domingo, 17 de março de 2013

A MULHER NO PÚLPITO


LUGAR DE MULHER É NO PÚLPITO ?


Crescimento do número de pastoras acende a polêmica sobre a ordenação de mulheres




Véu na cabeça, olhos baixos e boca fechada. Esta é a primeira imagem que invade a mente de qualquer um que lê as instruções de Paulo às mulheres de Corinto na primeira epístola. E foi, durante séculos, a que norteou o pensamento das lideranças em todo o mundo cristão. Mas muita coisa mudou desde o martírio de Joana D'Arc ao radicalismo da militância feminista da americana Betty Friedan. No mundo inteiro, a figura da mulher saiu da obscuridade, fazendo com que os homens abrissem mão da hegemonia em diversas áreas para dividir espaço com o sexo oposto. A Igreja brasileira não foge a essa tendência: um novo segmento pastoral, composto por mulheres convictas de sua vocação, ganhou corpo nos últimos anos, disposto a provar que o púlpito não é uma exclusividade masculina. O fenômeno tem dividido opiniões dentro da igreja, mas, a julgar pelo sucesso de ministérios como os de Valnice Milhomens e Sônia Hernandes, entre outras, o processo parece irreversível.

Só é possível entender as razões dessa polêmica examinando, ainda que brevemente, o passado do cristianismo. No Antigo Testamento, são várias as passagens que relacionam a mulher a situações de ruína humana, a começar por Eva. Se hoje não é mais vista como a responsável pela entrada do pecado no mundo _ Romanos 5.12 mostra que a história é outra _, na mente masculina ela sempre foi, no mínimo, cúmplice. Jezabel, Dalila e outras megeras ajudaram a criar uma imagem feminina nada favorável. O Novo Testamento é bem mais condescendente com a mulher, mas o termo submissão é freqüentemente associado a seu ideal de comportamento.

No quarto século, a Igreja Católica decidiu que os sacerdotes tinham que ter dons específicos dados diretamente por Deus, e não atribuídos pelo homem. Assim, olharam para o Antigo Testamento, para as tradições culturais hebraicas e concluíram que a Bíblia não abria precedentes para a ordenação sacerdotal do chamado "sexo frágil". Aliaram à tese o fato de que, para exercer a função de liderança no corpo de Cristo, o candidato deveria ter a pureza como virtude inquestionável. Neste quesito, nova desvantagem feminina: sob o ponto de vista da lei mosaica, as mulheres eram consideradas imundas nos períodos menstruais, o que as tornava inaptas para o sacerdócio.

As exigências aumentaram, surgiu o celibato e os púlpitos se tornaram ainda mais exclusivos dos homens, embora a Bíblia contenha relatos de mulheres que exerceram papéis fundamentais na História da Igreja. Débora tornou-se juíza de Israel. De prostituta anônima, Raabe passou a integrante da genealogia de Jesus. Maria, o exemplo mais contundente, foi escolhida para dar à luz o Salvador. Ainda assim, há correntes radicais que enxergam excessos nessa valorização da figura feminina, o que, acreditam, pressupõe grandes riscos à estabilidade da Igreja.



Ação e reação

Impedida de alcançar o sacerdócio, restou à mulher resignar-se com as atividades subsidiárias ao serviço eclesiástico, algo que o protestantismo, pelo menos em seu nascedouro, não fez questão de modificar. No entanto, nem a Igreja passa absolutamente incólume pelas revoluções culturais, políticas e econômicas que costumam criar marcos na História. Mesmo com atraso, ela se adaptou às mudanças sociais, incluindo-se aí a ampliação ao universo feminino de direitos antes reservados só aos homens, como salário e voto. Além disso, nem sempre havia contingente masculino suficiente para suprir a demanda de cargos de liderança nas igrejas e suas frentes de evangelização. Foi assim que as mulheres levantaram dos bancos para falar, cantar, atender, administrar e - ousadia das ousadias - ensinar.

Se a presença feminina na Igreja já era marcante nas áreas de educação religiosa, música, ação social e tantas outras, era de se supor que logo a mulher se lançaria numa empreitada ainda mais difícil: a de provar competência para exercer o ministério pastoral. Também era previsível a reação das alas conservadoras, para quem não há contexto nem argumento histórico que justifique uma interpretação liberal das instruções paulinas contidas principalmente nos últimos capítulos de I Coríntios. Ambos os lados afirmam estar baseados em preceitos bíblicos. Fato é que nem a oposição tem conseguido impedir o avanço das pastoras. Divulgando seus ministérios através dos meios de comunicação, Sônia Hernandes e Valnice Milhomens tornaram-se conhecidas em todo o país e, conseqüentemente, ícones desse movimento.

Depois de enfrentar séculos de resistência, qual seria o preço a ser pago pelas mulheres que exercem o ministério? Pastoras já consagradas garantem que, ao contrário do que alguns homens possam pensar, elas têm que matar um leão por dia para cumprir a vocação. "Qualquer homem pode ser pastor, mesmo que não tenha sequer formação ética para tanto, mas uma mulher tem que superar muitas dificuldades, provar sua seriedade e ainda dar frutos", desabafa a pastora Valnice Milhomens, 49 anos, fundadora do Ministério Palavra da Fé, hoje Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo. Ela acredita que a ordenação feminina é uma evidência do amadurecimento da Igreja no que diz respeito a velhos preconceitos, entre eles o mito de Eva como introdutora do pecado no mundo. Solteira, argumenta que a maior vingança de Deus contra o demônio é justamente utilizar a mulher como instrumento de redenção da humanidade.

Mesmo sendo radicalmente contra o movimento feminista que explodiu na década de 60 e desapareceu pouco depois, mergulhado em seus fanatismos, Valnice acha que, numa sociedade inflada por escândalos em todos os setores, as mulheres possuem um papel fundamental. "Raramente uma mulher está envolvida em falcatruas", enfatiza. Sua postura atual faz contraste com a formação religiosa que recebeu e a influenciou nos primeiros anos de atividade na igreja, uma época em que ela mesma se via atrelada às tradições. A pastora conta que olhava para as recomendações bíblicas do apóstolo Paulo e não aceitava a idéia de ter uma vocação. "Relutei para receber o título de pastora, embora as funções pastorais já não fossem novidade para mim", conta. Atualmente, Valnice coordena um ministério com mais de 20 igrejas, um centro de treinamento bíblico, um programa de televisão e 30 pastores, metade dos quais mulheres.



