederico Barba Ruiva) que fizera a profissão monástica junto com ele.

A “conversão” do lobo de Gubbio, obra de São Francisco de Assis, cumprira literalmente a profecia de Isaias 11, 6 (“Habitará o lobo com o cordeiro”). Mas isso foi apenas a ilustração visível do invisível que se passa nas almas. Por exemplo, a alma do ardoroso Francisco de Sales, que empregara a vida inteira para vencer seu temperamento, até que todo o universo o conhecesse como o manso bispo de Genebra.

Nem todos os cristãos tornar-se-ão santos da mesma têmpera. Muitos se conservam maus, infiéis às graças recebidas. Os santos amiúde só se santificam lentamente. Mas a santidade heróica está presente na vida da Igreja como um facho de luz e paz, que neste séc. XX se acendeu no campo de Auschwitz, onde um padre católico, Maximiliano Kolbe (1894-1941), deu a vida voluntariamente para salvar um prisioneiro. Encerrado no bunker da fome, a caridade, a docilidade e o regozijo que lhe radiavam impressionaram até aos sentinelas nazistas. Testemunha o doutor Nicet Wlodarski:

Um oficial, um alemão responsável pelo bunker, [...] qualificou o pe. Kolbe como homem de supina coragem, herói verdadeiramente sobre-humano. Destacava também que a presença e a calma do pe. Kolbe faziam grande impressão aos SS que de quando em vez olhavam para o bunker. Dizia que para os SS era um verdadeiro choque psicológico .

Conta Bruno Borgowiec, utilizado como interprete no bunker:

Quando abri a porta de ferro, não mais vivia; mas me parecia vivo. Era radiosa sua face, de uma forma insólita, olhos arregalados e fixos num ponto. O rosto inteiro estava como em êxtase. Nunca esquecerei tal espetáculo.

E numa outra narrativa:

Seu corpo estava limpíssimo e luminoso. Qualquer um naquela situação ficaria abalado, achando estar diante de um santo. Seu rosto resplendia de serenidade – diferentes dos demais mortos, estendidos sobre o solo, marcados na face pelo sofrimento.

Desqualifique-se a narração das muitas testemunhas judias nos campos de concentração, e imediatamente estará em maus lençóis. Esta serenidade, este regozijo no sofrimento são características dos mártires cristãos.

Donde viria essa paz sobrenatural, senão do Senhor Jesus?

- Até a paz temporal

O cristianismo não confere diretamente a paz temporal, mas esta não lhe é de modo algum estranha. O planeta Terra, que ardia havia séculos em meio aos reencontros de armas e clamores de guerra, parece acalmar-se e recolher-se à aproximação do nascimento do Menino-Deus. Impõe o imperador Augusto a paz universal (tanto no interior do Império quanto nas fronteiras), fechando após a batalha de Actium (31 a.C) as portas do templo da guerra (quase sempre abertas desde a fundação de Roma). O mundo está em paz quando os anjos vieram cantar a norte de Natal: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade. A Igreja Católica será a guardiã dessa paz. Apesar da ruína do Império Romano sob o peso das invasões bárbaras, a Igreja não se deixa arrastar por elas, mas as vence de forma pacífica, modificando pouco a pouco as almas: atrai uns aos monastérios, impõe a outros a “paz de Deus” ou a “trégua de Deus”, e das hordas que deviam soçobrá-la deu origem a diferentes nações da Cristandade.

Nunca pretendeu Jesus estabelecer o paraíso sobre a terra. O joio continuara misturado com a boa semente (Mt 13, 41), não faltando atrocidades mesmo no interior do cristianismo. Mas a prédica constante da caridade, sobretudo o exemplo dos santos deram seus frutos. A Igreja protege o casamento – por conseguinte mulheres e crianças. Sabe resistir aos reis e imperadores quando se levam pela tirania. Suprime a passos lentos a escravidão. Instaura a sociedade cristã que, em meio às misérias terrenas, exibe-se sem sombra de dúvidas mais humana, mais atenta às fraquezas que todas as civilizações pagãs. Sem oferecer diretamente a paz temporal, Jesus Cristo a dá por acréscimo, na proporção em que as nações submetem-se à sua lei.

- Um exemplo

Para encerrar a profecia de Isaias, dedicamos de boa mente ao rabino Simmons o exemplo de um de seus predecessores, assim descrito por Tertuliano:

Paulo, de perseguidor tornou-se apóstolo; o que antes vertia o sangue da Igreja mudou o gládio em estilete e transformou o cutelo em relha de charrua.

4. Quarta tarefa: Um Só Povo

Quarta tarefa do Messias: “Propagar o conhecimento universal do Deus de Israel, que reunirá a humanidade em um só povo”.

As pessoas que sabem distinguir a religião e a política (Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus) dirigem, é claro, essa promessa para a ordem religiosa. Constatam por isso que ela se realizou, pois que a sociedade única – reunindo em si todas as nacionalidades, sem mesclá-las nem confundi-las – espraiou pelo mundo inteiro o conhecimento do Deus único de Israel.

Já os que sonham com o messianismo de fundo temporal interpretam as promessas de unificação mundial sob a perspectiva humana (natural, política, terrena). Concluem, pois, que elas não se cumpriram ainda.

Para decidir entre as duas interpretações concorrentes, é bastante comparar os frutos visíveis de uma e outra, assim como suas lógicas internas.

- Julga-se a árvore pelos frutos

Mais vale um pássaro na mão que dois voando, diz o provérbio. Quando se trata do “um só povo”, a Igreja Católica acumula já uma grande vantagem sobre os judeus: o [povo] da Igreja existe! É indiscutível tal existência, visto que a Igreja possui unidade exterior e universalidade mui discerníveis, reconhecidas até pelos que não têm fé.

Historicamente o cristianismo é a primeira religião universal. Ao passo que cada povo (ou família) tinha suas divindades nacionais, o cristianismo os prostra todos diante do Deus único. Conquistou a terra inteira – em paz, sem violentar ninguém, sofrendo ao contrário longas e sanguinolentas perseguições. A comparação ao islã (que fora a segunda religião universal e, sob certos aspectos, contrafação da primeira) neste mister é esclarecedora. O universalismo cristão é um universalismo de paz (após dois milênios, engendra continuamente o cristianismo frutos de paz – os santos). Quem pode dizer o mesmo do messianismo temporal?

- Os frutos do messianismo temporal

Quais são nos últimos 2000 anos as grandes empresas universalistas inspiradas do messianismo temporal?

- O islã, cujas vítimas ainda se contabilizam;
- As utopias revolucionárias, mormente o comunismo, responsável por mais
de cem milhões de mortes;
- E atualmente a ideologia “planetária” (eliminem-se as fronteiras!), de que podemos duvidar que constitua o caminho da felicidade humana.

Estupor é a única palavra que traduz o sentimento do historiador defronte à força irresistível com que as utopias mortíferas – contrárias ao bom senso mais elementar – se impõem num repente, como a maré montante, à grande parte da humanidade. Até as mais materialistas dentre elas, as ideologias marxistas, parecem animadas de típico fervor religioso, uma como inspiração mística. Retiram todas elas mais ou menos diretamente suas forças da esperança messiânica de Israel, certamente esperança de origem divina, por dínamo de tamanha energia, mas também com certeza deformada, sendo por isso origem de tantos desastres. As loucuras modernas não são tanto “as idéias cristãs tornadas loucas” (Chesterton), mas sim as idéias judaicas: é a esperança messiânica desviada do verdadeiro objeto (a salvação eterna), aplicada à ordem temporal.

O pior é que o messianismo temporal sobrevive aos desastres que provoca. E continuará a provocá-los novamente porque, segundo o rabino Simmons (que neste ponto invoca a autoridade de Maimônides), “cada geração traz no seio um indivíduo capaz de tornar-se o Messias”.

- “Um só povo”, diz o rabino

Depois dos frutos (de paz, por um lado; de morte, por outro), comparemos a lógica interna do universalismo católico com o do messianismo temporal.

A esperança do rabino de “reunir a humanidade num só povo.” conduz a outra questão: o povo judeu está convidado a fundir-se com os demais para formar um único povo? Neste caso como conservariam todas as prerrogativas a que o rabino se mostra tão apegado? Mas se ele se recusa a mesclar-se com outros, que significa esse povo único?

Toca-se aqui na ferida da formidável contradição interna da esperança messiânica dos judeus. Em realidade conveio que o próprio Deus interviesse para resolvê-la, esclarecendo os apóstolos de que a Igreja só poderia abrir-se à humanidade inteira se abandonassem as idiossincrasias judaicas. “Não há mais judeu nem grego [...], sois todos um em Cristo Jesus”, exclama São Paulo, que prossegue: “E se vós sois do Cristo, sois da descendência de Abraão, e herdeiros da promessa” (Ga 3, 28-29). Dito doutra forma os critérios de pertencimento ao povo eleito não são mais raciais (descendência física de Abraão), mas espirituais (incorporação mística em Cristo). Temendo a perda de seu estatuto privilegiado, a sinagoga recusou a promessa. Renegou no mesmo ato a profecia do povo único.

