quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O PECADO

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1) CONCEITOS HISTÓRICOS E TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO PECADO

São os mais diversos os conceitos que ao longo da história surgiram acerca do pecado. Irineu, bispo de Lyon, na Ásia Menor (130-208 d.C.), foi, talvez, o primeiro dos pais da Igreja Antiga, a assegurar que o pecado no mundo se originou na transgressão voluntária do homem no Éden. O conceito de Irineu logo tomou conta do pensamento e da teologia da Igreja, especialmente como arma no combate ao gnosticismo, pois este ensinava que o mal é inerente à matéria.

2) DO GNOSTICISMO A ORÍGENES

O gnosticismo ensinava que o contato da alma humana com a matéria era que a tornava imediatamente pecadora. Esta teoria naturalmente despojou o pecado do seu caráter voluntário como é apresentado na Bíblia. Orígenes (185-254 d.C.) sustentou este mesmo ponto de vista por meio de sua teoria chamada “preexistencismo”. Segundo ele, as almas dos homens pecaram voluntariamente em existência prévia, e, portanto, todas entraram no mundo numa condição pecaminosa. Este conceito de Orígenes sofreu forte oposição mesmo nos seus dias.

3) OS PAIS DA IGREJA GREGA

Em geral os pais da Igreja Grega dos séculos III e IV se mostraram inclinados a negar a relação direta entre o pecado de Adão e seus descendentes. Em contraposição, os pais da Igreja Latina ensinaram com bastante clareza que a presente condição pecaminosa do homem encontra sua explicação na primeira transgressão de Adão no Éden.

4) DE AGOSTINHO À REFORMA

O ensino da Igreja do Ocidente quanto à origem do pecado teve seu ponto mais elevado na pessoa de Agostinho. Ele insistiu no ensino de que em Adão toda a humanidade se acha culpada e maculada. Já os teólogos semipelagianos admitiam que a mancha do pecado, e não o pecado mesmo, é que era causada pelo relacionamento humanidade – Adão. Durante a Idade Média, o que se cria a respeito do assunto era uma mistura de agostinismo e pelagianismo. Os Reformadores, particularmente, comungaram do ensino de Agostinho.

5) DO RACIONALISMO A KARL BARTH

Sob a influência do racionalismo e da teoria evolucionista, a doutrina da queda do homem e de seus efeitos fatais sobre a raça humana, foi descartando-se gradualmente. Começou a se difundir a idéia de que, se realmente houve o que a Bíblia chama “queda” do homem, essa queda foi para o alto. A idéia do pecado odioso, aos olhos santos de Deus, foi substituída pelo mal, e este mal se aplicou de diferentes maneiras. Por exemplo, Emanuel Kant o considerou como parte inseparável do que há de mais profundo no ser humano, e que não se pode explicar. O evolucionismo chama esse “mal” de oposição das baixas inclinações ao desenvolvimento gradual da consciência moral. Karl Barth, teólogo suíço (1886-1968), fala da origem do pecado como um mistério da predestinação.

Em suma: O que muitas correntes da teologia racionalista erradamente ensinam é que Adão foi na verdade o primeiro pecador, porém sua desobediência não pode ser considerada como causa do pecado no mundo. O pecado do homem estaria relacionado alguma forma com a sua condição de criatura. A história do Paraíso nada mais proporciona ao homem do que a simples informação de que ele necessariamente não precisa ser pecador.

6) O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A ORIGEM DO PECADO

Na Bíblia, o mau moral que assola o mundo, normalmente chamado pelos homens de fraqueza, equívoco, deslize, queda para o alto, se define claramente como pecado, fracasso, erro, iniqüidade, transgressão, contravenção e injustiça. A Bíblia apresenta o homem como transgressor por natureza. Mas, como adquiriu o homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia nos diz acerca disso? Para termos respondidos estas indagações são interessantes e indispensáveis considerar o seguinte:

a) Deus Não é o Autor do Pecado
Evidentemente Deus, na sua onisciência, já vira a entrada do pecado no mundo, bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter o cuidado para que ao se fazer esta interpretação, não fazer de Deus a causa ou o autor do pecado. “Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do Todo-poderoso o cometer injustiça”.(Jó 34:10) Deus é santo e não há Nele nenhuma injustiça. “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta”. Deus odeia o pecado e como prova disto enviou a Jesus Cristo como provisão salvadora para o homem. Assim sendo, as Escrituras rechaçam todas aquelas idéias deterministas, segundo as quais Deus é autor e responsável pela entrada do pecado no mundo.

b) O Pecado Teve Origem no Mundo Angélico
Se quisermos conhecer a origem do pecado, teremos de ir além da queda do homem, descrita no capítulo 3 de Gênesis, e por a nossa atenção em algo que aconteceu no mundo dos anjos.

