terça-feira, 18 de setembro de 2012

NO TEMPO DE JESUS



MODO DE VIDA E COSTUMES JUDAICOS

A ORGANIZAÇÃO

A tribo era a maior unidade social em Israel, composta de vários clãs. As Doze Tribos se referiam a todo o povo de Israel.

O clã era uma unidade social intermediária. Era maior que a casa do pai e menor que a tribo. Várias famílias formavam um clã.

A família, também chamada casa do pai, era a menor unidade social em Israel. Era formada por um grupo de 50 a 100 pessoas.

A FAMÍLIA

O nome da mulher judia era mudado quando nascia o primeiro filho homem. Passava a ser chamada de mãe de Fulano.

Os israelitas não tinham sobrenome. Chamavam-se, por exemplo, José filho de Davi. Isso lhes dava senso de continuidade, de história.

Quando crescidos, os rapazes judeus ajudavam a família a trabalhar a terra. Os filhos homens eram necessários também para perpetuar o nome da família, pois os israelitas pensavam que sobreviveriam nos seus filhos.

Quando um homem morria sem ter filhos, seu parente mais próximo deveria casar com a viúva. O primogênito desse matrimônio herdaria o nome e a propriedade do falecido. É a chamada Lei do Levirato.

Embora contassem menos, as meninas eram consideradas mão-de-obra útil. Quando uma filha casava, seus pais recebiam um presente matrimonial (dote) para compensar a perda da mão-de-obra útil da filha.

A mulher era propriedade do marido, a quem considerava como patrão. Essa atitude ainda era encontrada no tempo de Jesus.

Apesar das mulheres executarem a maior parte dos trabalhos pesados, ocupavam posição social inferior, tanto na família quanto na sociedade.

Normalmente os bebês judeus eram amamentados ao seio por dois ou três anos. A taxa de mortalidade infatil era muito alta por causa das precárias condições sanitárias das casas.

A criança recém-nascida era lavada e esfregada com sal, pois acreditava-se que isso fortalecesse sua pele e depois era envolvida em fraldas.

Durante o Antigo Testamento, a criança recebia o nome assim que nascia. O nome traduzia a espectativa da família e o projeto de vida para o recém-nascido.

Na época do Novo Testamento, a criança recebia o nome oito dias após o nascimento, quando era circuncidada.

A CIRCUNCISÃO E ADOLESCÊNCIA

A circuncisão era comum entre os semitas. Em Israel, a circuncisão tornou-se, para toda criança do sexo masculino, sinal de pertença ao povo de Deus.

Todo primogênito pertencia de direito a Deus. Por ocasião da circuncisão, o primogênito era resgatado mediante o sacrifício de um animal.

Por ocasião da circuncisão da criança, também era feita a purificação da mãe, por meio do sacrifício de um pombo e um cordeiro. No caso de pobres, o cordeiro era substituído por outro pombo.

Na época do Novo Testamento, o rapaz passava a ser considerado adulto quando completava 13 anos. Esse acontecimento era marcado por um serviço religioso especial chamado Bar-Mitsvah (=Filho da Lei).

Antes de se tornar Bar-Mitsvah, o adolescente aprendia a ler os trechos da Lei e dos Profetas que naquele dia seriam lidos na sinagoga. No dia da cerimônia, ele os lia para a assembléia.

Depos da Cerimônia do Bar-Mitsvah, o rabino dirigia a palavra ao rapaz e invocava sobre ele a bênção de Deus, utilizando a palavra de Nm 6,24-26.

O MATRIMÔNIO

Em Israel praticava-se a poligamia. No tempo dos Juízes e dos Reis, um homem podia casar-se com tantas mulheres conseguisse sustentar.

Na época do Novo Testamento, era comum o homem ter apenas uma mulher, embora houvesse exceções. Era raríssimo um homem não casar-se e não existe palavra em hebraico para designar o solteiro.

A idade prevista na Lei para casar era de 13 anos para os rapazes e a partir dos 12 anos para as moças. Talvez por causa disso os casamentos eram combinados pelos pais.

Na época do Antigo Testamento, os casamentos geralmente ocorriam no mesmo clã. Era proibido o casamento com pessoas de outras nações, que adoravam outros deuses.

Em Israel, o matrimônio era questão mais civil que religiosa. No noivado, fazia-se um contrato perante duas testemunhas. Às vezes, o par trocava entre si um anel ou bracelete.

O noivado vinculava do mesmo modo que o casamento. Durante o período de espera do casamento, a moça continuava morando na casa paterna e o rapaz era dispensado do serviço militar.