Machismo

Já a episcopisa (versão feminina de bispo) Sônia Hernandes, 38, nunca perdeu o sono com o texto de Paulo. Para ela, boa parte da polêmica é causada por interpretações distorcidas por conceitos machistas. "O mesmo Paulo trabalhava muito bem com Priscila, assim como com a mãe de Timóteo e tantas outras mulheres", argumenta. A pastora, que se tornou conhecida em todo o país como apresentadora dos programas evangélicos De bem com a vida e Espaço Renascer, na Rede Manchete e na Gospel TV, divide seu tempo numa série infindável de atribuições. É dela a incumbência de ministrar aos 230 pastores e pastoras das 183 igrejas, dirigir os ministérios de adoração musical e assistência social, bem como o trabalho com adolescentes.

Expoente de um dos ministérios que mais tem crescido entre os evangélicos brasileiros, o Renascer em Cristo - criado pelo marido, o apóstolo Estevam Hernandes há 11 anos, e que atualmente conta com uma fundação, seis emissoras de rádio FM e um canal de TV UHF - , Sônia afirma que nunca percebeu qualquer restrição a seu trabalho ministerial. "O público masculino reconhece a unção de Deus na minha vida", garante.

Mas, afinal, quais foram as recomendações de Paulo que, quase dois mil anos depois, ainda causam tanta polêmica? Na primeira carta à igreja de Corinto, capítulo 14, versículo 34, o apóstolo sugere aos líderes que a mulher não se manifeste durante a cerimônia religiosa: "As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei". A orientação de Paulo, embora não seja a única, é o principal argumento utilizado para barrar a chegada das mulheres ao altar. Só que as diversas interpretações do texto bíblico levantam dúvidas a respeito da verdadeira intenção do apóstolo quando faz tal proibição.

Ordenada por um grupo de pastores da Igreja Evangélica Pentecostal Missionária há cerca de 14 anos, Gisela Guth de Araújo, 51, tem outra maneira de observar o texto. Ela defende que a determinação paulina de deve principalmente ao contexto religioso em que a população de Corinto estava inserida. Segundo a pastora, perto da cidade de Corinto existia uma ilha chamada Agrocorinto, onde as jovens virgens das regiões próximas eram oferecidas como sacerdotistas num templo da deusa grega Afrodite. No culto profano, elas tinham que raspar a cabeça para dirigir as cerimônias realizadas em homenagem à deusa - daí a origem de outra orientação de Paulo para que, dentro do templo, elas mantivessem a cabeça coberta, possivelmente para não chamar a atenção. Convertidas pela mensagem do Evangelho, elas levavam para a igreja alguns hábitos perniciosos, como a conversa descontrolada, que chocava os crentes primitivos, impregnados de elementos da tradição judaica, onde a mulher tinha que ficar afastada do cerimonial.

Para Gisela, no entanto, o apóstolo deixa outra orientação bem mais específica quanto à legalidade do ministério independentemente do sexo. "Paulo afirma em Efésios que Deus chamou uns para apóstolos, outros para profetas e outros para mestres", diz. "Em momento algum ele fala que Deus chamou homens ou mulheres para este ou aquele ministério exclusivo." De posse deste princípio, a pastora dirige a missão Atalaias de Jesus, que se propõe a recuperar drogados, e uma igreja com mais de 500 membros em Cuiabá (MT). Ela conta com o auxílio do marido e também pastor Osmair de Araújo, que, diga-se de passagem, converteu-se depois que a viu pregar. Gisela revela que, no início, seu nome era repelido por alguns pastores da região que recorriam ao seu passado na feitiçaria para denegrir sua imagem. "Cheguei a ser barrada no Conselho de Pastores da cidade", lembra.



Tradição judaica

A defesa da tese da justificativa histórica para a ordenação de mulheres defendida pela pastora encontra eco em estudiosos da religião. Para o professor de Velho Testamento do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Elcio Santana, 34, é certo que a tradição histórica judaica interferiu na composição da Bíblia. "Afinal, o pano de fundo era a religião judaica patriarcal", argumenta. Elcio lembra que, no caso do apóstolo Paulo, havia motivos de sobra para acreditar na influência que os sacerdotes judeus exerciam sobre ele. Segundo o professor, Paulo foi discípulo de Gamaliel, um dos fiéis seguidores do rabino Hiliel, citado no Talmude (livro de interpretação da lei judaica e que relata a história do povo hebreu) como um sacerdote que dava graças a Deus todas as manhãs pelo fato de não ter nascido mulher.

Outro grupo evangélico pouco conservador no que diz respeito à ocupação dos gabinetes pastorais pelas mulheres é a Igreja Metodista. No Brasil, por influência da liderança da denominação em outros países, 80 pastoras foram ordenadas ao ministério desde 1982, 50 delas formadas em cursos de Teologia e 30 leigas. Algumas ocupam cargos destacados, como o de supervisoras de bispos e, como nas igrejas metodistas dos Estados Unidos, são fortes candidatas a episcopisas.

Segundo o presidente da denominação, o bispo Adriel de Souza Maia _ recentemente empossado presidente da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), a medida é bíblica e se propõe a valorizar ainda mais o trabalho das mulheres junto à Igreja moderna. "Elas representam cerca de 70% da membresia e, por isso, cumprem um papel evangelizador de destaque, além do fato incontestável de que sempre estão na linha de frente dos projetos de ação social", justifica. Adriel não poupa críticas aos teólogos mais conservadores. "Quando a mulher observa os mesmos textos bíblicos que os homens acham definitivos, interpretam de forma diferente. Isso acontece porque a linguagem machista exclui, mas a de Deus inclui não só as mulheres, como também a criança. Este é o plano de Deus."

Quem não aceita mulheres no exercício do sacerdócio apresenta argumento como a primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 11, versículo 3, que garante ao homem a liderança no lar. "Quero porém que saibas que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo." Para o teólogo Geremias do Couto, no entanto, o texto se refere à submissão da mulher especificamente no lar, e não dentro do quadro administrativo ministerial.