Deus criou os anjos dotados de perfeição, porém, Lúcifer e legiões deles se rebelaram contra Deus, pelo que caíram em terrível condenação. O tempo exato dessa queda não é dado a conhecer na Bíblia. Jesus fala acerca do Diabo dizendo ser ele homicida desde o princípio. O apóstolo João diz que o diabo desde o princípio. Pouco se diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos anjos; porém, quando Paulo adverte a Timóteo no sentido de que nenhum neófito seja designado bispo sobre a casa de Deus, diz o apóstolo porque: “...para não suceder que se ensoberbeça e caia na condenação do Diabo”. Daí se concluir que o pecado do Diabo foi a soberba e o desejo de sobrepujar a Deus.

c) Origem do Pecado na Raça Humana
“Portanto, assim como por um só homem entrou no pecado o mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. (Rm 5.12)

7) O CONCEITO DE PECADO NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

O Antigo Testamento descreve o pecado nas seguintes esferas:

a) Na Esfera Moral - A palavra mais usada para o pecado significa “errar o alvo”.

- Errar o alvo: Dá idéia de, como um arqueiro que atira, mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o alvo no final da vida. - Tortuosidade ou perversidade: o contrário da retidão; errar o caminho, como um viajante que sai do caminho certo. - Falta: ser achado em falta ao ser pesado na balança de Deus. - Mal: “violência” ou “infração”

b) Na Esfera da Conduta Fraternal

A palavra usada para determinar o pecado nesta esfera significa, violência ou conduta injuriosa (Gn 6.11; Ez. 7.23; Pv 16.29) ao excluir a restrição da lei, o homem maltrata e oprime seus semelhantes.

c) Na Esfera da Santidade

As palavras empregadas
eram: “profano”, “imundo”, “contaminado” e “transgressor”. Estes termos empregados nesta esfera implicam que o ofensor já usufruiu a relação com Deus. Entendemos que os Israelitas como povo escolhido, deveriam ser santos, pois pelas leis, em toda as atividades e esferas de suas vidas, estavam reguladas pela Lei da Santidade. E que fosse contrário a isso se tornava imundo, (Lv 11.24, 27, 31, 33, 39)

d) Na Esfera da Verdade
“Engano”, “Mentira”. As palavras que descrevem o pecado nesta esfera dão ênfase ao inútil e fraudulento elemento do pecado. Os pecadores falam e tratam falsamente (Salmos 58:3; Is 28.15; Êx 20.16; Sl 119.128).
O primeiro pecador foi um mentiroso (Jo 8.44); o primeiro pecado começou com uma mentira (Gn 3.4); e todo o pecado contém o elemento do engano (Hb 3.13).

e) Na Esfera da Sabedoria
Os homens se portam impiamente porque não pensam ou não querem pensar corretamente; não dirigem suas vidas de acordo com a vontade de Deus, seja por descuido ou por deliberada ignorância. O homem precisa crescer na sabedoria para firmeza e fundamento moral, o que de palavras de sabedoria, ensino, exortação, fora escrito para ele não esquecer; para não ser facilmente conduzido ao pecado. (Mt 7.26; Pv 7.7; 9.4)

8) NO NOVO TESTAMENTO

Palavras que expressam o Pecado no Antigo e Novo Testamento:

a) Errar o alvo i) Fermento
b) Tortuosidade j) Desordem
c) Perversidade k) Iniqüidade
d) Lepra l) Desobediência
e) Violência m) Queda
f) Profano n) Derrota
g) Imundo o) Impiedade
h) Transgressor p) Erro

. Errar o Alvo - que expressa a mesma idéia que a conhecida palavra do Antigo Testamento.