O judaísmo atual lança em rosto da Igreja o fato de esta proclamar-se a “nova Israel”. Vê aí uma pretensão inadmissível. Mas tal “pretensão” manifesta justamente a notável realização da profecia messiânica. Cumpriu-se na Igreja (“nova Israel”) o oráculo de Zacarias:

Jerusalém vai ficar sem muros, por causa da multidão de homens e de animais que haverá no meio dela. Eu mesmo - oráculo do Senhor - serei para ela um muro de fogo que a cercará; serei no meio dela a sua glória. (Zc 2, 8-9).

Comentava Augustin Lémann (convertido ilustre do judaísmo, 1836-1909):

A metáfora indicava que a antiga Jerusalém não passava de figura dum reino totalmente diferente, uma vez que sal extensão não se poderia determinar de maneira humana. Cumprir-se-á na Igreja do Cristo, reino espiritual e universal.

- O paradoxo do universalismo católico

Se o universalismo messiânico judaico é intrinsecamente contraditório (logo, irrealizável), num primeiro olhar o universalismo católico também se avista paradoxal. Mas com a imensa vantagem de ser um paradoxorealizado, um paradoxo vivo. Constitui a Igreja verdadeira sociedade universal (católica = universal, em grego), dotada de sólida unidade de governo, doutrina e culto. Os membros se lhe apegam mais que à pátria terrestre ou mesmo à vida. Entretanto, longe de dissolver as nacionalidades, a Igreja Católica dá origem a muitas. Um teórico nacionalista incréu tem por dever reconhecer que esta sociedade supranacional, longe de prejudicar às nações, é-lhes mui benéfica. Definiram-na mesmo como “a única internacional que vale” (Maurras). É que a Igreja situa-se numa ordem diferente da das nações temporais. Seu desenvolvimento não poderia prejudicar o das demais – que ao contrário aproveitam de sua ação moralizadora.

A quem objete que a Igreja ainda não reuniu toda a humanidade sob suas asas, há-de se dar duas respostas distintas. A primeira, nada impede antes do fim do mundo o triunfo universal da Santa Igreja, que cumpriria totalmente a profecia messiânica (sem todavia estabelecer o paraíso na terra, visto que os homens ainda serão pecadores e a Igreja ameaçada pela tibieza). Até os judeus juntar-se-ão à Igreja nesse momento único. Aquele que recusa tal esperança deve admitir que a Igreja já é uma sociedade universal, desenvolvida por entre todos os povos do mundo, que ela já cumpriu na realidade a profecia do povo único:

“Contemplaram todas as nações da terra a salvação de nosso Deus” (Sl 97, 3; Is 52, 10)

A Resposta Quádrupla do Cristo

Acerca das quatro tarefas que lhe acusam não haver cumprido, Nosso Senhor Jesus Cristo como que as respondeu por antecipação, em quatro sentenças:

1. Quanto à destruição do templo:

Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias (Jo 2, 19).

2. Quanto à reunião definitiva dos judeus na terra de Israel:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quiseste! Eis que vos ficará deserta a vossa casa. Digo-vos, porém, que não me vereis até que venha o dia em que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor! (Lc 13, 35; ver também 19, 41-47).

3. Quanto à instauração da paz universal:

Eu vos deixo a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo (Jo 14, 17)

4. Enfim, quanto à reunião das diversas nações em um só povo:

Ide pois a todas as nações, fazei discípulos e os batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo., Ensinai-as a observar tudo quanto vos ordenei. Eis que estarei convosco até o final do mundo (Conclusão do Evangelho segundo São Mateus.)

II – As qualificações do Messias

Para o rabino Simmons Jesus não só se imiscuiu de agir como Messias, mas deixou de apresentar trêsqualidades indispensáveis a tal personagem – a de profeta, descendente de Davi e fiel observador da lei judaica.

1. Era Jesus Profeta?

O rabino é categórico: Não somente não o era como não poderia ser:

Não era Jesus profeta. Só há profecia em Israel quando esta terra está habitada em sua maioria pelo povo judeu. À época de Ezra, acerca do ano 300 da era comum – quando a maioria dos judeus recusou-se deixar Babilônia para retornar a Israel – encerraram-se as profecias com a morte dos derradeiros profetas - Ageu, Zacarias e Malaquias.

Jesus apareceu no palco da história cerca de 350 anos depois do fim das profecias.

Em vez de definir ou descrever o que é profecia, comparando-a com a figura de Jesus, o rabino enuncia um princípio: a dispersão do povo judeu impedia a profecia. Mas donde vem tal princípio? Ele fora feito sob medida para tentar explicar a estranha ausência de profecias desde a vinda de Jesus Cristo (pois tal ausência constituía-se num argumento fortíssimo a favor de seu messianismo). Anda-se pois em círculos! Em realidade se ocorrera antes da vinda de Jesus uma como cessação das profecias (alguns séculos de silêncio, como para que melhor se preparasse o que haveria de vir), reaparecem brusca e brilhantemente em João Batista, que apontava sem ambigüidades Jesus como o Messias.

É bastante considerar com honestidade a figura de São João Batista – a penitência no deserto, a prédica por sua vez rude e cheia de esperança, os discípulos encantados, as conversões operadas, a oposição defrontada, o testemunho corajoso diante de Herodes, e o martírio – para reconhecer que ele corporifica perfeitamente o tipo dos profetas do Antigo Testamento.

Também Jesus cumprira à perfeição o tipo do profeta (aquele que fala em nome de Deus), notadamente na proclamação do “reino” messiânico. Ele é bem mais que profeta, mas deveriam reconhecê-lo ao menos como tal. Demais anunciara diante de testemunhas fatos bem precisos que os acontecimentos confirmaram de todo. Os Evangelhos difundiram e espalharam a profecia da tomada de Jerusalém mui antes de sua concretização. Ela levou os primeiros cristãos a fugir dessa cidade – seguindo os conselhos do próprio Cristo – quando viram os fatos preditos acontecerem.

Ninguém é profeta em sua terra! Jesus não foi reconhecido pelo seu povo. Mas longe de prejudicar a missão, tal ingratidão acrescentara um traço de conformidade em acréscimo. Sublinhou Nosso Senhor com tristeza:

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas... Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais! (Mt 23, 29-32)

2. Jesus Filho de Davi

Ironiza o rabino:

O Messias deve ser descendente, pelo lado paterno, do rei Davi (ver Gn 49, 10 e Is 11, 1). Ora, segundo a tese dos cristãos, Jesus nasceu duma mulher virgem, logo não tinha pai. Em conseqüência é impossível que pudesse satisfazer às exigências de filiação paternal remontando ao rei Davi!

- Primeira resposta

Em realidade ambos os textos citados pelo rabino (Gn 49, 10 e Is 11, 1) não mencionam filiação paternal.

- Gênese 49, 10 limita-se a indicar a época da vinda do Messias:

Não se apartará o cetro de Judá,
nem o bastão de comando dentre seus pés,
até que venha aquele a quem pertence por direito [o Messias],
e a quem devem obediência os povos.

Como fosse exatamente à época de Cristo que os descendentes de Judá perderam o poder em Israel, não nos vamos demorar por demais nesta profecia, ao contrário dos rabinos...

- Já Is 11, 1 anuncia, é claro, que o Messias descenderá de Jessé (i. é, da família de Davi), mas não indica em lugar algum que será pelo lado paterno:

Um renovo sairá do tronco de Jessé,
e um rebento brotará de suas raízes.
Sobre ele repousará o Espírito do Senhor [...]

O só fato de a Virgem descender de Davi basta a que Jesus seja descendente e também, com todo o rigor da palavra, um “rebento do tronco de Jessé”. Cumpriu-se pois a profecia.

- Segunda resposta

Entretanto objetar-se-ia que a só descendência masculina permitiria a transmissão dos direitos hereditários. Cumpria ir além e notar que São José, apesar de não ser o pai biológico de Jesus Cristo, é o pai legal (oficial). Ora no direito judaico a paternidade adotiva sobrepõe-se à paternidade biológica. Listam os evangelistas não a genealogia da Santa Virgem, mas a de São José, pois esta é a genealogia oficial que interessa. Note-se ademais que São Mateus, que se dirige mais a propósito aos judeus palestinos, privilegia sistematicamente a genealogia legal (ao passo que São Lucas, que escreve para gregos, interessa-se antes pela paternidade real). O nascimento de Jesus em Belém sublinha também a origem davídica de Jesus. Porque Davi é de Belém, José e Maria tiveram de se dirigir a esta cidade, para o recenseamento.