Mesmo sendo presidente da Associação Serrana de Educação Teológica das Igrejas Assembléia de Deus - uma denominação contrária à ordenação feminina, embora boa parte do seu quadro missionário seja preenchido por mulheres, Geremias garante que certas análises bíblicas devem levar em conta regras de Hermenêutica (interpretação) que não estão isoladas do contexto. "Em todo o Novo Testamento, a posição de Jesus perante as mulheres é de valorização. Paulo mesmo escreve uma carta de recomendação a Febe", analisa, referindo-se ao trecho em que o apóstolo apresenta uma missionária à igreja em Roma.



Sem exceções

A posição liberal está longe de ser uma unanimidade entre os evangélicos históricos. O presidente do Concílio das Igrejas Presbiterianas do Brasil, reverendo Guilhermino Cunha, tem uma munição de argumentos contrários. O pastor baseia sua objeção à ordenação feminina no fato da Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, não registrar exceções. "Não existiam sacerdotisas", argumenta. O pastor também lembra que, entre os anciãos do conselho das 12 tribos de Israel, não havia mulheres, assim como nenhuma mulher foi escolhida por Jesus para o apostolado.

Com relação à teoria da influência da cultura hebraica sobre os escritores da Bíblia, o pastor é taxativo: "A cultura não modifica a verdade revelada. Quando admitirmos que algumas coisas são mutáveis de acordo com a sociedade, estaremos abrindo o cânon e, com isso, perdendo a revelação de Deus", sentencia. Partindo dessa premissa, a denominação presidida por Guilhermino não aceita mulheres para ocupar os cargos de pastores, diáconos e presbíteros. Ainda assim, o pastor lembra que a decisão depende da posição dos organismos denominacionais, como os concílios, presbitérios, sínodos e o Supremo Concílio. Curiosamente, a presidência da Aliança Mundial das Igrejas Presbiterianas está justamente nas mãos de uma mulher, a professora Jane Dempsey Douglas, à frente de um rebanho de 70 milhões de ovelhas.

No entanto, até mesmo pastoras consagradas reconhecem na Bíblia uma orientação clara de que a mulher tem que estar sob a bênção de um homem. A pastora Nilda Fontes, 67, mulher do pastor Geremias de Mattos Fontes - ex-governador do Estado do Rio de Janeiro e fundador da Comunidade S8, que se destina à recuperação de drogados, vai ao extremo de só subir nos púlpitos na companhia do marido. "Pastora ou missionária, seja qual for o cargo, a mulher precisa da cobertura espiritual do esposo, pois sozinha ela não tem a capacidade total de transmitir a verdade de Deus", acredita Nilda. Este conceito adotado pelo casal produz resultados curiosos, como, por exemplo, a pregação de sermões em parceria. Neste caso, o texto de Gênesis sobre Adão e Eva é analisado sob outra ótica. "Ali observamos como a mulher tem influência sobre o homem."

O mesmo episódio bíblico, na opinião da pastora Claudete Marins, 48, serve para desmontar a condição de superioridade evocada por alguns homens. "Eva errou porque Adão não soube liderar. Se ele tivesse cumprido corretamente o papel de marido, ela não agiria daquela forma", dispara. Além de ajudar no ministério do marido Daniel Marins - também deputado estadual - na sede nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular, em São Paulo, Claudete é coordenadora estadual do Grupo de Mulheres da Igreja. A denominação, que está presente em 80 países, tem, só no Brasil, 7,6 mil pastoras, 48% de todo ministério pastoral.



Questões domésticas

As provações pelas quais passam as pastoras não se limitam aos problemas de reconhecimento. Há ainda problemas domésticos tão urgentes quanto os eclesiásticos. Afinal, como equilibrar tantas atividades ministeriais com as tradicionais atribuições de dona da casa? Claudete diz que a única solução para não correr o risco de desestruturar o lar é selecionar os compromissos. "A pastora não pode abrir mão do próprio lar, mesmo com suas obrigações religiosas", afirma.

Semelhante é o caso da pastora Gisela Guth, de Cuiabá (MT). Ela conta que, antes de se converter ao Evangelho, sua família estava totalmente dividida. O próprio marido, que hoje é pastor, na época estava fora de casa. Após sucessivos milagres de Deus, a pastora viu o lar sendo restaurado. Porém, ao entregar-se literalmente de corpo e alma à igreja, quase provocou um desastre. "Houve um tempo em que só me dedicava à igreja e à oração, e por pouco não tive graves problemas com os meus filhos como fruto da minha ausência no lar."

Neste ponto, tanto católicos quanto protestantes dão as mãos. Dom Estêvão Bittencourt, teólogo do mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, acha que cabe à mulher um papel fundamental no lar como responsável pela educação e formação da personalidade dos futuros cidadãos. O teólogo católico critica o que considera uma tendência da sociedade atual, à qual chama "nivelamento". "Essa tendência unissex é um absurdo. Cada sexo tem suas aptidões intelectuais e psicológicas", diz. No que concerne aos fiéis católicos, Dom Estêvão não tem muito com que se preocupar. Em recente pesquisa realizada pelo Fantástico, exibido pela Rede Globo, apenas 11% dos telespectadores consultados eram à favor da ordenação de mulheres ao sacerdócio.

Mesmo que timidamente, o apoio de pastores à ordenação de mulheres que se sentem vocacionadas para o ministério aumenta gradativamente, talvez por influência de denominações em que a experiência funciona. Um exemplo é o das igrejas da Comunidade Sara Nossa Terra, que há 15 anos ordena pastoras. Para quem vê de fora, essa simpatia pelo sacerdócio feminino, pode rescender a nepotismo: cerca de 80% das mulheres dos 380 pastores da denominação foram ordenadas pelos maridos. "O casal à frente do ministério passa uma idéia de unidade, e para a igreja é emocionalmente melhor", justifica a pastora Ana Maria de Brito Almeida, 43 anos. Com experiência na área de terapia familiar, ela acredita que faz bem aos casais a parceria ministerial. É ela quem responde pela filial da igreja da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, na ausência do marido.