Quando casava uma filha, o pai recebia uma importância em dinheiro (chamado mohar): o preço da moça. As vezes essa soma era substituída pelo trabalho do noivo. O mohar voltava à filha se o marido ou os pais falecessem.

O casamento se realizava quando o noivo acabava de construir a casa. Com seus amigos, dirigia-se à noite para a casa de sua noiva, que o esperava em vestes nupciais, com o rosto coberto por um véu e com as jóias dadas pelo noivo.

A cerimônia do casamento era simples. O véu era tirado do rosto da noiva e colocado no ombro do noivo. Depois o noivo e seus amigos conduziam a esposa para sua nova casa, onde se realizava o banquete de casamento.

Entre os israelitas, o marido podia divorciar-se de sua esposa. A esposa, porém, não tinha esse direito, mas em certas circunstâncias podia forçar o marido a pedir o divórcio.

A MORTE

Quando alguém morria, o corpo era lavado e envolvido em panos para sepultamento rápido por causa do clima quente. O corpo era transportado em padiola até a sepultura.

Os israelitas sepultavam os mortos em cavernas. Algumas tinham espaço para todos os membros da família. Se necessário, eram ampliadas, abrindo-se corredores com prateleiras escavadas na rocha, onde eram postos os cadáveres.

As pessoas ricas tinham túmulos especialmente construídos, com escadaria que descia através da rocha sólida até a câmara mortuária. Uma lage e um bloco de pedra fechavam a entrada.

Os pobres eram entrerrados em covas pouco profundas em terreno aberto. Em torno do corpo era colocada uma fileira de pedras e os espaços intermediários eram preenchidos com pequenas pedras e terra.

OS GRUPOS IDEOLÓGICOS

Os saduceus eram o grupo econômico e político dominantes na época de Jesus. A ele pertenciam os sacerdotes. Eram materialistas e não aceitavam a ressurreição.

Os fariseus ou separados eram um partido leigo muito próximo ao povo. Distinguiam-se pela intransigência e rígida observação da Lei.

Os herodianos eram os defensores da dominação romana na Palestina. Estavam a serviço de herodes e eram os mais ferrenhos perseguidores dos movimentos subversivos.

Os zelotas eram membros do partido judaico que se opunha à dominação romana por julgá-la incompatível com a soberania do Deus de Israel.

Os sicários, assim chamados porque carregavam um punhal, eram um movimento subversivo caracterizado por violentos atentados.

Os essênios eram uma facção do clero de Jerusalém que se afastou para as montanhas a fim de encarnar uma vivência genuína da fé judaica.

Os publicanos ou cobradores de imposto eram os coletores de tributos e taxas destinados ao Império Romano. Por essa razão, eram odiados pelo povo.

O SINÉDRIO E A RELIGIÃO JUDAICA

O Sinédrio era a suprema instância jurídica do tempo do Novo Testamento. Jesus foi condenado à morte pelo Sinédrio.

O Sinédrio era formado por 71 membros: sumos-sacerdotes, anciãos e doutores da Lei. Seu presidente era o sumo-sacerdote em exercício.

Os sumos-sacerdotes depostos conservavam seu título e continuavam como membros do Sinédrio. O sumo-sacerdote era escolhido dentre quatro famílias sacerdotais.

Os anciãos eram os representantes da classe rica, em geral grandes proprietários de terras e imóveis urbanos. Junto com os sumos-sacerdotes, detinham o poder político e econômico.

Os doutores da Lei ou escribas, eram pessoas mais cultas, entendidas em jurisprudência e interpretação bíblica. No Sinédrio, representavam a ideologia dominante.

Toda pessoa atingida pela lepra era banida do convívio social, tornando-se assim um marginalizado por excelência.

Na Palestina, os rabinos exigiam que cada cidade tivesse um médico e possivelmente também um cirurgião. O Templo sempre contava com um médico para tratar dos sacerdotes, que trabalhavam descalços e pegavam certas doenças.

O TEMPO E AS FESTAS

O calendário hebraico era regido pela lua. A cada lua nova correspondia o início de um mês, ocasião em que se celebrava uma grande festa.

A festa da Páscoa era inicialmente um ritual de pastores para proteger os rebanhos. Foi assumida como memorial da libertação da opressão do Egita.

A festa dos Pães Sem Fermento era celebrada na primavera. Visava a não misturar o produto da nova colheita com o da antiga, caso fosse usado o fermento guardado numa porção de massa.