. Dívida (Mt 6.12) - O homem deve a Deus a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única Esperança do homem é ser perdoado, ou obter remissão da dívida.

. Desordem - O pecado é iniqüidade (I Jo 3.4), o homem escolheu a sua própria vontade, isto é rebeldia.

. Transgressão - literalmente “ir além do limite” (Romanos 4:15). Os mandamentos de Deus são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem entrar em território perigoso e dessa maneira sofrer o prejuízo para sua alma.

. Queda - Cair para um lado, (Ef 1.7). Pecar é cair de um padrão de conduta.

. Derrota - é o significado literal da palavra “queda” em Rm 11.12. Ao rejeitar a Cristo, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito de Deus.

. Impiedade - de uma palavra, sem adoração ou reverência, (Rm 1.18; 2 Tm 2.16). O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a Deus e as coisas sagradas, pois não há temor ou reverência, porque está sem Deus e não quer saber de Deus.

. Erro (Hb 9.7) - Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e dessa maneira diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal incorre em maior grau de culpa do que aquele que apanhado em falta, a que foi levado por sua debilidade.

O pecado tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento é considerado uma “brecha” ou “rompimento” de relações entre o pecador e o Deus pessoal. É o desvio do pecado da vontade de Jeová, ou seja, a quebra da lei, sendo que Jeová é a própria lei.

9) TEORIAS ACERCA DO PECADO

a) A Teoria Pelagiana do Pecado
O “Pelagianismo’’ (do latim: “pelagianismus”), é a Doutrina fomentada por Pelágio, clérigo britânico do século IV. Entre outras coisas, ele negava o livre-arbítrio e a influência da graça divina. É semelhante ao “Determinismo”, que nega o livre-arbítrio e que o pecado é algo natural do homem.

b) A Teoria Católica Romana do Pecado

Pecado Capital - expressão com que a Igreja Católica romana designa diversos pecados: orgulho, ódio, inveja, impureza, gula, preguiça e a avareza.

c) A Teoria Evolucionista do Pecado
Baseada e fundamentada na Teoria de Darwin, o Evolucionismo considera o pecado como herança do animalismo primitivo do homem, ou seja, na fase evolutiva do homem, erros e falhas são comuns, até que um dia o homem chegará a ponto de perfeição.

d) O Ateísmo

Nega a Deus, nega também o pecado, porque estritamente falando, todo pecado é contra Deus, e se não há Deus, não há pecado.

e) O Determinismo
Essa teoria filosófica afirma ser o livre-arbítrio uma ilusão, e não uma realidade. Uma conseqüência prática do Determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja causa o pecador merece pena, compaixão ou misericórdia (dó), ao invés de ser castigado.

f) O Hedonismo
O Hedonismo (do grego: “hedoné” e do latim: “hedonismus”; prazer), é a teoria que sustenta que o melhor ou mais proveitoso que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga a dor. Eles desculpam o pecado com expressões como estas: “Errar é humano”; “o que é natural é belo e o que é belo é direito”.

A consciência testifica inequivocadamente da realidade do pecado. Todos sabem que são pecadores. Ninguém, que tenha idade de responsabilidade, tem vivido livre do senso de culpa pessoal e contaminação moral. O remorso da consciência, por causa do mal praticado, persegue a todos os filhos e filhas de Adão, ao passo que as conseqüências entristecedoras e terríveis do pecado são vistas através da deterioração e degeneração física, mental e moral da raça.

( Rm 1.18-28)

A doutrina do pecado é apresentada na Carta aos Romanos de modo muito realista e numa perspectiva de sua prática. O pensamento moderno tenta salvar o homem pecador oferecendo-lhe educação, religião e filosofia, visando com estes intentos moralistas tornar bom o homem mergu-lhado na lama do pecado. Entretanto, a realidade do pecado é outra. O homem é pecador e indesculpável diante de Deus. Nesta primeira parte do estudo da Carta aos Roma¬nos, Paulo, sob a unção do Espírito Santo, como um médico capaz, diagnostica o mal que condena o homem pecador, mas apresenta, também, o remédio divino contra esse mal chamado pecado.