Ana conta um caso curioso em que a submissão de esposa confundiu-se com a autoridade de pastora. Casada com o bispo Francisco Almeida, vice-líder da igreja no Brasil, ela antecipou-se ao marido durante uma oração. "Ele ficou muito constrangido quando eu me apressei e tomei à frente na oração", lembra. Ao chegar em casa, o casal conversou e tudo se resolveu. Para o bispo Francisco, embora o chamado tenha que ser divino, a ordenação das mulheres de pastores resolve um problema entre o casal: a frustração das esposas. "Ao ordenar mulheres, estamos evitando problemas conjugais futuros, pois geralmente as esposas apóiam os ministérios, mas não são reconhecidas pela igreja", argumenta.



Trauma

Que o diga a episcopisa Sônia Hernandes. Antes de se tornar pastora, há 11 anos, ela amargava um posto que considerava abominável. "O pastor era visto como uma pessoa brilhante, e sua mulher, uma chata", reclama. Filha, neta e bisneta de pastores, Sônia conta que seu trauma começou mesmo antes do seu casamento com o apóstolo Estevan Hernandes. Quando ele deu o primeiro sinal de sua vocação para o ministério, Sônia desmanchou o namoro por acreditar que não tinha vocação para esposa de pastor. Mais tarde, já casada, estudou num seminário da própria igreja, sendo ordenada logo a seguir. Ela explica que sua denominação prioriza o ministério do casal. "Não entendemos a distinção entre homens e mulheres, e sim entre servos e servas", explica.

A parceria pastoral tem, entretanto, ferrenhos adversários. Um dos mais conhecidos líderes evangélicos do país neste século, o pastor Enéas Tognini, fundador da Convenção Batista Nacional - vertente pentecostal da denominação-, é absolutamente contra a ordenação de mulheres. O pastor baseia sua teoria no fato de que, segundo ele, as mulheres não precisam do título para exercer suas funções na igreja. "Há um campo vasto para que elas trabalhem na obra de Deus sem a necessidade de cargos eclesiásticos", argumenta. Como exemplo ele cita o caso da pastora Valnice Milhomens, cujo ministério admira, ressaltando, no entanto, que muitas portas se fecharam para ela depois de sua ordenação.

Algumas denominações preferem uma tática mais cautelosa. Paulo Leite, pastor presidente da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, afirma que a igreja pretende organizar, até o final de 1998, um simpósio para estudar o assunto. Por enquanto, nada de pastoras em seus quadros. A Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil (Omeb), que congrega 13,5 mil pastores de todas as denominações, prefere não se posicionar. O presidente da entidade, o pastor presbiteriano Isaías de Souza Maciel, se declara a favor da ordenação de pastoras, mas faz restrições. "Onde há a abundância de pastores, não vejo necessidade", diz Maciel, que prefere dar às mulheres vocacionadas o título de missionárias.

Na opinião do pastor J. Cabral, teólogo da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) - que congrega 75% de mulheres entre os 7 milhões de fiéis -, a cultura brasileira ainda não está pronta para aceitar pastoras. "O homem latino não gosta de ser comandado por mulheres", explica. O pastor acrescenta que a denominação não faz restrição teológica ao sacerdócio feminino e faz uma declaração que avaliza qualquer pretensão das fiéis que se julgam vocacionadas: ele credita o crescimento da IURD ao trabalho evangelístico das obreiras. Talvez por isso, três delas foram ordenadas à revelia. Cabral, porém, prefere manter os nomes em sigilo.

Ao mesmo tempo em que suscita discussões acaloradas entre algumas denominações, em outras ele não causa o menor furor. Entre estas figuram as Igrejas Evangélicas de Confissão Luterana. Desde que ordenou a primeira pastora, no início da década de 70, a denominação encara com naturalidade o pastorado feminino. No último concílio mundial da igreja, em Hong Kong, a questão da igualdade entre os sexos foi tema recorrente. Não era para menos: cerca de 49% dos delegados com direito a voto eram mulheres.

No Brasil, existem 84 pastoras luteranas entre os 640 ministros da igreja. Essas líderes são preparadas com todo o zelo. Com mestrado e doutorado em Teologia nos Estados Unidos, a pastora Wanda Deifelt, 34, vice-reitora da Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo (RS), é uma das responsáveis pela formação dos futuros ministros. Ela explica que, independentemente do sexo, qualquer candidato deve passar pelo menos cinco anos e meio em estudos teológicos. Mesmo sendo uma das mais bem preparadas pastoras do país, Wanda não escapou do preconceito. "Alguns colegas diziam que não era biblicamente correto a mulher pastora, mas preferi responder ao chamado de Deus a dar ouvidos às restrições humanas", conta.

A entidade que congrega as igrejas batistas no país - Convenção Batista Brasileira (CBB) - já vem debatendo a questão há cerca de três anos em suas reuniões. Este ano, em assembléia geral, resolveu autorizar algumas missionárias a celebrar a cerimônia da ceia, bem como os batismos. Assim mesmo, somente em lugares menos favorecidos, onde não existam pastores. O secretário geral do Conselho da CBB, pastor Saloví Bernardo, porém, esclarece que as igrejas têm liberdade, e a decisão da assembléia funciona mais como uma orientação. "Para este ano, programamos alguns debates que formem opiniões mais racionais e menos apaixonadas", revela.

Em julho passado, a Convenção Batista Carioca realizou uma discussão aberta sobre o tema. Um dos participantes, o atual presidente da Convenção Brasileira, pastor Darci Dusilek, agradou a maioria dos presentes quando, antecipando-se à Convenção, declarou-se a favor da ordenação das mulheres. Líder da Igreja de Itacuruçá, no Rio de Janeiro, Dusilek afirmou estar apenas esperando que uma de suas alunas no curso de Teologia do Seminário Batista se forme para ordená-la. "Vejo nela vocação para o pastorado", declarou na ocasião. Nos seminários, o ensino é democrático. "Todos são preparados da mesma forma, estudando as mesmas disciplinas", afirma o pastor Luis Roberto dos Santos, diretor acadêmico do maior centro de preparação de pastores da denominação no país, o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. A escola já teve alunas que mudaram de denominação para exercer a função pastoral. Criado inicialmente para atender à demanda de mulheres que buscavam preparo ministerial, o Instituto Bíblico Betel da Paraíba (PB), fundado há 30 anos e aberto aos homens há 15, tem currículos iguais para ambos os sexos, mas salas diferentes. "As mulheres gostam de estudar separadas", explica, Lidia de Almeida, 67, fundadora e presidente da instituição que já formou mais de mil mulheres de 40 denominações.