A festa das Semanas ou da Messe era celebrada após sete semanas ou cinquenta dias contados a partir do início da ceifa. No Novo Testamento é chamada de Pentecostes (50 dias).

A festa das Tendas ou da Colheita era a mais popular, celebrada no outono, no final da estação dos frutos. O povo armava cabanas de folhagens lembrando os acampamentos do deserto.

Todos os sábados os judeus se reuniam na sinagoga para rezar, ouvir e comentar os textos bíblicos. Nela todo judeu adulto podia tomar a palavra.

Para o povo bíblico, o chifre era símbolo de força. Uma trombeta em forma de chifre era tocada nos acontecimentos importantes e grandes solenidades de Israel.

Sinagoga ou casa de oração eram as casas de reunião que apareceram a partir do exílio da Babilônia. A sobrevivência do judaísmo deveu-se à existência de sinagogas, que substituíram o Templo.

O TRABALHO

As estações determinavam o ritmo do trabalho anual. A estação úmida (out.-abr.) era ocupada para arar, semear (com um cêsto na mão), gradear e capinar.

As colheitas estendiam-se de março à outubro. Colhia-se primeiro o linho e a cevada. O trigo era o último dos cereais a ser colhido. Em seguida, colhiam-se uvas, figos e azeitonas.

O trabalho nas vinhas começava na primavera com a poda. Depois, quando os ramos cresciam, era necessário erguê-los acima do solo com estacas. As uvas amadureciam entre julho e outubro.

As mulheres israelitas faziam o pão diariamente. A primeira tarefa era o difícil trabalho de moer os grãos, transformando-os em farinha grossa, que era misturada com sal e água, fazendo-se a massa.

Ao fazer o pão, as mulheres misturavam um pouco de massa fermentada do dia anterior, fazendo assim a massa levedar. Por ocasião da Páscoa, o pão não podia conter fermento.

Trabalho diário vital para as mulheres era buscar água nos poços ou fontes. Carregavam os pesados potes de água na cabeça ou nos ombros.

A mulher tinha muito trabalho a fazer em casa, do início ao fim do dia: tirar leite, preparar queijo, iogurte, fiar, tecer a lã, etc... Além disso, a mulher trabalhava na roça.

Na época do Novo Testamento, os sindicatos eram bastante difundidos no Império Romano. Para funcionar, precisavam de licença do imperador, para evitar que servissem a atividades políticas subversivas.

Quando os hebreus saíram do Egito, os egípcios já usavam o ouro há muitos séculos. Levaram consigo jóias de ouro e prata e sabiam trabalhar esses metais.

Na Palestina encontravam-se o ferro e o cobre. Outros metais, como ouro, prata, estanho e chumbo tinham de ser importados.

O processo de purificação do ouro, fundindo-os para separar as impurezas é frequentemente usado na Bíblia como imagem da ação purificadora do sofrimento.

Quando os israelitas entraram em Canaã, os cananeus já tinham carros com acessórios de ferro e outros objetos desse metal. Os filisteus impediam que os isrelitas dominassem a técnica para não fabricar armas.
Na época do Novo Testamento, havia um setor de ferreiros em Jerusalém, mas os profissionais do bronze e ferro não podiam trabalhar em certas festas religiosas por causa do barulho que faziam.

Os israelitas não se dedicaram muito à pesca antes da época do Novo Testamento. O hebraico tem somente um a palavra para dizer "peixe", tanto para o menor peixinho como para os grandes cetáceos.
No tempo de Jesus havia florescente indústria pesqueira no lago da Galiléia. A cidade de Betsaida, situada à beira do lago, significa "casa da pesca".
Os pescadores, no tempo de Jesus, trabalhavam em grupos familiares, valendo-se também da ajuda de assalariados. No mar da Galiléia, a pesca noturna era perigosa por causa das repentinas tempestades que o agitavam.
Os zoólogos antigos acreditavam que no tempo de Jesus existissem 153 espécies de peixes. Também se acreditava que esse era o número das nações conhecidas (cf. Jo 21,11).

O couro dos animais era secado ao sol e tratado com o extrato de certas plantas. Devido ao mau cheiro, os curtidores viviam fora das cidades e eram considerados pessoas impuras (cf. At 9,43).

Em Israel existiam parteiras desde os primeiros tempos. Talvez formassem corporação já antes do Êxodo, com código ético próprio e dirigentes reconhecidos.