- Terceira resposta

Segundo os profetas o Messias não deveria ser tão-somente o filho de Davi (i. é, seu descendente), mas também seu Senhor. O próprio Jesus citou o salmo em que declara Davi:

Eis o oráculo do Senhor que se dirige a meu senhor [= o Messias]: Assenta-te à minha direita (Sl 109)

Perguntava o Senhor aos fariseus: se Davi o chama de Senhor, como ele é seu filho? Não se compreende a expressão a não ser que, descendendo de Davi, o Messias o preceda de alguma forma; dito de outra forma, que ele não descenda de Davi por todos os ramos. Jesus é filho biológico de Davi por intermédio de sua mãe, filho legal por seu pai legal, mas ao mesmo tempo transcende tal origem, na medida em que é Filho de Deus. Não haveria melhor cumprimento das profecias.

3. Jesus e a Lei Judaica

O terceiro argumento do rabino diz respeito à permanência da lei judaica (a Torá):

O Messias levará o povo judeu à perfeita observância da Torá. Enuncia a Torá que todas as mitswoth (as prescrições da Lei) vigorarão para sempre, e quem queira mudar a Torá será quanto antes identificado como falso profeta (Dt 13, 1-4).

Ora nosso autor acrescenta:

Ao longo do Novo Testamento Jesus vai na contramão da Torá.

É o desconhecimento da célebre sentença de Jesus: “Não acrediteis que vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumpri-la” (Mt 5, 17).

Segundo o rabino só há uma alternativa: obedecer ou desobedecer. Quem não obedece à Lei é revoltado ou impostor. Mas isso é esquecer que tal alternativa só se impõe a quem esteja submetido à lei, não ao legislador. Ora se é verdade que a atitude de Jesus em face da Lei judaica tem algo de surpreendente, jamais ele aparece como um revoltado. Ao contrário nasce a surpresa do contraste entre a humildade com que se prende amiúde à Escritura e, além disso, e a autoridade com que legisla (“Vós aprendestes dos antigos... mas eu vos digo...” Mt 5, 21; 5, 27 etc.).

Legislando Jesus se mostra superior à lei de Moisés. Sob certa perspectiva ele obedece à lei, pois que a ela regulava o modo por que o Messias, o legislador definitivo, devia aperfeiçoá-la. A lei nova não abole a lei antiga, mas a supera e transfigura, cumprindo o que nela estava só em figura. Podemos compará-la à borboleta: ela não mata – nem caça – a lagarta, mas é a mesma lagarta na etapa última e perfeita da existência.

Jesus conduziu os judeus (pelo menos os que quiseram-no seguir) exatamente à “perfeita observância da Torá”: a caridade é o cumprimento da lei, ensina São Paulo (Rm 13, 10). E São Paulo, mui zeloso das tradições de seus pais, descobre que a lei é um meio, não um absoluto. Abrãao recebeu as promessas pela fé – e não pela Lei. Como viesse depois, ela não poderia ser o fundamento da salvação, nem aspirar à última palavra em todas as prescrições materiais (Rm 4 e Ga 3). Destinado a proteger a fé, não dá por si a vida da graça; ela é boa mas, pesada; é ocasião de muitas transgressões, mas por isso mesmo um verdadeiro fardo (Rm 7). Vindo para transfigurá-la age Jesus como verdadeiro libertador.

Os profetas prepararam a transfiguração [da lei]. Quando Jeremias lançava em rosto de Israel serem eles “incircuncisos de coração” (Jr 9, 26) não era a clara indicação de que a circuncisão corporal não era absoluta, mas apenas sinal exterior da necessária purificação do coração? Não dirá outra coisa São Paulo ao afirmar que “não é verdadeiro judeu o que o é exteriormente, nem verdadeira circuncisão a que aparece na carne” (Ro 2, 28).

Como pe. Lémann notava:

Tornado católico o israelita não muda de religião, mas aperfeiçoa a sua, completa-a, coroa-a. O israelita que se torna católico é, por excelência, o homem religioso que desabrocha para a plenitude, como do caule desabrocha a flor.

Aos que perguntavam porque havia renunciado à sinagoga Eugênio Zolli (antigo grão-rabino de Roma) respondia:

Mas eu não a renunciei. O cristianismo é a perfeição da sinagoga. A sinagoga era a promessa e o cristianismo o cumprimento da promessa.

O judaísmo atual assemelha-se à lagarta que, tendo ouvido confidências acerca do vindouro estado alado, recusasse obstinadamente a entrar no casulo. Foi quando lagarta que lhe fizeram as promessas, afirma ela, e não à insolente borboleta, que lhe busca retirar a herança. Moverá céus e terras em favor da “lagarta”. Claro que ela quer voar um dia, esperando com fervor a vinda do Messias que lhe dará asas, mas as quer receber como lagarta, sem perder as patas de lagarta, os costumes de lagarta, a lei de lagarta. E isso já dura 2000 anos.

III – São mal traduzidos os textos proféticos?

Aos olhos do rabino Simmons Jesus não somente não cumpriu as profecias, mas teve grande dificuldade em cumprir as que lhe não eram de dever! Para isso o rabino ataca três profecias célebres, que não passariam de textos mal traduzidos:

1. O nascimento virginal, profecia de Isaias (7, 14)
2. A crucifixão, descrição de Davi (Sl 21);
3. O homem das dores, pregão de Isaias (cap. 53).

Vejamos isso de mais perto.

1. O nascimento virginal, profecia de Isaias (7, 14)

Afirma o rabino Simmons:

A idéia cristã do nascimento virginal teve origem em Isaias 7, 14, em que se diz que uma ‘alma’ engravidou. A palavra hebraica ‘alma’ sempre significou “jovem mulher”, mas os teólogos cristãos, vários séculos depois, traduziram-no por “virgem”.

Simplesmente esquece o rabino que não foram os cristãos que traduziram a Bíblia em grego, mas os próprios judeus, muito antes do nascimento de Jesus Cristo (versão grega, dita a dos Setenta). Ora nesta versão a palavra hebraica ‘almah’ está traduzida não por “a jovem mulher”, mas por “jovem virgem”, é esse termo –parthénos – que São Lucas empregará para designar a Virgem Maria na narração da anunciação).

Somente no séc. II de nossa era, após a vinda de Jesus Cristo, que os autores judeus empenharam-se a dar nova tradução, para confrontá-la ao cristianismo. Teodósio de Éfeso, Áquila do Ponto e Símaco traduziram então ‘almah’ como a jovem mulher.

Se se dispõe a examinar mais de perto o vocábulo hebreu (‘almah), só é possível conhecer-lhe o sentido exato examinando seus diversos usos na Bíblia. Ora a palavra só aparece na Escritura Santa umas quantas vezes. Ela designa meninas adolescentes que, segundo o contexto, são virgens, seja em verdade ou em aparência. Só uma vez designa uma jovem que possivelmente é virgem (não se consegue saber pelo contexto) . Como corolário disso temos:

1. Nada se opõe a que este termo ‘almah’ designe uma jovem virgem (em oposição aos termos na’arâh, que diz respeito a jovens adolescentes sem mais precisar, e betûlah, que diz respeito à uma virgem, sem precisar a idade);

2. É forte a probabilidade para que seja esse o sentido da palavra.

Essa forte probabilidade torna-se certeza ao se constatar que a traduziram a palavra como “virgem” na versão grega, a dos Setenta.

Enfim acrescente-se que um sábio judeu do séc. XIX, o rabino David Drach (1791-1865), demonstrou com riqueza de detalhes como as antigas tradições judaicas confirmam a interpretação cristã desta passagem de Isaias. É o tema da Troisième Lettre d’un rabbin converti aux Israélites ses frères (Roma, 1833) .

Definitivamente a realidade vai de encontro às afirmações do rabino Simmons. Não são os “teólogos cristãos [que], muitos séculos depois, traduziram-na por “virgem”, mas sim os tradutores judeus que, mais de um século após a vinda do Cristo, rejeitaram a tradução até então corrente, para introduzir o termo jovem mulher.

Continua atual o desafio que São Jerônimo lançou aos judeus de seu tempo:

Demonstrem os judeus uma só passagem em que ‘almah’ refira-se tão somente a uma jovem adolescente e não a uma virgem, e então reconheceremos que a palavra de Isaias deve compreender-se não por virgem casta, mas jovem mulher já casada (Contra Jovinianum, I, 32; PL 23, 254).

2. A Crucifixão, profecia de Davi (Salmo 21)

Fala-se aqui salmo 21 (22 no saltério hebreu). Davi aqui entoa o pedido de socorro lançado a Deus por um homem a quem seus inimigos supliciam e, depois, concluindo, a ação de graças quando Deus lhe dá o livramento. Particularmente anunciam os versículos 15-19 a paixão do Cristo:

[...] Derramo-me como água,
todos os meus ossos se desconjuntam;
meu coração tornou-se como cera,
e derrete-se nas minhas entranhas.
Minha garganta está seca qual barro cozido,
pega-se no paladar a minha língua:
vós me reduzistes ao pó da morte.
Sim, rodeia-me uma malta de cães,
cerca-me um bando de malfeitores.
Traspassaram minhas mãos e meus pés:
poderia contar todos os meus ossos.
Eles me olham e me observam com alegria,
repartem entre si as minhas vestes,
e lançam sorte sobre a minha túnica.