Para que tenhamos uma visão mais ampla sobre esta doutrina precisamos conhecer a essência do pecado conforme a Bíblia a apresenta. Existem palavras no Antigo e no Novo Testamento que mostram as várias facetas do pecado. As línguas originais da Bíblia, o hebraico e o grego, dão-nos vários significados acerca do pecado. Fundamentalmente, pecado no hebraico é"chattath" e no grego é "hamartia" - palavras que dão a idéia do pecado como "um mal moral", mas que, essencialmente, significam antes "errar o alvo". Entende-se, então, que o homem foi criado com um alvo específico, mas ao pecar, perdeu esse alvo.

Portanto, nesta carta, a doutrina do pecado é apresentada numa teologia realista em que os aspectos negativos e positivos da Justiça de Deus são colocados de modo prático na vida do pecador.

A IRA DE DEUS (1.18)

- Que é a ira de Deus? - É a reação natural e automática da santidade de Deus contra o pecado. Não significa que Deus se torna raivoso e furioso, nem tampouco significa alguma paixão que o provoque, à semelhança dos homens. Na verdade, Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Vários textos comprovam essa declaração: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). Outro texto diz: "Mas Deus provou o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). Esses dois textos declaram que Deus ama o pecador.

1. A santidade de Deus é a expressão de sua ira

Portanto, quando a ira de Deus se manifesta, é na verdade a sua Santidade que se levanta como uma barreira contra o pecado. Não que corra o risco de Deus ser alcançado ou afetado pelo pecado, mas porque sua natureza eterna e santa tem autodefesa. Deus é santo! Ele não precisa ser santo. A santidade nEle é um estado eterno, imutável e inconfundível. Na história da libertação do povo judeu do Egito destaca-se o seu líder Moisés. Quando Deus o convocou no monte Horebe e mostrou-lhe sua glória, Moisés temeu voltar ao Egito. Temia não ser acreditado nem aceito pelo seu povo. Por isso fez uma prova de Deus perguntando-lhe: "Eis que quando vier aos filhos de Israel, e lhes disser: - ‘O Deus de vossos pais me enviou a vós‘, e eles me disseram: - ‘Qual é o seu nome?‘ que lhes direi? E disse Deus a Moisés: ‘Eu sou o que sou‘. Disse mais: ‘Assim dirás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós‘" (Êx 3.13,14). Nesta identificação do "EU SOU" conhecemos aquele que não foi, nem pretendia ser, mas que é para sem¬pre. Ele é santo, três vezes santo, e nunca deixará de ser santo.

Portanto, sua ira é a barreira contra o pecado. É a muralha que impede a manifestação do pecado na sua presença.

2. A manifestação da ira de Deus

"Porque do Céu se manifesta a ira de Deus" (1.18). A manifestação da ira procede do Céu. - Que Céu é esse? -Não se trata do espaço entre o homem e o infinito. A procedência da manifestação da ira aponta para um lugar não-físico, mas um lugar onde Deus habita. "Do Céu" (1.18) para fortalecer o fato de que essa ira divina vem de cima.

"...se manifesta" (1.18) - A palavra manifestar signi¬fica neste texto revelar; ou resplandecer. Trata-se de uma manifestação literal. Não é fictícia nem simbólica. Sua realidade é conhecida na experiência humana.

"Sobre toda a impiedade e injustiça" (1.18) - A ira de Deus "se manifesta" para quê? ou por quê? O texto é objetivo e aponta para duas razões específicas:

a "impiedade" e a "injustiça". Quando a ira de Deus se manifesta contra ou "sobre toda a impiedade", refere-se à irreligiosidade do homem pecador. Significa a negação daquilo que é inerente ao homem, isto é, sua crença em Deus. Esse fato é indiscutível e inevitável dentro do ser humano. É natural que a ira divina reaja quando o homem nega o fato de Deus em sua vida, e muito mais, quando o homem deixa a piedade, isto é, sua religiosidade e se lança contra o seu próprio Criador. Negar a Deus é querer torná-lo mentiroso e viver como se Ele não existisse.