No tempo de Jesus, o salário de um trabalhador diarista era uma moeda de prata (denário), quantia suficiente para sustentar a família durante um dia. Jesus foi vendido por 30 denários.

PESOS E MEDIDAS

O côvado, medida de superfície encontrada freqüentemente na Bíblia, é o comprimento do braço, da ponta dos dedos até os cotovelos (45,8 a 52,5 cm).

O estádio corresponde a 192 metros.

A MORADIA

Os pobres do Antigo Testamento moravam em casas muito pequenas: apenas uma sala quadrada e um quintal. As casas eram construídas em mutirão ou por construtores profissionais ambulantes.

OUTROS ESCRITOS JUDAICOS

Midraxe é um esforço para explicar uma passagem bíblica difícil e obscura. Os Midraxim são os antigos comentários judaicos, procurando explicar e atualizar a Bíblia.

Mishna são as coletânias de tradições, a princípio orais e depois escritas, que tratam da aplicação de uma lei a circunstâncias particulares. Os judeus acreditavam que a Mishna remontava a Moisés.

Talmude é um conjunto de explicações e comentários judaicos de textos bíblicos, principalmente as leis. Em hebraico, a palavra Talmude significa ensinamento.

O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE USOS E COSTUMES

Introdução:
Muitas igrejas têm feitos todo tipo de proibições para com as mulheres nas questões de maquiagem e adornos. Com o argumento de que as irmãs devem ser simples como as pombas (Mt. 10:16), estas denominações proíbem e disciplinam qualquer vestígio de enfeites feitos pelas mulheres.

É comum escutarmos alguns irmãos falarem “minha igreja tem doutrina, lá mulher não usa maquiagem, brincos, pulseiras, etc.”. E falam isso com orgulho de pertencer a uma igreja que tem “doutrina”. O que há nessas afirmações é uma confusão entre as palavras “doutrina” e “costume”.

As vezes pessoas são disciplinadas em certas igrejas por usar ou praticar coisas que aquela igreja julga que é proibido nas Escrituras, quando na verdade é apenas um costume local.

Mas, você pode perguntar: existem passagens que mostram como os homens e mulheres da Bíblia se vestiam e o que usavam? Será que é correto hoje usar tudo o que eles usavam? A Bíblia aponta um padrão para a vestimenta e adornos cristãos? Podem os irmãos e as irmãs se adornarem ou é isso pecado? E aqueles versículos que estas pessoas citam para proibir o uso de enfeites o que querem dizer? Neste capitulo vamos estudar sobre este assunto com detalhes.

I- COSTUME E DOUTRINA.

1.a- Já foi dito aqui que muita gente faz confusão entre “costume” e “doutrina”, a primeira coisa que devemos fazer é definir estes termos, pois existe diferença.

· Costumes estão ligados a usos, a uma prática habitual particular, se baseiam na cultura e na moda vigente naquele tempo e lugar.

· Doutrina. No Novo Testamento, a palavra mais usada para doutrina é didachê e significa: ensino, instrução, tratado. Para uma idéia ser doutrina cristã, é preciso que ela esteja exposta por todo o texto sagrado, e seja válida para todos os cristãos, ou seja, não é apenas algo local ou circunstancial, mas universal.

Observe a diferenças entre doutrina e costume.

Quanto à origem: A doutrina é divina. O costume em si é humano.
Quanto ao alcance: A doutrina é geral. O costume em si é local.
Quanto ao tempo: A doutrina é imutável. O costume em si é temporário
1.b- A doutrina bíblica gera bons costumes, mas bons costumes não geram doutrina bíblica. Igrejas há que têm um somatório imenso de bons costumes, mas quase nada de doutrina. Isso é muito perigoso! Seus membros naufragam com facilidade por não terem a base espiritual da Palavra de Deus, se confiam nas próprias obras e acham que estão mais perto de Deus por não fazer ou não usar isso ou aquilo.

II- O QUE É VAIDADE.

2.a- Temos que definir também esta palavra e observar como ela aparece nas Escrituras Sagradas. É importante a gente se dar conta de que o termo ‘vaidade’, em português, não significa uma preocupação com a estética, como as pessoas pensam e usam a palavra dizendo: “ah, ela é cheia de vaidades!” O termo ‘vaidade’ em português provém do latim vanitas, o sentido básico desta palavra é: ‘em vão’.