Mas o rabino contesta a tradução do versículo “Traspassaram minhas mãos e meus pés”:

Está escrito nos Salmos (22, 17): “Pois que os cães me assediam, a súcia dos perversos está acerca de mim; como o leão (eles fustigam) minhas mãos e meus pés.” O termo hebreu KEARI (“como o leão”) é similar em gramática à palavra “rasgo”. Desta forma interpretou o cristianismo o versículo, como contendo alusão à crucifixão: “Traspassaram minhas mãos e meus pés.”

O astuto rabino se esquece novamente de precisar que a tradução “Traspassaram minhas mãos e meus pés” não é de invenção cristã. Era já assim na tradução grega dos Setenta muito antes do nascimento do Cristo. Ninguém a contestou à época, quando se publicava por toda a parte essa versão dos Setenta (era praticamente a tradução grega oficial da Bíblia, em uma época em que o grego era a língua dominante).

Somente após o nascimento e a difusão do cristianismo que os judeus provaram da necessidade de outra tradução. Prolatando o texto de modo diverso (pois em hebreu, só as consoantes se indicam, e um mesmo texto pode ter várias leituras possíveis) traduziram-no os judeus Áquila e Símaco por “Ataram minhas mãos e meus pés”, o que tinha a vantagem de enfraquecer a remissão à crucifixão, mas guardando o inconveniente de ainda se conseguir aplicá-lo ao Cristo. Na Idade Média os massoretas (sábios judeus que se dedicaram a pôr sobre o papel a vocalização dos textos) preferiram entender “Como o leão minhas mãos e meus pés”. Não fazia muito sentido o texto, mas pretendiam que se subentendesse o verbo “fustigam”, dando assim “Como o leão (eles fustigam) minhas mãos e meus pés”. Eis, como vimos, a solução que adotou o rabino Simmons.

Ainda que logicamente possível, tal leitura apresenta três erros grosseiros:

- Ela requer que se leia como yod a última consoante da palavra (existe uma variante dessa letra nos manuscritos hebreus);
- Resulta em um texto obscuro (ao qual há-de se acrescentar uma palavra de modo a lhe dar um sentido inteligível);
- Enfim, como vimos, não corresponde ao modo como se lia amiúde antes da vinda do Cristo.

Quanto à versão “Traspassaram minhas mãos e meus pés”:

- Justifica-se qual seja a consoante final;
- Apresenta sentido perfeito e claro;
- Corresponde à leitura tradicional dos judeus do Antigo Testamento (como prova a tradução da Septuaginta).

Deve admitir o observador imparcial que a verossimilhança nesta questão não pende para o lado do rabino Simmons.

3. O homem das dores, anúncio de Isaias (cap. 53)

O capítulo 53 de Isaias é uma das culminâncias do Antigo Testamento, não apenas por causa da força emotiva com que anuncia a paixão do Messias, mas sobretudo devido à explanação doutrinal dada.

Antes de discutir a lição, releia-se o capítulo:

Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor? Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados. [Is 53, 1-12]

O rabino Simmons contesta, é claro, e nega que se trate de uma profecia messiânica:

O cristianismo considera que o capítulo 53 de Isaias acerca do “homem das dores” se refere a Jesus. Em realidade constitui o capítulo 53 a seqüência do capítulo 52, o qual descreve o exílio e a redenção do povo judeu. As profecias são escritas no singular porque os Judeus (“Israel”) são considerados como unidade.

A Torá formiga de exemplos em que designam no singular a nação judaica.

Pela terceira vez o rabino Simmons opõe-se à interpretação cristã, e mais ainda, sem o dizer, à de muitos judeus. Muitos deveras hão admitido que esta profecia anunciava o Messias, ainda que depois a submetessem à uma exegese mais que acrobática para eliminar os aspectos que os desagradavam.

Caso significativo é o do targum de Jônatas, que o padre Lagrange oferece como “exemplo típico e até divertido dos disparates que podem acarretar o cuidado de permanecer fiel às palavras de um texto, retirando-se tanto quanto possível de seu espírito”. O capítulo 53 inteiro é interpretado deste modo. Quando diz Isaias que Deus chama para si a iniqüidade do mundo, interpreta-o Jônatas como o Templo (mas o texto não diz palavra!): isso significa que o Templo foi profanado devido aos pecados de Israel. Quando diz o texto que o servo do Senhor não abriu a boca, entende Jônatas: “O seu pedido foi atendido antes que abrisse a boca para rezar”. Em seguida, em vez de tratarem-no como um cordeiro em direção ao matadouro, ele é que conduz os povos à carnificina! E por aí vai. Jônatas interpreta sempre às avessas todas as passagens que indicam o sofrimento do Messias. Mas, conforme a conclusão de pe. Lagrange:

Os que se defrontem com o texto de Isaias possuem um método mais simples que o de Jônatas para fugirem à sua evidência: não por disparates nos detalhes, antes um disparate generalizado que só deixasse ver no servo do Senhor o grupo de justos ou o povo de Israel como um todo. Aos antigos rabinos era mais cara a primeira maneira; desde Raschi, prevaleceu a segunda [...].

Raschi é o nome do rabino de Troyes (1040-1105) que impusera a idéia de que Isaias 53 aplicava-se não ao Cristo, mas ao povo judeu. Oferecera por argumento o fato de a expressão “servo do Senhor” designar o povo de Israel em outras passagens de Isaias.

Mas Isaias designa sem enganos que o “servo do Senhor” descrito nestas passagens é o Servo-Israel, o qual é pecador empedernido (Is 43, 24-28 etc.), punido com as próprias iniqüidades (Is 43, 27-28 etc.), e cego às obras de Deus (Is 42, 19-20).

Ao contrário, Isaias 53 apresenta o “homem das dores” como isento de toda culpa, obediente à estrita vontade Deus, levando consigo os pecados alheios. Não é possível com isso designar o povo de Israel, pois que aquele homem foi esmagado por causa dos pecados do povo.

Tudo estava claro o bastante para que, durante séculos, ninguém tivesse dúvidas: somente após a vinda de Jesus Cristo, remeteram – contra Jesus – o texto de Isaias 53 ao povo judeu. Hoje em dia querem ver nisso a predição do que os judeus apelidaram de “Shoah”. Todavia, em plena Segunda Guerra Mundial, o grão-rabino de Roma, cuidadoso em proteger seu pequeno rebanho de judeus, cada vez que lia o capítulo de Isaias referia-se sem cessar ao Messias, e não a seu povo. Durante sua infância na Ucrânia, avistara ele de uma feita na casa de seu colega um crucifixo, imagem que não lhe saía da cabeça cada vez que lia o cântico do homem das dores. Convertido após ao cristianismo, Israel Zolli (eis seu nome) contara como o texto de Isaias ajudara-o na sua trilha até ao Cristo Jesus. ................................................................................................................ .................................................................................................................
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domingo, 16 de agosto de 2015

AVIVAMENTO PENTECOSTAL

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Movimento Pentecostal da Assembleia de Deus



O início do avivamento

2 O avivamento varria partes da Europa, em especial no País de Gales. Nos EUA, o mesmo avivamento ocorria em Minnesota, Carolina Norte e Texas.

3 Em 1891 Daniel Awrey falou em outras línguas em Delaware (Ohio-EUA). Sua esposa teve a mesma experiência em 1899, em Beniah (Tennessee).

4 Os registros de batismo no Espírito Santo ocorreram desde os apóstolos e percorreram por toda a História da Igreja, envolvendo homens e mulheres cristãs.

5 Em 1º janeiro de 1901, antes do Avivamento em Los Angeles, a jovem Agnes Ozman recebeu o batismo no Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, em Topeka (Kansas, EUA).

6 Depois de estudarem a Palavra sobre o batismo no Espírito Santo e horas em oração, diversos alunos do curso de Teologia experimentaram a glossolalia (falar em outras línguas).

7 Agnes Ozman é considerada a primeira pessoa a receber a experiência. Depois vários outros alunos e o próprio professor do curso, Charles Fox Parham também foram selados.

8 Em 1905, o garçom Willian Seymour, afro-descendente e filho de ex-escravos de Louisiana, que andava à busca de melhores condições, viajou para Houston (Texas), à procura de trabalho e parentes.

9 Após converter-se passou a pregar a Palavra, tempo em que contrair varíola, doença que o deixou com o rosto desfigurado e cego de um olho.