O texto acrescenta outra palavra, que é a injustiça, a qual significa deixar de fazer o que é reto. É o desvio premeditado para o pecado. É sair da rota divina e tomar o caminho da injustiça. Então aprendemos que a ira de Deus manifesta-se pela pertinaz rejeição a Deus. É a rejeição da luz reveladora da verdade.

O texto continua e acusa os homens que cometem a injustiça e a impiedade, de "que detêm a verdade em in¬justiça" (1.18). A verdade e a injustiça são detidas por aqueles que recusam a verdade. "Deter a justiça" significa reter, estorvar, aprisionar ou impedir que a verdade venha à luz. "Deter a verdade" significa impedir que ela tenha livre acesso para desenvolver-se. Significa estorvar pelo espírito do erro. A verdade deve encontrar caminho aberto e espaço livre para desenvolver-se na vida dos homens. Portanto, a ira de Deus manifesta-se contra aqueles que estorvam ou obstruem o caminho da verdade.

A RECUSA DO HOMEM À VERDADE (1.19-21)

Nestes três versículos nos deparamos com o homem evitando a verdade e rejeitando-a.

1. O conhecimento de Deus revelado na vida do ho¬mem (vv 19,20)

"Portanto o que de Deus se pode conhecer" (1.19). Indica que o conhecimento acerca de Deus é revelado na própria vida do homem, na natureza e em toda a criação. Diz mais o texto: "neles se manifesta" (1.19). É um fato inevitável no homem. Está manifesto na sua vida esse conhecimento. Confirma ainda mais o texto: "Porque Deus lho manifestou" (1.19). Isto prova que o homem pode ne-gar ou rejeitar esse conhecimento, mas não evitá-lo. No versículo 20, o apóstolo Paulo apresenta o tipo de conhecimento que o homem não deve evitar, mas, se o faz, é porque prefere viver dissolutamente. Se o homem disser que não conhece a Deus porque não o pode ver, por isso não existe, ele se depara com as obras manifestas de Deus: "Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas" (3.20). Como negar o fato da criação diante dos nossos olhos? Todas as formas de ateísmos se diluem diante das obras do Deus invisível. O mesmo versículo 20 termina com esta expressão: "...para que eles fiquem inescusáveis". - Que argumento levantará o homem no Juízo Final? - Nenhum! Pois todos os homens são inescusáveis diante de Deus. A negação da verdade tornasse um pecado irremediável diante de Deus.

2. O pecador, não glorifica a Deus, mesmo tendo-o conhecido (v 21)

"Porque tendo conhecido a Deus, não o glorificamos como Deus" (1.21). Este versículo não deixa dúvida. Ele afirma que o homem conhece a Deus e não pode fugir desse fato, mas o acusa por não conhecê-lo, mesmo sabendo que Ele é o Deus verdadeiro. O ato de dar glória neste texto re¬fere-se a reconhecer as obras de Deus.

3. O pecador não lhe dá graças (v 21)

"...nem lhe deram graças" (1.21) - A gratidão resulta de um coração sincero, que não detêm a verdade, nem a rejeita. Dar graças significa oferecer ao Criador o pleito de reconhecimento, pelo que Ele é e faz.

"...antes em seus discursos se desvaneceram" (1.21) -Isto é, Deus acusa os homens, não só por negá-lo, mas por lutarem contra Ele "em seus discursos" inflamados pelo pecado.

4. O pecador é insensato (v .21)

"...e o seu coração insensato" (1.21) - Diz respeito à falta de senso. A sensatez torna o homem prudente; ele mede as conseqüências de qualquer ação. Porém, quando o homem permite que "seu coração" se torna insensato, está tomando o caminho da destruição e do juízo. A insensatez cega o homem no sentido espiritual. Por isso, o texto diz: "o seu coração insensato se obscureceu". Quando a loucu¬ra domina os sentimentos do homem, ele se torna cego, obscuro. Não pode ver, nem sentir e nem agir inteligente¬mente. O pecado obscurece a mente e o espírito do homem quando ele rejeita a verdade e a luz de Deus. A verdade traz à tona o que está escondido. A verdade é luz que reve¬la o escondido no obscurecimento espiritual. A verdade li¬berta o homem. O pecado escraviza e prende. A verdade capacita o homem a reconhecer a Deus como Senhor e Criador.