O último pedaço de lenha foi colocado nessa fogueira pela missionária africana Judy Mbugua. Usando o microfone da 10ª Assembléia Mundial da Associação Evangélica Mundial (World Evangelical Fellowship), realizada no Canadá, em maio deste ano, ela pediu que a igreja mundial soltasse o burrinho. A missionária foi muito bem entendida em todas as línguas e aplaudida como poucos homens que falaram por lá.



Vocação hereditária

A vocação da episcopisa Sônia Hernandes está no sangue. O bisavô foi missionário no Líbano; o avô, no interior do Paraná; e seus pais se conheceram num curso de Teologia. Aos 15 anos, Sônia já era diaconisa. Há 11, tornou-se pastora na Igreja Renascer em Cristo, fundada pelo marido, o apóstolo Estevan Hernandes, seu primeiro namorado. Sua formação teológica limita-se aos cursos da própria denominação e as 30 vezes que afirma ter lido a Bíblia. "Sou líder nata", diz.

Através dos programas Espaço Renascer e De bem com a vida, Sônia fez a fama que lhe rendeu convite para ser apresentadora de um canal por assinatura. Ela recusou. "Meu negócio é ser pastora." Quando anda pelas ruas, diverte-se com o assédio de fãs. "Acho gozado me pedirem autógrafo porque não sou artista", brinca.



Missionária insone

Numa noite de 1987, num quarto de hotel, Valnice Milhomens não conseguia dormir. Sentia-se dividida diante da idéia de alguns líderes de fazê-la pastora. Se a experiência como missionária batista na África não lhe dava a certeza da aprovação de Deus, não tinha dúvidas quanto à vocação. Sem o amparo de um pastor no país em que estava, o Zimbábue, ela tinha que se desdobrar nas tarefas de visitação, aconselhamento, batismo e evangelismo. "Eu via contradições entre minhas interpretações bíblicas nessa questão", conta, "e passei a estudá-la."

Valnice relata que, depois de muito orar, ouviu a voz de Deus que confirmava seu chamado. Desde então, a pastora tem conseguido conciliar o sono, mesmo tendo um dos ministérios pastorais mais atarefados do país.



Agenda lotada

Pelo menos para Ana Maria de Brito Almeida, é possível conciliar a vida de pastora com a de mãe, esposa e dona de casa. Há oito anos co-pastora na Comunidade Sara Nossa Terra da Barra da Tijuca, no Rio, Ana divide com o marido, o bispo Francisco Almeida, a agenda repleta de atendimentos pastorais e viagens pelo Brasil.

Ainda assim, quase nunca perde o almoço em família e as tardes com as filhas Rute, Raquel e Rebeca. Ainda arranja tempo para jogar tênis, boliche, ir ao cinema ou ao shopping e fazer pão de queijo. "A pastora não pode perder a essência de ser mulher, esposa e mãe", sentencia. De formação católica, Ana Maria cresceu lendo as obras de Dostoievsky, Sartre e Machado de Assis. Na Universidade Federal de Goiás, onde cursou Jornalismo, foi bastante influenciada pelo movimento feminista.



Dois ministérios

A pastora Claudete Marins tem sempre em mente o trecho bíblico que diz que só administra bem o Reino de Deus quem dispensa a mesma diligência à própria casa. Por isso, se vê sempre obrigada a eleger prioridades entre a igreja e a família. O fato de ser casada com um pastor não facilita em nada a tarefa. "Fica complicado definir o compromisso mais importante ou mais urgente", admite.

Claudete ingressou no Instituto Teológico Quadrangular em 1975, ano em que também se casou. Ordenada em 1979, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. De 1989 a 1991, foi presidente da Fundação do Bem-estar do Menor. Durante sua gestão, não foram registradas rebeliões, fugas ou greves. Todas as unidades passaram a ter cultos semanais e uma Bíblia em cada leito. O resultado foi a conversão de vários internos e funcionários.



Preparo contra preconceito

Wanda Deifelt joga por terra a idéia de que a mulher é mal preparada para o pastorado. Dedicou cinco anos e meio de sua vida a estudos teológicos na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, denominação da qual faz parte, e pastoreou a comunidade de Esteio (RS) por três anos. Seguiu para os Estados Unidos, enviada pela própria igreja, onde passou cinco anos até concluir um mestrado e um doutorado em Teologia.

Hoje, Wanda é respeitada dentro da denominação, mas garante que o caminho foi difícil. "Quando entrei para a faculdade, muitos colegas diziam que não era biblicamente correto uma mulher pastora", conta Wanda. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana admite a presença de mulheres no ministério pastoral desde 1970.



Uma só carne

"Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher." O adágio, por mais machista que possa soar, encontra guarida no ministério da pastora Nilda Fontes. Ela e o marido, o pastor e ex-governador do Estado do Rio Geremias Fontes, não ministram uma palavra sequer da Bíblia sem a companhia um do outro, a não ser que ele seja chamado para uma reunião exclusivamente para homens. "A mulher é ajudadora, tem que estar junto do marido sempre", argumenta Nilda. Até a formação teológica – no Seminário Unido, em Osvaldo Cruz, no Rio, no início da década de 70 –, foi em parceria. Todos os dias, religiosamente, o casal estuda a Bíblia e ora.

Atualmente a pastora é vice-presidente da Comunidade S8, instituição destinada a recuperar dependentes químicos. Não precisa nem lembrar que o marido é o presidente.



Débora, pastora sem título

Conta a Bíblia que, após a morte de Josué, sucessor de Moisés, o povo de Israel ficou sem governante e se dispersou. A decadência moral e religiosa que se instalou os conduziu mais uma vez à escravidão. Imersa num mar de opressão, a nação reencontrou seu Deus – e, com ele, a esperança de dias melhores – através de uma mulher. Profetiza e juíza, Débora foi quem, naquela época, guiou o povo de Israel num dos períodos mais difíceis de sua história. Através de sua orientação, a nação escapou ao fio da espada de Sísera, comandante do exército de Jabim, rei de Canaã.

Apesar de ser a única referência de liderança feminina na Bíblia, Débora não é a única que se destaca nos textos das Sagradas Escrituras. Grandes conquistas, como a derrubada da cidade de Jericó, foram possíveis graças à força do sexo frágil. Raabe, a prostituta, acolheu os espias de Israel e, além de ajudar a entregar a cidade aos hebreus, entrou para a genealogia de Jesus como mãe de Boaz, cinco gerações antes do rei Davi.