10 Seymour ‘frequentava’ as aulas de Parham, sobre ensino do batismo do Espírito Santo, mas ficava do lado de fora da sala de aula, próximo à entrada, pois era afro-descendente e, portando, impedido de entrar, em função da segregação étnica, existente na época nos EUA. Seymour chega a Los Angeles

11 Em 22 de fevereiro de 1906, Willian Seymour chega a Los Angeles e passa a pregar sobre regeneração, santificação, cura pela fé e batismo no Espírito Santo.



12 Seymour e um grupo permaneceram em cultos na casa do casal Ruth-Richard Asbery na Rua Bonnie Brae, 214, em Los Angeles (foto-2)

13 Em 9 de abril de 1906, Edward Lee recebe o batismo e depois Jennie Moore, que depois casou-se com Seymour.

14 Em 12 de abril de 1906, às 4h da madrugada, o afro-descendente Willian Seymour recebe o batismo no Espírito Santo.

15 Em 19 de abril de 1906, nasce a então igreja Missão da Fé Apostólica, instalada à Rua Bonnie Brae, 214, na casa do casal Ruth-Richard. A liturgia era composta de leitura bíblica, cânticos e muita oração, praticamente o dia todo.



16 A casa na Rua Bonnie Brae – hoje transformada em um museu, com muitas peças da época (foto) – fica pequena e a igreja aluga um templo abandonado, onde antes abrigava uma igreja tradicional e que fora transformado em um estábulo, à Rua Azusa, 312 (Rua Azusa, abaixo), também em Los Angeles. Depois de muito trabalho para limpar o local, os cultos passaram a ser realizados lá. Alguns utensílios que restaram do local, como caixotes, foram usados como peças de apoio para o culto. Começa a corrida para Los Angeles

17 A ação do Espírito Santo atrai cristãos do mundo todo. Eles seguem para Los Angeles em busca da nova experiência. A atuação do Espírito, conforme Atos 2.1-8: “E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?”, se espalha pelo mundo.



Gunnar Vingren

18 Gunnar Vingren nascera a 8 de agosto de 1897, na cidade de Ostra Husby, Suécia. Foi jardineiro como seu pai até os 19 anos.

19 De lar cristão, aos 18 anos, Vingren ocupa o lugar de seu pai na Escola Dominical, quando o Senhor fala-lhe claramente que seria missionário.

20 No ano de 1903, Gunnar Vingren, membro da Igreja Batista, viaja para os Estados Unidos e começa a estudar no Seminário Teológico Batista em Chicago.

21 Em 1909, Gunnar Vingren estava cheio de vontade de buscar o batismo no Espírito Santo. Passou a pregar sobre o assunto em sua igreja, mas teve rejeição.

22 Gunnar Vingren muda-se então para South Bend, Indiana. A igreja torna-se pentecostal com 20 batizados no Espírito Santo já no primeiro verão.

Daniel Berg

23 Daniel Högberg, conhecido como Daniel Berg, nasceu a 19 de abril de 1884, em Vargon, Suécia, filho de Fredrika-Gustav Verner Högberg, membros da Igreja Batista.

24 Aos 17 anos, no dia 5 de março de 1902, Daniel Berg de lar genuinamente cristão, muda-se para os Estados Unidos em busca de melhores condições, pois a Suécia passava por crise econômica. Anos após ele volta à Suécia.

25 Em 1909, quando viajou para a Suécia Daniel Berg ouve sobre o batismo no Espírito Santo e quando volta para os EUA, ainda no caminho, recebe o revestimento de poder, outorgado pelo Espírito Santo, por meio do batismo espiritual.

26 Atraído pelo Avivamento de Chicago, o jovem Gunnar Vingren creu e foi batizado no Espírito Santo.

Os dois jovens se encontram

27 Em pleno ano de 1909, em conferência de igrejas batistas em Chicago, os jovens Gunnar e Daniel Berg, também batistas, se conhecem.

28 Daniel Berg e Gunnar Vingren chamados pelo Senhor têm como indicação do Espírito Santo, por meio de um terceiro, o nome ‘Pará’. Sem saber o que propriamente indicava, eles procuram informações sobre a indicação e descobrem que se trata do Estado brasileiro ao norte do país. De Nova Iorque eles conseguem a oferta de US$ 90 e rumam ao Brasil.

29 No ano seguinte, em 1910, no dia 5 de novembro, Daniel Berg e Vingren partem de Nova Iorque no Navio Clement. Durante a viagem na terceira classe, eles falam de Jesus aos passageiros e tripulação; distribuem folhetos e ganham um tripulante para Jesus.

30 No dia 19 de novembro de 1910, Daniel Berg e Gunnar Vingren chegam a Belém, capital do Pará. Estavam totalmente sem bens, quase sem dinheiro, sem conhecerem a língua portuguesa e sem amigos.

31 Nessa época, Belém tinha 250 mil habitantes e uma economia em alta por causa dos reflexos da riqueza do Ciclo da Borracha (cf Judson Canto). Mas a prosperidade dura mais dois anos somente.

32 Em 1910, quando chegaram Gunnar Vingren tinha 23 anos e Daniel Berg, 26. Os dois jovens obreiros solteiros sentam na praça local e oram ao Senhor.

33 Até então Daniel Berg e Gunnar Vingren estavam ligados à Igreja Batista. Eles descobriram um nome conhecido em propaganda em um jornal de Belém. Era o pastor metodista Justus Nelson. Fizeram contato e o pastor acompanhou-os à igreja batista local.

34 Apresentados ao responsável pela igreja, Raimundo Nobre, os missionários passaram a congregar e a morar nas dependências do templo, no porão.

35 Enquanto Gunnar Vingren estudava a língua portuguesa, Daniel Berg trabalhava como caldeireiro e fundidor na Companhia Port of Pará, profissão que aprendera quando trabalhou nos EUA.

36 No dia 8 de junho de 1911, à 1h da madrugada, à Rua Siqueira Mendes, 67, a irmã Celina de Albuquerque recebeu o batismo no Espírito Santo. Foi a primeira cristã brasileira, membro da Igreja Batista, a receber a Promessa gloriosa do Senhor.

37 Amanhece e irmã Maria Nazaré vai à casa de José Batista de Carvalho, à Avenida São Jerônimo, 224, falar do batismo de Celina Albuquerque. 38-41 Os primeiros batismos no Espírito Santo, conforme registros na própria agenda de Gunnar Vingren foram os seguintes:

1) Dia 8 de junho de 1911: Celina Albuquerque, à 1h da madrugada;

2) às 22h do mesmo dia, a irmã Maria Nazaré, também fora batizada;

3) No dia 18, às 16h, Ana Silva;

4) dia 1 de novembro, às 10h, foi a vez de Sâncrita Oliveira;

5) irmão Mitoso, recebe o batismo no dia 26 de janeiro de 1912, às 10h;

6) irmã Clothilde recebe a Promessa no dia 19 de março de 1912, às 19h;

7) Manoel Dubu é batizado no dia 13 de abril do mesmo anos, 4h da madrugada;

8) Benvinda Oliveira recebe o revestimento de poder no dia 17 de abril de 1912, às 15h;

9) às 11h do dia 23 de abril de 1912, foi a vez de Emélia Dubu;

10) Guinóca recebe o batismo no Espírito Santo, um ano depois de Celine Albuquerque, justamente no dia 5 de junho 1912, às 22h.

Separados pela ação do Espírito

42 Dia 10 de junho de 1911, a ação do Espírito Santo já era realidade na Igreja Batista, mas a rejeição iniciara e irmã Celina, que trabalhava na igreja como professora de Escola Dominical, não mais teve oportunidade.

43 No dia 12 de junho de 1911, o dirigente Raimundo Nobre, que ainda estudava para tornar-se evangelista, convocou reunião extraordinária da igreja.

44 Mesmo com minoria, Raimundo Nobre propôs a exclusão da maioria, os adeptos da Boa-Nova do Espírito. Neste mesmo dia, com ousadia, o irmão português e abastado, Manoel Rodrigues, de forma ousada leu Atos 2.39.

45-47 Mas a exclusão fora aprovada pelo pequeno grupo de batistas, que se transformaria hoje em uma das maiores denominações cristãs no mundo, caso aceitassem a atualidade dos dons espirituais. Naquele dia, tiveram de sair os irmãos:

1) Celina e seu marido Henrique de Albuquerque; Maria Nazaré; José Plácido da Costa, sua esposa Piedade Prazeres da Costa; Manoel Maria Rodrigues e esposa Gerusa Rodrigues; Emília Dias Rodrigues; Manoel Dias Rodrigues; João Domingues; Joaquim Silva; Benvinda Silva, Teresa Silva de Jesus e Isabel Silva; José Batista de Carvalho e esposa Maria José de Carvalho; 17) Antônio Mendes Garcia. 48 Dez dias depois, o pequeno grupo convidou os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren para implantarem a denominação pentecostal.

18 de junho de 1911

49 Foi então que no dia 18 DE JUNHO DE 1911, à Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, deu-se início ao Movimento Apostólico da Fé, com 17 pessoas, que 7 anos depois, mudaria o nome para Igreja Evangélica Assembleia de Deus.