1- Vaidade no Antigo Testamento.

a) No AT temos algumas palavras sendo usadas para vaidade. A expressão hebel (vaidade) usada no livro do Eclesiastes 1:2; 2: 11, indica: brevidade e ausência de substância, vazio (Jó 7: 16); coisa vã, que não produz efeito (Jó 9:29); engano (Jr. 16: 19; Zc. 10:2). [1] A The International Standard Bible Encyclopedia nos ajuda aqui com esta palavra e diz que as palavras “vão“, “vaidade“, “vaidades” são freqüentes na Bíblia. A idéia destas palavras é quase que exclusivamente de algo “vazio” e também “falsidade”.

1- A palavra mais traduzida por “vaidades“, ou “vaidade” no AT é hebel, que significa um “sopro de ar, ou da boca“, muitas vezes é aplicada à idolatria (Dt. 32: 21; 1 Rs. 16:13; Sl 31:6; Jr. 8: 19); aos dias do homem e ao próprio homem (Jó 7:16; Sl. 39: 5,11), e também aos pensamentos do homem (Sl. 94: 11); e a riqueza e tesouros (Pv. 13:11). No livro do Eclesiastes, onde a palavra ocorre muitas vezes, é aplicada a tudo: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ec. 1:2; 12:8).

2- Awen, que significa também “sopro“, é também traduzida por “vaidade“, mas em conexão com “iniqüidade” (Is. 58:9);

3- Shaw é outra palavra freqüente, é traduzida por vaidade e tem também a idéia de “falsidade, maldade” (Êx.20:7, Dt. 5:11; Sl. 31:6).[2]

2- Vaidade no Novo Testamento.

a) A palavra “vaidade” não ocorre freqüentemente no NT, mas em At. 14:15 temos a palavra grega mataios,[3] “vazio“, traduzida como “vaidades” (de ídolos); encontra-se também mataiotês, como “transitoriedade” (Rm. 8:20): “A criação ficou sujeita à vaidade (fragilidade, transitoriedade). É traduzida também como “vazio”, “loucura” (Ef. 4:17; 2 Pd. 2:18).[4] Observe que nenhuma vez estas palavras estão sendo aplicadas a questões de se maquiar ou usar certos adereços como brincos, pulseiras, etc.

III- O QUE OS HOMENS E AS MULHERES DA BIBLIA USAVAM?

Os homens e as mulheres da Bíblia se enfeitavam e não era pouco. Eles usavam muitos adornos em várias partes do corpo. A seguir listamos alguns:

3.a- Os homens usavam:

· Anéis e colares (Gn. 41: 42; Ex. 35: 22; Et. 8: 2; Dn. 5: 29; Lc. 15: 22);

· Brincos (Ex. 32:2-3);

· Braceletes (Ex. 35: 22; 2Sm. 1:10);

3.b-As mulheres usavam:

Pendente, pulseira (Gn. 24: 22, 47);
Braceletes, colares (Ez. 16: 11);
Brincos, coroa na cabeça (Ez. 16:12);
Anéis no tornozelo (Is. 3 18);
Cadeias para os passos (Is. 3: 20).
3.c- Observe com atenção que as mulheres e os homens da Bíblia usavam muitos enfeites, não havia a concepção de pecado para tal prática. Todos podiam usar os seus adornos, se vestir bem e se enfeitar para o dia a dia. Nas Escrituras isto nunca foi proibido. A relação de Deus e do povo de Deus com as jóias na Bíblia é muito interessante, preste atenção nessas passagens a seguir:

· Êx. 3: 21-22- Deus diz que quando os israelitas saíssem da escravidão no Egito pedissem aos egípcios jóias e roupas para seus filhos usarem. Isso não aconteceria se os israelitas não usassem jóias e se Deus fosse contra as mesmas.

· Êx. 35 4-5, 20-22, 30- 36:3- Veja que os objetos do Santuário que Deus mandou Moisés construir para ser sua casa de adoração, foram feitos cm as jóias do povo. Se jóias fossem algo pecaminoso Deus as usaria na Sua casa?

· Nm. 31: 50- aqui encontramos as jóias do povo sendo usadas como oferta expiatória para Deus. Deus aceitaria como oferta algo pecaminoso?

· Jó 42: 11- Como presente dos seus amigos após sua restauração Jó o homem justo e temente a Deus (Jó 1:1), recebe um monte de anéis. Para que isso se ele não usasse?

· Pv. 1:8-9- O escritor de provérbios compara o ensino dos PIS que é uma coisa muito boa, com diademas e colares, ou seja, compara com adornos, enfeites. Isto mostra que para ele os enfeites eram coisas importantes e boas. E não podemos esquecer que ele escrevia inspirado pelo Espírito Santo.