A mais lembrada de todas as mulheres, no entanto, foi Maria. Camponesa, originária de uma família humilde da cidade de Nazaré, na Galiléia, Maria estava noiva de José, o carpinteiro, quando foi escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador da humanidade. Maria não somente entrou para a História, como a fez acontecer.



A velha cultura da submissão

Questionar o direito da mulher de exercer qualquer tipo de ascendência sobre o homem não é coisa nova. Desde a antigüidade, a maioria das culturas, de estrutura patriarcal, coloca a figura feminina em plano de submissão. Sócrates, por exemplo, afirmava que as mulheres "existem para a procriação". Nem a religião escapa.

Judaísmo – Hilel, rabino que considerava o fato de não ter nascido mulher uma bênção divina, era um anjo de liberalidade se comparado a outro líder judaico, o rabino Shamain, para quem era muito justo que o homem desse carta de divórcio à mulher que deixasse queimar a comida. As mulheres só podiam assistir às cerimônias através de um buraco na parede porque jamais podiam estar no mesmo ambiente que os homens.

Islamismo – Entre outros povos, a tradição é parecida. Para o muçulmano, a mulher devota de Maomé pode participar das orações nas mesquitas, desde que não esteja menstruada. Nesse período, acreditam, a mulher está liberando as impurezas, portanto não pode orar nem jejuar. Segundo o chefe do Departamento Religioso da Mesquita Brasil, uma sociedade beneficente muçulmana em São Paulo, Armando Hussein Saleh, 38 anos, uma das explicações para a exclusão das mulheres nas atividades sacerdotais está no que para muitas é seu maior trunfo: a beleza. Hussein explica que as mulheres são sempre admiradas pelos homens, e isso atrapalharia a comunhão religiosa. 




Mulheres no púlpito: a subversão da criação de Deus.

“Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade”. (I Timóteo 3.14-15)


A primeira carta de Paulo a Timóteo foi escrita com o objetivo de instruí-lo sobre como a Igreja deveria ser organizada caso ele demorasse demais para chegar e lidar com o assunto pessoalmente. Escreveu a Tito com o mesmo propósito: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam”. (Tt 1.5) Na carta a Timóteo ele fala sobre como lidar com os falsos mestres (1.3-12;4.1-11), princípios de ordem para o culto público (2.1-15), critérios para que ser ordenado ao ministério pastoral (3.1-7;5.22), características esperadas da esposa de um pastor (3.11), critérios para ser um diácono (3.12-13), como lidar com pessoas de diversas faixas etárias na igreja (5.1-2), princípios para organizar um programa de assistência social (5.3-16), o sustento econômico dos pastores (5.17-18), o procedimento em caso de denúncias contra os pastores no tribunal eclesiástico (5.19-20) e como lidar com as diferenças sociais entre os membros da igreja (6.1-10).

Ao falar do culto público e do ministério pastoral, uma das coisas enfatizadas por Paulo é a proibição da mulher de pregar ou de ser ser pastora:

“A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”. (I Timóteo 2.11-14)

Muitos justificam esta proibição argumentando que isso era proibição somente para aquela cultura, mas que como nós vivemos em outros tempos, as mulheres agora estão autorizadas a pregar na igreja. Mas Paulo deixa perfeitamente claro que o motivo não era cultural ou circunstancial. Ele explica que o motivo pelo qual a mulher não pode pregar na igreja é que Adão foi criado antes de Eva e foi Eva quem conduziu Adão a pecar: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”. Isso não é uma questão cultural. Portanto, a proibição é uma exigência para a Igreja de todos os séculos. Desobedecer é rebelião contra Deus, uma tentativa de subverter sua criação. Nos versos seguintes, Paulo estende essa proibição ao ministério pastoral:

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”. (I Timóteo 3.1-7)

Em muitas igrejas o bispo é um cargo hierarquicamente acima dos pastores ou presbíteros. Mas no tempo do Novo Testamento, bispos, presbíteros e pastores eram simplesmente três nomes diferentes para o mesmo ofício. Sabemos disso porque em diversos textos os termos são usados como sinônimos:

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”. (Tito 1.5-9)

“E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os presbíteros da igreja… Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho”. (Atos 20.17,28-29)

Sendo assim, quando Paulo escreveu sobre o episcopado em I Timóteo 3, ele estava falando do mesmo cargo que exerce o pastor ou presbítero. Eram simplesmente três nomes diferentes para o mesmo ofício. E quando Paulo descreve os critérios para que ser ordenado ao ministério pastoral, ele claramente restringe o ofício aos homens. Sua descrição é claramente masculina e condiz com o que ele havia dito alguns versos antes sobre a mulher não poder pregar ou exercer autoridade na igreja.

Alguns podem argumentar que, apesar da proibição bíblica, já puderam testemunhar mulheres que eram boas pregadoras, usadas por Deus e espirituais. Mas isso somente demonstra o quanto como vivemos em tempos turbulentos. Trocamos a Bíblia por nossa experiência pessoal. Rejeitamos o mandamento de Deus, mas achamos que fazendo isso estamos sendo espirituais. Passamos agora a crer num Deus que nega a si mesmo, que ordena uma coisa na sua Palavra e agora abençoa aquilo que ele proibiu? E se achamos tão natural que Deus tenha “voltado atrás” de algo que ele disse tão claramente por qual motivo achamos estranho a posição daqueles que dizem que ele “voltou atrás” de proibir coisas como a homossexualidade? Afinal, o argumentou da Bíblia contra a homossexualidade é que Deus criou a humanidade macho e fêmea, Adão e Eva, e estabeleceu que esse seria o padrão de sexualidade até o fim do mundo. Mas não é exatamente Adão e Eva que Paulo usa como base proibir a mulher de pregar e exercer o ministério pastoral? Até quando vamos usar dois pesos e duas medidas? Sobre os que acreditam que podem fazer tal coisa sem problema algum, o Apóstolo Paulo não mediu palavras:

“Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a Lei… Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, ele é ignorado“. (I Coríntios 14.33-38)