50 Cheios do poder do Espírito Santo todos tinham como base de pregação a Salvação, a Cura Divina, o batismo no Espírito Santo e a Volta de Jesus.

51 Após receberam muitas críticas, o jornal A Folha do Norte, que também criticou a igreja, publicou a seguinte declaração de um repórter: “Nunca vi uma reunião tão cheia de fé, fervor, sinceridade e alegria entre os crentes”.

52 Gunnar Vingren tornou-se o pastor da igreja, enquanto Daniel Berg atuava como colportor a vender Bíblias importadas dos Estados Unidos, pois no Brasil não havia Bíblias em português. Ele aproveitava as visitas de casa em casa e testificava das Boas-Novas do Senhor Jesus.

53 Os dois obreiros, Daniel Berg e Gunnar Vingren, além de jovens, eram solteiros.

54 Berg rumou para Bragança, interior do Pará, na rota ferroviária Belém-Bragança, por onde enfrentava os dois maiores inimigos da obra do Senhor: 1) o analfabetismo e 2) o catolicismo romano.

55 Os padres, como autoridades reconhecidas por toda parte, muitas vezes, decidiam o que deveria ser feito na cidade e então impunham a perseguição com truculência e sem piedade. Eles também advertiam os moradores quanto à pregação de Daniel Berg e impunham temor quanto à leitura bíblica, pois a Igreja Católica Romana proibia seu manuseio e leitura.

56 Em pouco tempo, vinte igrejas se formaram entre Belém e Bragança. Berg ia de porta em porta, falando de Jesus e orando pelos enfermos.

57 Em dezembro de 1913, Gunnar Vingrem recebe a seguinte profecia, anotada em uma de suas agendas: “Meu filho, te humilha. Tu tens de passar grandes provações. O meu sangue tem poder para te guardar…”.

58 Após incidentes enfrentados em pequenos barcos, os pioneiros compram um grande barco, movido a velas, com ajuda financeira da igreja em Belém – o Barco Boas-Novas.

59 Dentre os sinais da manifestação divina, uma família se converte em pleno velório. Daniel Berg lê a Palavra sobre a ressurreição e pai e filhos, ao lado do corpo da mãe, se convertem e, depois, tornam-se anunciadores do Evangelho de Cristo.

Novos rumos

60 Em 1914, um grupo composto por crentes brancos, ligado à então Igreja de Deus em Cristo, forma a Assembleia de Deus, enquanto aquela passou a ter o domínio total de afro-descendentes, em função da saída dos brancos.

61 No ano de 1914, a mensagem do Evangelho chega ao Ceará por meio da cearense e pioneira Maria de Nazaré, a segunda pessoa a ser batizada no Espírito Santo.

62 No dia 25 de outubro de 1914, chegam ao Brasil outros missionários suecos: o casal Adina-Otto Nelson.

63 Em 1914, Gunnar Vingren e Otto Nelson levam a mensagem ao Estado de Alagoas e no mesmo ano, Manoel Francisco Dubu anuncia o Evangelho no Estado da Paraíba.

64 Em 1915, Cordolino Teixeira Bastos leva o Evangelho da Salvação em Cristo para Roraima e, um ano depois, Adriano Nobre leva a Palavra a Pernambuco.

65 Em 1917, o Evangelho chega ao Amazonas, por meio de Severino Moreno de Araujo e, no ano seguinte, Adriano Nobre prega a Palavra no Rio Grande do Norte.

66 Nos anos seguintes, o Evangelho é anunciado nos seguintes Estados:

– Maranhão em 1921, por Clímaco Bueno Aza;

– Espírito Santo em 1922, por Galdino Sobrinho e sua mulher;

– Rondônia em 1922, pelo missionário Paul John Aenis;

– Rio de Janeiro em1923, por crentes provenientes do Pará;

– São Paulo em 1923, por meio de crentes do Pernambuco;

– Rio Grande do Sul em 1934, pelo missionário Gustav Nordlund;

– Bahia em 1926, através de Joaquina de Souza Carvalho;

– Piauí em 1927, por Raimundo Pereira de Almeida;

– Minas Gerais em 1927, por Clímaco Bueno;

– Sergipe em 1927, por meio de Sargento Armínio;

– Paraná em 1928, por Bruno Skolimowisk;

– Santa Catarina em 1931, André Bernardino da Silva leva a Palavra;

– Acre em 1932, por meio de Manoel Pirabas;

– Goiás em 1936, por Antônio Moreira e outros crentes;

– Mato Grosso em 1944, pregado por Eduardo Pablo Joerck;

– Mato Grosso do Sul em 1944, por Juvenal R. de Andrade (época um único Estado);

– Distrito Federal em 1956, por obreiros de Mudureira.

71 Nos primeiros 4 anos, a igreja em Belém do Pará contava com 384 pessoas batizadas nas águas (membros) e 276 batizadas no Espírito Santo.

72 Após 5 anos no Brasil, Gunnar Vingren resolve ir à Suécia testificar das maravilhas ocorridas no Brasil, quando conhece a enfermeira Frida Strandberg (Frida Vingren). Logo depois, viajem para o Brasil e se casam no Pará.

73 No ano de 1915 chegam ao Brasil os missionários suecos Lina-Samuel Nyström. Ele foi um respeitado ensinador da Palavra e formou dupla com o homem de reconhecida liderança Nels Nelson. Além de grande estatura, os dois passaram a estabelecer a doutrina da Igreja entre os assembleianos. Nyström era contrário à mulher ocupar o púlpito para ensinar, quando então, entrou em choque com o pioneiro Gunnar Vingren, pois sua esposa Frida, pregava, escrevia textos nos jornais, ensinava nas escolas bíblicas e dirigia cultos na ausência do marido, embora não detivesse nenhum título ministerial. No Rio, por exemplo, quando Vingren viajava, ela dirigia os cultos, auxiliada pelo então evangelista, saudoso pastor Paulo Leivas Macalão, fundador do Ministério Madureira, com matriz em Madureira (daí o nome), no Grande Rio. Hoje o ministério e a citada igreja são liderados pelo pastor Abner Ferreira.

74 Em 1917 fora fundado o primeiro jornal pentecostal A Voz da Verdade, que circulou por apenas 3 meses. Deu lugar ao Boa Semente, com circulação iniciada a partir de janeiro de 1919. Igreja recebe o nome de Assembleia de Deus

75 Só então no ano de 1918, a igreja no Brasil passa a denominar-se Igreja Evangélica Assembleia de Deus.

76 Dia 18 de janeiro de 1919, passa a circular o jornal Boa Semente, o primeiro órgão das Assembleias de Deus no Brasil, editado em Belém do Pará. Saiu de circulação em 1930, quando entra em circulação o atual Mensageiro da Paz.

77 Em 1920, Daniel Berg visita a Suécia quando conhece a jovem Sara com quem se casa em julho do mesmo ano. Em 1921 o casal retorna ao Brasil.

78 No ano de 1921 chega ao Brasil o sueco Nels Nelson, aos 26 anos de idade e solteiro. Considerado notável líder e único estrangeiro a naturalizar-se brasileiro. Seu filho Samuel Nelson mora no Pará e sua filha Ester, no Rio de Janeiro.

79 Em 1921, a igreja Assembleia de Deus passa a contar com o seu primeiro Hinário: o Cantor Pentecostal, composto de 44 hinos e 10 corinhos.

80 No ano de 1922, lançada por Adriano Nobre, a 1ª edição do hinário Harpa Cristã, que contava com 300 hinos. Inicialmente este hinário era confeccionado de forma artesanal.

Pioneiros não param

81 Em 1922 Daniel Berg segue para Vitória (ES) onde implanta a AD e permanece no Espírito Santo até 1924 e, depois, segue para Santos.

82 No ano de 1924, Rio de Janeiro, Gunnar Vingren muda definitivamente para a capital ao país, onde também atua como editor do jornal Mensageiro da Paz.

83 No Rio de Janeiro, quando Gunnar Vingren viajava, sua esposa Frida dirigia os cultos, auxiliada pelo então evangelista, saudoso Paulo Leivas Macalão, fundador do Ministério Madureira. Por determinado tempo da história da AD, Paulo Macalão (Rio) e Cícero Canuto de Lima (São Paulo), constituíram-se em liderança da igreja no Brasil, sempre em comum acordo e respeito mútuo.

84 Dia 5 de maio de 1924, início da AD em Santos, por meio de Hermínia-Vicente Lameira e Manoel Garcês e sua esposa, provenientes de Recife.

85 Em 1927, totalmente pela fé, o casal de missionários-pioneiros Sara-Daniel Berg e seu bandolim, muda-se para São Paulo. Sara confeccionava docinhos enquanto Daniel os vendia na rua. Foi a forma encontrada para a sobrevivência do casal.