DESORDENS FÍSICAS, MORAIS E ESPIRITUAIS (1.22-24)

Trágicas desordens na vida do homem foram provoca¬das pelo seu pecado de rejeição a Deus. A experiência hu¬mana testemunha esse fato. Quando o homem rejeita toda possibilidade de reconciliação com Deus, fica entregue à mercê da própria sorte!

O apóstolo Paulo destaca três principais desordens na vida do pecador que rejeita a graça de Deus:

1. (1.23) - A primeira desordem acontece nas relações do homem para com Deus. Essa desordem conduz o homem à idolatria, e esta é o maior pecado de rebelião contra Deus. Essa desordem está expressa no versículo 23, que diz: "E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis". Essa desordem provoca a manifestação da ira de Deus, isto é, a santidade divina abomina toda a idolatria. Esse pecado de idolatria ofende, também, a autoridade e o poder de Deus. Sua autoridade é incontestável e imutável. Quando o homem, conhecendo a verdade, se utiliza da idolatria, quer ferir a autoridade divina e anulá-la na sua vida. - E como subsistirá o homem sem Deus? - Não poderá!

2. (1.24) - A segunda desordem acontece na vida física do próprio homem. É a perversão de sua própria natureza. O homem se torna escravo de seus próprios desejos, os quais estão sob o domínio da força do pecado. Essa desordem está no versículo 24. A primeira parte do texto diz: "Deus os entregou às concupiscências de seus corações". A palavra "corações" refere-se aos sentimentos dos homens. Quando os sentimentos estão sob a tutela do pecado, eles pecam contra o espírito e são capazes de escravizar o homem com correntes carnais, conforme está exposto nos versículos 28 a 32.

3. (1.24) - A terceira desordem acontece nas relações do homem com o seu próximo. Diz o texto do versículo 24 no seu final:"...a imundícia, para desonrarem seus corpos entre si". Essa desordem para com o próximo mostra a perversão do coração do homem. Nos dias atuais, essa desordem, que acontece muito especialmente no aspecto sexual, está se tornando comum e aceitável no seio da sociedade. Admite-se hoje, com facilidade o que chamam de 3º sexo. Mestres de pornografia lançam o que está em seus corações, toda a imundícia e a perversão da criação divina. Deus criou o sexo como bênção e para a perpetuação das espécies. Porém, o pecado é o desvio do alvo divino, e ele penetra no coração do homem, escravizando-o ao mais baixo grau. Essa desordem resulta da rejeição do homem a Deus. É escolha dele e jamais poderá culpar alguém pela sua rejeição. No Juízo Final não escaparão, pois serão condenados, conforme já está predito: "Ficarão de fora os cães, e os feiticeiros, e os que se prostituem e os homicidas, e os idolatras, e qualquer que ama e comete a mentira" (Ap 22.15).

4. Conseqüências da rejeição a Deus (1.24-28) - Esses versículos indicam as conseqüências do pecado do homem, e se expressam com as palavras textuais: "Deus os entregou".

a) Primeira conseqüência: "Deus os entregou à imundícia" (1.24). Significa que, dada a rejeição consciente dos pecadores, Deus os entregou às garras dos sentimentos pervertidos, para que fossem lavados e varridos por seus impulsos pecaminosos. A palavra imundícia relaciona-se com toda sorte de pecados impuros, antinaturais. A expressão "Deus os entregou" deve ser entendida como: Deus desistiu de lutar por eles; não que não pudesse, mas porque preferiram o pecado a Deus. Distorções morais re¬sultam desse estado, e o homem fica entregue aos poderes destrutivos de sua natureza pecaminosa. É nesse estado que o homossexualismo, a pederastia, o lesbianismo e outras formas pervertidas da natureza agem livremente. Quantos milhões de pessoas são escravas da imundícia!

b) Segunda conseqüência - "Deus os entregou às paixões infames" (1.26). O texto diz: "Deus os entregou às paixões infames". O homem sem Deus torna-se vítima dos mais degradantes apetites e paixões. O Novo Testamento mostra, nas Epístolas Gerais e mesmo nos Evangelhos, que o ceder aos desejos impuros resulta em escravidão, e conduz a paixões ainda mais pervertidas. Quando o homem tem Deus na vida, ele pode dominar sobre os desejos da carne.