Alguns tentam se defender do mandamento claro argumentando que isso tudo era fruto do machismo Paulo. Primeiro, se este fosse o caso, deveriam rasgar as cartas de Paulo porque o que haveria ali não é a Palavra de Deus e sim as palavras de um homem machista. Se as cartas de Paulo não são a Palavra de Deus, então não há mais Cristianismo e a Bíblia que nós temos é uma grande farsa compilada para nos iludir com as palavras de um homem machista. A verdade é que essa mentalidade, que costuma se apresentar de maneira tão sútil, não é outra coisa se não a ideia da antiga serpente que busca agora tentar a Igreja para se rebelar contra a Palavra Deus por meio das mulheres da mesma maneira que ele fez com Eva no Jardim. Aqueles que falam contra Paulo deveriam pensar duas vezes antes de proferir qualquer palavra frívola contra aquele que foi eleito de Deus para escrever Sua Palavra. Deveriam se lembrar do severo juízo de Deus contra aqueles que falavam contra Moisés:

“Ora, falaram Miriã e Arão contra Moisés ,por causa da mulher cuchita que este tomara; porquanto tinha tomado uma mulher cuchita. E disseram: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu. Ora, Moisés era homem mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. E logo o Senhor disse a Moisés, a Arão e a Miriã: Saí vos três à tenda da revelação. E saíram eles três. Então o Senhor desceu em uma coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a Miriã, e os dois acudiram. Então disse: Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, a ele me farei conhecer em visão, em sonhos falarei com ele. Mas não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa; boca a boca falo com ele, claramente e não em enigmas; pois ele contempla a forma do Senhor. Por que, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés? Assim se acendeu a ira do Senhor contra eles; e ele se retirou; também a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã se tornara leprosa, branca como a neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa”. (Números 12.1-10)

Assim como os mandamentos transmitidos por Moisés não representavam suas própria opinião ou doutrina, as cartas de Paulo também não representam sua própria opinião, mas são a Palavra do próprio Deus:

“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens; porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo“. (Gálatas 1.11-12)

Portanto, atacar os ensinos de Paulo é atacar o próprio Deus porque as cartas de Paulo não são outra coisa se não a Palavra de Deus. Como bem escreveu Agostinho de Hipona: “Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você”.




Será que o púlpito é lugar de mulher?

Ministério Pastoral Feminino em debate



I.Deus comissionou tanto o homem quanto a mulher.


Ao lermos o relato do livro de Gênesis, percebemos que Deus não somente comissionou o homem. Está claro no texto que Deus delegou tanto ao homem quanto à mulher, ambos criados a sua imagem e semelhança (cf. 1.27), uma missão. Disse-lhes Deus: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” (1.27).

Isso significa afirmar que tanto a mulher quanto o homem estão em igualdade de direito e honra diante de Deus. São filhos queridos do grande criador de toda a terra. Ele, que tem o domínio pleno, foi quem estabeleceu que tanto a mulher quanto o homem exercessem domínio sobre a terra. Um domínio que não fosse tirano ou subjugador das espécies que habitavam sobre a face da terra. Ao contrário, somos chamados para exercer uma missão de protetores, de cuidadores da obra de Deus.
Se ambos têm a imagem e semelhança de Deus, e são por Ele comissionados, ambos estão aptos para servirem a Deus com integridade e totalidade.


II. O ministério pastoral é para aqueles/as que são chamados/as por Deus.


A ideia errônea de que Deus separou o ministério pastoral somente para o homem parte de uma concepção equivocada sobre o papel e o valor da mulher perante Deus. Essa concepção parte do princípio de que a mulher, por ser auxiliadora do homem (cf. Gn 2.18), não tem direito ou condições de ministrar como pastora diante de Deus. Essa é uma postura pequena acerca da obra divina, uma postura que não consegue perceber em Deus um ser que ultrapassa nossos perecíveis conceitos e paradigmas controversos.

Deus não está sujeito às minhas convenções. Ele é quem é o Senhor de toda a natureza, toda a terra e universo. Ele tem poder para estabelecer e derrubar reinos. Ele tem poder para conceder autoridade tanto às mulheres quanto aos homens.

O ministério pastoral é concedido pelo Espírito Santo, àqueles/as que Ele mesmo separou. Então, devo entender o ministério pastoral como um dom que é concedido pelo Espírito Santo que, segundo o apóstolo Paulo, concede dons àqueles/as a quem Ele quer. Ele, o Espírito Santo, é livre e soberano sobre a Igreja.


III.O ministério pastoral é um dom concedido pelo Espírito Santo.


O texto de 1Cor 12.1-11 nos ensina que “há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo”. Afirma, também, que “Deus é quem opera tudo em todo”.

Se entendermos o ministério pastoral como um dom, um serviço concedido pelo Espírito Santo à Igreja, percebemos que Deus, segundo o seu Espírito, pode concedê-lo tanto aos homens quanto às mulheres. Pois, segundo o mesmo texto relatado acima, “a manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim, um proveito”. O texto ainda afirma que: “mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um individualmente”.

Precisamos estar atentos ao texto do apóstolo Paulo, escrito aos romanos, quando ele nos ensina que fazemos parte de um só corpo, e somos um mesmo corpo em Cristo Jesus (cf. Rm 12.4-5).

Vejamos o texto na íntegra:

“Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque assim como, num só corpo, temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim, também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo, e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministérios (aqui se incluem todos os serviços prestados na obra de Deus, inclusive o ministério pastoral), dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina [...]; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria.” (Rm 12.3-8).

Aprendemos que os dons são concedidos pelo Espírito Santo à Igreja, levando-se em consideração a soberana vontade de Deus e as necessidades do corpo de Cristo. Ora, os dons não são concedidos, levando em consideração o gênero masculino ou feminino, mas, sim, a vontade de Deus e as necessidades da Igreja. Sendo assim, não há nenhum impedimento que uma mulher receba o dom do ministério pastoral, dom de serviço, dom de presidência.
Se acreditarmos que há impedimento por parte de Deus em conceder alguns dons aos homens e outros distintos às mulheres, ou que somente concede dons para homens ou para mulheres, estaríamos afirmando, indiretamente, que Deus faz acepção de pessoas, fato que não é verdadeiro. Deus concede dons à sua Igreja, para sua honra e glória.


IV.A crítica da ausência do substantivo feminino do texto original.