86 15 de novembro de 1927, início da AD na capital paulista, com a cooperação do casal de missionários Linnea-Simon Lundgren, provenientes de Santos (SP). Saudoso missionário Simon, deixou uma linda história de sua atividade ministerial no país. Atualmente seu filho, pastor ‘João’ Lundgren figura como o único filho de missionário-pioneiro a presidir igreja. Ele é líder da AD em Caxias do Sul (RS) e tem como vice, o seu genro, o carismático amigo-pastor, Daniel Regis Cavalcante.

87 No dia 4 de março de 1928, três pessoas são batizadas na águas em São Paulo e no mês de abril, a matriz da AD paulista passou para a Avenida Celso Garcia, 1.209. Início da CGADB

88 Nos dias 17 e 18 de fevereiro de 1929, dá-se início à Convenção Geral das Assembleias de Deus com uma reunião preliminar em Natal, no Rio Grande do Norte.

89 De 5 a 10 setembro de 1930, em Natal (RN) ocorre a primeira Convenção Geral das Assembleias de Deus e a transmissão da liderança das ADs no Brasil, dos missionários suecos para os obreiros brasileiros.

90 Ainda em Natal, em 1930, a Convenção Geral decide pela paralisação dos jornaisBoa Semente e Som Alegre, que circulavam no Pará e no Rio de Janeiro, respectivamente. Passa a circular como órgão oficial o jornal tablóide Mensageiro da Paz.

91 Junho de 1931, Gunnar Vingren lança no Rio, o hinário Saltério (Psaltério)Pentecostal, com 220 hinos. 92 Em 1932 ocorre a primeiro dissidência com a formação da Igreja de Cristo no Brasil, que no início teve o nome de Assembleia de Cristo no Brasil, nome mantido até 1937. Eles tinham hinos com ritmo próprio do Nordeste e um dos principais motivos da separação foi sobre interpretação do batismo no Espírito Santo.

93 Dia 15 de agosto 1932, Gunnar Vingren e família despedem-se da igreja no Rio de Janeiro e do Brasil e voltam à Suécia. A obra de suas mãos já estava completada.

94 No dia 29 de junho 1933, 22 anos após o início das Assembleias de Deus no Brasil e no mesmo mês, já doente e bastante debilitado, o pioneiro Gunnar Vingren, fora chamado à Glória, quando já estava na Suécia.

95 No ano de 1937 ocorrem os primeiros passos para a organização da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).

96 Em março de 1940, o Governo Getúlio Vargas exige que todos os órgãos de imprensa sejam registrados. Com a necessidade de registro o jornal Mensageiro da Paz, passou a constituir-se pessoa física e daí nasce a Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

98 Ano de 1946: A CPAD passa a pertencer à Convenção Geral e dá-se início a campanha para aquisição de uma propriedade para a gráfica do Mensageiro da Paz. O jornal inicialmente fora registrado em nome do pastor Silvio Brito, irmão de Zélia de Brito Macalão, esposa do pastor Paulo Leivas Macalão. Leivas era filho do general João Maria Macalão.

98 Em 1956 foi lançada A Seara, primeira revista evangélica do Brasil, idealizada pelos pastores Augusto Costa, que foi chefe da Gráfica da CPAD e do saudoso literato Joanyr de Oliveira.

99 1958 outubro: O casal de missionários Ruth Dorris-João Kolenda Lemos fundam o Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (Ibad), em Pindamonhangaba (SP).

100 Em 1963, Daniel Berg foi hospitalizado na Suécia e, mesmo no hospital, permanecia a evangelizar por meio da distribuição de folhetos e oração. A enfermeira tentou inutilmente impedi-lo, mas acabou desistindo e permitindo sua atuação, pois se sentia melhor com isso. Por fim, partiu para a Glória 1963, aos 79 anos de idade.


O avivamento

nos dias atuais

Atos 2: 1-23; 37-47

O derramamento do Espírito Santo
foi profetizado por Joel (2: 28-29) séculos antes do nascimento da Igreja. No dia
de Pentecostes, o Senhor cumpriu
sua promessa.

Quando os cristãos estavam em Jerusalém, orando, todos foram cheios do Espírito, At 1: 4. O apóstolo Pedro esclareceu que se tratava do cumprimento
de uma profecia, At 2: 16-18.


"Vede entre as nações e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos: porque realizo em vossos dias uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada”, Hc 1: 5.




Mas, será que esse derramar do Espírito era só para os cristãos do primeiro século? Não. O apóstolo Pedro diz que a bênção é “para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”, At 2: 39. A bênção do Espírito Santo é, portanto, para os nossos dias.

I - GRANDES AVIVAMENTOS

O profeta Joel (2: 23) fala em chuva temporã e em chuva serôdia. A temporã foi a que caiu no Pentecostes, trazendo batismo com o Espírito, línguas estranhas, sinais, prodígios e a pregação do dia do Senhor, At 2: 16-21.

Em nossos dias, Deus está derramando a chuva serôdia, Tg 5: 7, a última chuva do Espírito Santo sobre a vida da igreja para que haja colheita abundante. O Senhor espera frutos.

Veja o que Deus tem feito nos últimos séculos, reavivando sua Igreja.

a) O grande avivamento. Aconteceu nos Estados Unidos. Começou em 1734. Havia uma consciência da necessidade de alcançar os não-crentes e fortalecer os já convertidos.

Jonathan Edwards (1703-1758), com sua simplicidade de vida e muita oração, exerceu grande impacto sobre as pessoas. George Whitefield (1714-1770) foi outro grande avivalista desse período.

O resultado do trabalho desses homens foi milhares de conversões e o nascimento de muitas igrejas. Na Nova Inglaterra (EUA), numa população de 300 mil pessoas, houve entre 30 e 40 mil conversões. Houve fortalecimento moral nos lares, fundação de cursos teológicos e de obras sociais.

b) O avivamento na Europa iniciou-se após a metade
do século XVII.

Em 1670, na Alemanha, o pastor Philip Spener organizou reuniões para estudo bíblico e oração nas casas. Surgiram obras sociais e um novo vigor espiritual veio sobre a igreja luterana. Fundaram-se campos missionários.

O avivamento dos Morávios iniciou-se em 1727. Começaram a buscar ao Senhor em oração e, de repente, houve um derramar do Espírito sobre a igreja. Havia choro, quebrantamento e manifestações até entre crianças. Os morávios iniciaram um ministério de oração contínua que durou mais de 100 anos.

Na Inglaterra, João Wesley foi o instrumento de Deus para mudar a história da igreja. Homem de oração, deu ênfase ao estudo bíblico. Opôs-se ao álcool, à guerra, à escravidão. Houve muitas conversões.

c) No século XIX, alguns homens foram instrumentos de Deus para liderar grandes avivamentos:

Charles G. Finney foi poderoso na Palavra, na oração e no testemunho. Viveu nos Estados Unidos. Sob a influência de sua pregação, igrejas foram renovadas, nasceram novas comunidades, pessoas deixaram vícios, etc.

Charles H. Spurgeon (1834-1892) foi professor de crianças na EBD e viu muitos pais se converterem com o testemunho dos filhos. Spurgeon foi poderoso na pregação. Sinais e prodígios eram comuns em suas reuniões. Esse avivamento iniciou-se na Inglaterra e alcançou outros países.

Dwight L. Moody viveu de 1837 a 1899, nos Estados Unidos da América. Calcula-se que cerca de 500 mil pessoas entregaram-se a Cristo por seu intermédio. Dedicou-se à EBD. Começou com 12 crianças e, em poucos anos, esse número chegou a 12 mil.


II - MARCAS DO VERDADEIRO AVIVAMENTO

O avivamento autêntico tem algumas peculiaridades. Sua característica não é o emocionalismo, o barulho. O livro de Atos descreve uma igreja que vive sob o mover do Espírito Santo. Leia Atos 2: 47-52.

Perseverança na Palavra. Todo avivamento autêntico está centrado em Cristo e em sua Palavra. O surgimento de doutrinas antibíblicas é um sinal de que não há pureza no movimento;

Perseverança na comunhão. Uma igreja avivada pelo Espírito do Senhor vive como um corpo bem ajustado, 1 Co 12: 12. O Espírito gera unidade, Jo 17: 21. As discórdias e facções são obra da carne, Gl 5: 19-21;

Firmeza na oração. Sem oração não há avivamento. É a comunhão com Deus que desencadeia todo o processo de renovação espiritual.

Dedicação a missões. Não existe avivamento autêntico se a igreja não está fazendo missões. De acordo com At 1: 8, o poder do Espírito habilita o crente para pregar o evangelho, para ser testemunha.

A ação social. É interessante observar que todos os avivamentos trouxeram consigo a ação social. Fundação de orfanatos, preocupação com idosos, com os marginalizados. Isso é bíblico. Veja At 9: 36.


III. O AVIVAMENTO EM NOSSO SÉCULO

a) Nos Estados Unidos. As primeiras manifestações pentecostais no período moderno deram-se em 1900, nos Estados Unidos. A Rua Azuza, 312, em Los Angeles, E.U.A., era um dos mais famosos endereços da história pentecostal moderna.