c) Terceira consequência - "Deus os entregou a um sentimento perverso" (1.28). Significa que Deus os deixou à mercê de seus próprios sentimentos. O texto aponta a ra¬zão que levou Deus a deixá-los entregues a um sentimento perverso: "E por haverem desprezado o conhecimento de Deus" - eis a razão. Numa tradução do Espanhol, o mes¬mo texto aclara melhor a razão que diz: "E como eles não aprovaram ter em conta a Deus, Deus os entregou a uma mente depravada". Ter uma "mente depravada" significa a perda da capacidade para discernir as diferenças entre "bem e mal".

Bibliografia E. Cabral

A origem etimológica da palavra hamartiologia

A doutrina do pecado é identificada como Hamartiologia. Essa palavra deriva de dois termos da língua grega, língua do Novo Testamento: “hamartia” e “logos”, que significam juntas “estudo acerca do pecado”. O termo “hamartia” tem, na sua etimologia grega, o sentido de “errar o alvo”. Portanto, o estudo acerca do pecado, como ato, estado ou condição, sugere que o pecado é “um desvio do fim (ou modo) estabelecido por Deus”.

Na Teologia Cristã, a doutrina do pecado ganha espaço porque o cristianismo representa a possibilidade de redenção do estado pecaminoso do homem. Três grandiosas doutrinas bíblicas ganham espaço na vida do homem, as quais são: a Doutrina de Deus, a Doutrina do Pecado e a Doutrina da Redenção. Existe uma relação essencial entre essas três doutrinas de tal modo que é impossível tratar do pecado sem tratar da Redenção e, naturalmente, ao tratar sobre Redenção, inevitavelmente a relacionamos com a sua fonte, que é Deus.

A questão do mal é tratada na Bíblia a partir do relato do livro de Gênesis sobre a Queda do homem. Esse relato descreve o princípio da tentação do homem e a sua concessão ao pecado, trazendo maldição à sua vida pessoal e a toda a Terra.

O pecado é um tipo de mal, porque nem todo mal é pecado. Existem males físicos conseqüentes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física, temos um tipo de mal que se manifesta nas doenças. Entretanto, na esfera ética, o mal tem um sentido moral. É nessa esfera moral que se manifesta o pecado. Os vários termos hebraicos e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado, apontam para o sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos atos pecaminosos.

O pecado é, de fato, uma ativa oposição a Deus, uma transgressão das suas leis, que o homem, por escolha própria (livre), resolveu fazer (Gn 3.1-6; Is 48.8; Rm 1.18-22; 1Jo 3.4).

O Que é Pecado Original?

É o pecado herdado da desobediência de Adão e Eva. O primeiro homem, como representante da raça humana, corrompeu toda a humanidade ao transgredir a lei de Deus. O Senhor Deus ordenou ao homem:

"De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás, pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás"

A mulher, dando ouvidos à serpente, comeu do fruto da árvore proibida e cometeu o primeiro pecado da humanidade. "Como semente gera semente da mesma espécie", nós, sementes de Adão, herdamos a natureza pecaminosa. Assim, "por um só homem entrou o pecado no mundo / pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". (Gn 2.16-17; 3.1-6; Rm 3.23; 5.12). A esperança é que se

"pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos". (Rm 5.19).

O Pecado Original

O pecado original não é um assunto que é proeminente na teologia moderna, pois é contrária a grande parte das modernas crenças arrogantes, e conseqüentemente, nenhum pregador oportunista ousará apresentá-lo à congregação em que ele serve, a fim de não ofender as sensibilidades mais delicadas de um membro. Contudo, tem sido uma das doutrinas mais fundamentais e importantes das Escrituras, pois é o alicerce de muitas outras. Se não existe o pecado original, o homem não herdou natureza pecadora nenhuma, não há necessidade nenhuma de redenção do pecado e não há necessidade de um Cristo crucificado. Também as igrejas não têm nenhum trabalho para fazer, e tornaram inúteis muitas convicções e práticas cristãs.


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