Os opositores do ministério pastoral feminino usam, dentre outros, o argumento de que nos textos do Novo Testamento, em nenhum momento, é usado o substantivo feminino em relação ao ministério pastoral. E, devido a isso, os mesmos afirmam que não há base bíblica para o ministério pastoral feminino na Igreja. Ora, todos sabemos que a língua grega, língua usada na elaboração dos textos paulinos e outros, assim como a língua portuguesa, são línguas que dão preferência ao uso do gênero masculino. Sendo assim, raramente encontraríamos nos textos o uso da expressão pastora em detrimento da expressão pastor; a expressão mestra em detrimento de mestre; ou diaconisa como preferência ao uso da expressão diácono.

Porém, a ausência de expressões do gênero feminino para designar pastoras ou profetisas nas cartas de Paulo não pode ser visto como um impedimento para que a Igreja atual, que vive em uma outra circunstância histórica, onde a mulher, sua importância, capacidade e vocação são destacadas, não consagre pastoras ou episcopisas. Entendo que Deus não faz distinção de gênero. Ele não fez uma aliança somente com os homens (varões), mas com todas as pessoas que vieram até Ele por intermédio de Jesus Cristo.

Os opositores do ministério feminino deveriam usar o mesmo critério para negar a possibilidade de ascensão das mulheres no exercício de outras funções na Igreja, visto que também não encontramos no Novo Testamento termos como: professora de Escola de Dominical, Diaconisa, Profetisa (não encontrados nas cartas pastorais), cantoras, mulheres dirigentes de corais, de congregações, missionárias mulheres evangelistas, etc.

Vale destacar que, na época em que os textos bíblicos foram escritos, não se tinha noção de linguagem inclusiva ou de uma linguagem de cunho não sexista.

A oposição ao ministério pastoral feminino é mais percebida entre os pentecostais clássicos e evangélicos tradicionalistas. Por que estes grupos não se opõem ao fato de que mulheres são batizadas com o Espírito Santo, em suas reuniões (falo dos grupos pentecostais), visto que também a Bíblia não relata nenhum episódio dessa natureza relacionado diretamente ao sexo feminino? Por que não se opor ao fato das mulheres terem o dom de variedade de línguas, visto que também o texto bíblico quando fala deste importante dom e outros (cf. 1 Co 12.8-11) usa uma expressão que está no masculino e não no feminino? Ex: a outro, no mesmo Espírito, dons de curas [...] a um, variedade de línguas, etc.

Repito, o fato de não encontrarmos a expressão pastora no texto bíblico do Novo Testamento não consiste num impedimento para a consagração de mulheres ao ministério pastoral. Se Deus as chamou e as capacitou, quem somos nós para nos opormos à vontade soberana de Deus, visto que não há nenhum texto bíblico que proíba a consagração de mulheres ao ministério pastoral.

Um outro fator que deve ser levado em conta, quando lemos os textos bíblicos, está relacionado com o momento histórico em que Igreja do primeiro século estava inserida, momento que difere grandemente do nosso. Hoje, as mulheres estão cada vez mais ocupando seus espaços junto à sociedade. Por que isto não ocorreria na Igreja?

Logo, não há nenhuma base bíblica para negar a autenticidade do ministério pastoral feminino. Como já afirmei acima, o Espírito Santo concede dons às pessoas como lhe apraz.!

A Igreja é chamada para romper com as tradições que tanto impediram os fariseus e saduceus de entender a revelação de Deus através de Cristo. Deus chama homens e mulheres para o seu serviço na seara santa, sem distinção de cor, sexo, ou nacionalidade.


V.A Bíblia destaca várias mulheres que foram usadas poderosamente por Deus.

Ao lermos a Bíblia, percebemos inúmeros textos que relatam o importante trabalho desempenhado por mulheres em vários momentos históricos experimentados tanto por Israel quanto pela Igreja do Senhor. Várias mulheres desenvolveram o pastoreio tanto em Israel quanto na Igreja. Mulheres que aconselhavam, que visitavam, que oravam, que cuidavam dos crentes, que presidiam igrejas em suas casas, etc. Pastorear é cuidar, zelar, visitar, discipular, acompanhar, é ministrar os sacramentos, é batizar, e isso, algumas mulheres fazem melhor que alguns pastores.

A Bíblia enumera nomes de algumas mulheres consideradas notáveis na história tanto de Israel quanto da Igreja. Em se tratando da história da Igreja, encontramos dezenas de testemunhos que destacam que várias mulheres desempenharam importante papel quanto ao desenvolvimento, edificação e pastoreio da Igreja do Senhor.

Dentre os testemunhos bíblicos sobre o importante trabalho desenvolvidos pelas mulheres, tanto em Israel quanto na Igreja, destacamos:

a)Débora: Juíza – profetisa - conselheira e pastora de Israel (cf. Jz 4.4);
b)Ana: profetisa (cf. Lc 3.36);
c)Hulda: profetisa (cf. Rs 22.14);
d)Noadia: profetisa (cf. Rs 22.14);
e)Filhas de Filipe: profetisas (cf. At 22.9);
f)Rute – ascendente de Jesus Cristo – moabita – (cf. livro de Rute);
g)Júnia – Considerada apóstola pela tradição da Igreja (cf. Rm 16.7 );
h)Miriam: Profetisa (cf. Ex 15.20);
i)Febe: obreira da Igreja, considerado como nobre em talento e honra (cf. Rm 16.1-2);
j)Priscila: obreira da Igreja que dirigia uma igreja que se reunia em sua casa – missionária – discipuladora de Apolo (cf. At 18.26; Rm 16.3);
k)Lídia – abrigava uma igreja em sua casa;
l)A samaritana: mulher evangelista (cf. Jo 4.29);
m)Maria, mãe de Jesus, mulher que acompanhou o surgimento da Igreja e estava presente na primeira reunião de oração de seu estabelecimento, e que exerceu influente ministério junto à comunidade nascente(cf. At 1.14);

Conclusão:

Para concluir este brevíssimo ensaio, repasso aos/às leitores/as, e, em especial, aos opositores ao ministério pastoral feminino, a pergunta motivadora que perpassa todo o texto: Por qual razão Deus não delegaria às mulheres este importante ministério, o ministério pastoral?



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Sergio B. Barros

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