Ali houve grande despertamento espiritual. Surgiram alguns missionários impelidos pelo despertamento espiritual do começo do século. Entre eles estavam: Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores da obra pentecostal no Brasil em 1910, que deu origem à Assembléia de Deus.

b) Avivamento espiritual no Brasil. Durante a década de 60, várias igrejas batistas, congregacionais, metodistas e presbiterianas experimentaram um reavivamento espiritual. Como consequência desse movimento surgiram novas denominações sob a bandeira da renovação espiritual.




Quando falamos em Pentecostalismo,


referimo-nos a um fenômeno característico


do século XX: o avivamento que aflorou


em Los Angeles, USA, em 1906.






Analisando a História da Igreja, podemos observar nitidamente que Deus sempre avivou ou reavivou sua Igreja em várias ocasiões diferentes. Esses períodos da Era Cristã foram marcados por reavivamentos maravilhosos, onde Deus se manifestou aos seus servos de forma sobrenatural.




No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou homens como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII, ocorreu o Avivamento Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande Reavivamento na Inglaterra com John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield e o Reavivamento Americano com Jonathan Edwards. Nenhum destes avivamentos foi conhecido como Pentecostal, pois o termo é do início do século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos da América, semelhante à manifestação de Atos dois.¹


Conceito de avivamento espiritual


A palavra “Avivamento” vem do verbo “avivar” que significa: tornar mais vivo, despertar, reanimar-se e vivificar-se. John Stott conceitua avivamento como: “... uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela”.2 Devemos compreender que Avivamento é o cumprimento da Promessa de Deus em Joel 2 e a resposta da oração, inspirada pelo Espírito Santo, do profeta Habacuque que dizia: “Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos”.3

Avivamento é, acima de tudo, a manifestação de Deus no meio do povo, através do Espírito Santo, com a finalidade de renovar, reavivar e despertar a Igreja sonolenta e acomodada. O movimento Pentecostal é fruto de um Avivamento genuíno que ocorreu na América do Norte, no início do século passado, e que se espalhou por todo mundo, inclusive no Brasil.

Origens do Pentecostalismo

Tradicionalmente, reconhece-se o começo do movimento Pentecostal com o Avivamento ocorrido em 1906, em Los Angeles (EUA), na Rua Azusa, caracterizado pelo batismo com o Espírito Santo, evidenciado pelos dons do Espírito: línguas estranhas, curas, profecias, interpretação de línguas, etc. O Avivamento na Rua Azusa, rapidamente cresceu alcançando outros lugares e pessoas de várias partes do mundo que foram até lá para conhecer, de perto, o movimento.4

Algum tempo depois, vários grupos semelhantes foram formados em muitos lugares dos USA, mas com o rápido crescimento do movimento, o nível de organização também cresceu até o grupo denominar-se Missão da Fé Apostólica da Rua Azusa. A partir desse movimento, houve um despertamento espiritual e nasceu um fervor missionário por parte daqueles que iam sendo avivados.

Pentecostalismo no Brasil

No Brasil, o Pentecostalismo chegou em 1910 e 1911 com a vinda de missionários que tinham sido avivados na América do Norte. O primeiro deles foi o presbiteriano Louis Francescon,5 que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do Brasil6 e resultou no nascimento da Congregação Cristã no Brasil. Logo depois, chegaram os batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren7 que vieram como missionários para Belém, PA,8 e, ali, iniciaram a Igreja Assembleia de Deus, em 1911.9

Devemos entender que o Pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo em razão de suas diferenças internas. O sociólogo Ricardo Mariano10 classifica-o em três vertentes:

Pentecostalismo Clássico

Deuteropentecostalismo e

Neopentecostalismo.11

Vejamos cada uma delas.

Pentecostalismo clássico

A primeira vertente do Pentecostalismo reproduziu no Brasil uma tipologia Norte-Americana e é chamada de “Pentecostalismo Clássico”, que abrange o período de 1910 a 1950. Esse é o período de fundação e “domínio” Pentecostal dessas duas denominações: a Congregação Cristã no Brasil e a Igreja Assembleia de Deus, que se difundiram em todo território nacional. Ambas caracterizavam-se pelo anticatolicismo, ênfase na crença no Espírito Santo, sectarismo radical, principalmente a primeira, e por um ascetismo que rejeitava os valores do mundo e defendia a plenitude da vida moral. Essa vertente constitui a maior Igreja Evangélica brasileira representada pela Assembleia de Deus atualmente.

Deuteropentecostalismo

A segunda vertente é chamada de “Deuteropentecostalismo” 12vindo através da Igreja do Evangelho Quadrangular, 13 em 1951, com o missionário Harold Willians.14 Na capital paulista, ele criou a Cruzada Nacional de Evangelização e percorreu quase todos estados brasileiros. Seu trabalho era centrado na cura divina e na evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do Pentecostalismo no Brasil.15Paralelamente, surgem duas Igrejas Pentecostais16 autônomas: “O Brasil para Cristo” (1955) e a “Igreja Deus é Amor” (1962), fundadas pelos missionários Manoel de Melo e David Miranda, respectivamente.


Nas décadas de 60 e 70, houve um movimento de avivamento com manifestações carismáticas, ou seja, pentecostais, nas Igrejas tradicionais, tendo como resultado o surgimento de vários grupos denominados “Renovados”. Há, a partir desse período, uma proliferação de novas Igrejas pentecostais, como por exemplo, a Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil,17 a Convenção Batista Nacional, a Igreja do Avivamento Bíblico, a Igreja Metodista Wesleyana, a Igreja Cristã Maranata, entre outras.

Neopentecostalismo

A terceira vertente é a Neopentecostal.18 O neopentecostalismo tem início na segunda metade dos anos 70. São igrejas fundadas por brasileiros que, influenciados por movimentos norte-americanos, começaram suas denominações com características diferentes das duas vertentes anteriores. A Igreja Universal do Reino de Deus, a Internacional da Graça de Deus, a Comunidade Sara Nossa Terra e a Renascer em Cristo estão entre as principais. As igrejas neopentecostais utilizam intensamente a mídia eletrônica para propagar seu movimento, funcionam como empresas e pregam a Teologia da Prosperidade. O Neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente e a que mais cresce hoje no Brasil.19

O Pentecostalismo iniciado na Rua Azusa, em 1906, está completando um século. E, como resultado de sua consistência e seriedade, tem-se mantido por todo esse tempo e com certeza continuará até a volta do Senhor. Os desvios e abusos que eventualmente têm surgido não podem descaracterizar aquilo que nasceu no coração de Deus, que é reavivar o seu povo para uma obra do fim.

Que Deus nos ajude a ser renovados a cada dia!


Bibliografia

CÉSAR, Elben M. Lens. História da Evangelização do Brasil. Viçosa, MG: Ultimato, 2000.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

STOTT, John. A verdade do Evangelho: um apelo a unidade. São Paulo: ABU Editora, 2000.

TUCKER, Ruth. “...Até os Confins da Terra”: Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São Paulo: Vida Nova, 1986.




Notas bibliográficas


1 - Conhecido como Pentecostal por apresentar características espirituais semelhantes a do Pentecostes, registrado em Atos dois.


2 - STOTT, John. A verdade do Evangelho, p. 119.


3 - Habacuque 3: 2.

4 - Esse movimento de avivamento foi liderado por William Joseph Seymour.

5 - Louis Francescon era um Italiano que estava morando nos USA e mudou-se para o Brasil em 1910.

6 - O trabalho de Francescon se desenvolveu no Braz, em São Paulo,

e em Santo Antônio da Platina, no Paraná.


7 - Daniel Berg e Gunnar Vingren eram suecos.


8 - TUCKER, Ruth. “...Até os Confins da Terra”, p. 511.

9 - CÉSAR, Elben M. L. História da Evangelização do Brasil, p. 113.

10 - Ricardo Mariano é sociólogo e pesquisador do movimento Neopentecostal no Brasil.

11 - MARIANO, Ricardo. Neopentecostais, p. 23.

12 - O berço das igrejas Deuteropentecostais é São Paulo.

13 - A International Church of The Four-Square Gospel foi fundada em 1920, em Los Angeles, pela missionária canadense Aimee Semple Mcpherson.

14 - Harold Willians, ex-ator de filmes de Faroeste, que depois de convertido se tornou o missionário no Brasil.

15 - CÉSAR, p. 129 e 130.

16 - CÉSAR, p. 139.

17 - A Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil foi organizada em Maringá, PR, no dia 08 de janeiro de 1975.

18 - Diferente da segunda, o berço das igrejas Neopentecostais é o Rio de Janeiro.

19 - www.pt.34of100e.info/Pentecostal.

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Fonte: Artigo publicado no Jornal Aleluia de setembro de 2006.
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