· Pv. 25:12- Uma pessoa sábia é comparada com jóias e brincos de ouro.

· Is. 61:10- Jerusalém é representada como se fosse uma mulher,que está recebendo as bênçãos de Deus (3), e estas bênçãos são comparadas com enfeites, com as jóias de uma noiva.

· Ez. 16: 1-14- Este texto é maravilhoso e esclarecedor. Deus compara Jerusalém com uma mulher, e como se Ele fosse um esposo que está feliz com sua mulher, lhe dá todo tipo de jóias, e ainda diz que ela enfeitada está com a gloria dele refletida (14).

· Ap. 21: 1-2- a Nova Jerusalém, que é um símbolo da Igreja glorificada, é comparada a uma noiva quando se enfeitava para o casamento.

3.d- Será que se as jóias fossem algo que Deus abomina e que os cristãos não deveriam usar o Senhor faria as comparações que acabamos de ler em sua Palavra, e daria e receberia as mesmas de seu povo? É óbvio que não. Todas estas passagens mostram que nas Escrituras nada existe de proibições com respeito as jóias, e que o povo da Bíblia as usava normalmente.

IV- E AQUELE TEXTO?


Existem alguns textos que são muito usados por algumas pessoas para condenar o uso de jóias pelos cristãos, a pergunta é: o que estes textos querem dizer? Vamos analisá-los.

4.a- Is. 3: 16-26 – As vezes alguns mais desavisados também usam estes versículos para manter suas proibições. É um uso mal feito, pois aqui se estivesse proibindo as jóias para as mulheres, estaria proibindo também:

· Véus (19);

· Cintos (20);

· Anéis (21);

· Roupas caras, capas, bolsas (22);

· Espelhos, roupas de linho, xales (23);

· Perfumes, penteados, roupas caras (24).

Mas, logo se vê que as pessoas que usam esta passagem para proibir as jóias, não proíbem as outras coisas. Usam de dois pesos e duas medidas. O que este texto que dizer então?

4.b- É o seguinte: o profeta Isaías está dando uma sentença contra as mulheres de Jerusalém (16), dizendo que Deus iria tirar tudo o que cita delas, não porque aquilo fosse pecado, mas porque elas estavam cometendo outro pecado, o pecado da arrogância, do orgulho (16). A retirada de todos estes objetos delas seria uma forma de castigo, tudo seria parte do julgamento de Deus sobre Jerusalém da qual fala todo este capítulo 3. Temos aqui um fato circunstancial, referente a situação das mulheres de Jerusalém, um fato descritivo (descreve um acontecimento), e não prescritivo (não prescreve, nem ordena uma doutrina). Contrate esta passagem com Ez. 16: 1-14, onde Deus feliz com Jerusalém lhe dá jóias de todos os tipos e roupas finas como bênção. Tirar os ornamentos para o povo de Israel era sinal de tristeza (Ex. 33:1-6); receber ornamentos era sinal de bênçãos (Is. 61: 10; Ap. 21:1-2).

4.c- 1Tm. 2: 9-10; 1Pd. 3:1-4 – Estas duas passagens também têm sido usadas por alguns para proibir os adornos femininos, mas não é isso o que está escrito nelas.

1- No primeiro texto (1Tm. 2: 9-10) o apóstolo Paulo não está proibindo o uso de jóias, nem os penteados para as mulheres, ele está fazendo um contraste entre dois tipos de beleza, a interior e a exterior. Ele diz que a verdadeira beleza não deve está por fora, nas jóias e ornamentos que as mulheres usavam, mas por dentro, na espiritualidade, na santidade. A mulher não deveria pensar em se enfeitar e se esquecer da parte espiritual, deve fazer uma, mas faça principalmente a outra. Ele reflete sobre as prioridades do cristão, como em 1Tm. 4:8: “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir”. É claro que Paulo não desaconselha o exercício físico, mas mostra que a pessoa deve se exercitar na santidade antes de tudo. Toda leitura de um texto assim deve ser feita com cuidado, levando em seu contexto, se não for assim iríamos achar que o apóstolo estaria proibindo o casamento em 1Co. 7:27: “Estás ligado à mulher? Não busques separar-te. Estás livre de mulher? Não busques mulher”, mas, não é isso que ele faz.

2- Na segunda passagem (1Pd. 3: 1-4), se Pedro estivesse lançando uma proibição contra o uso de jóias pelas mulheres, porque ele usa como exemplo de santidade as mulheres do AT (5-6)? Pois como já vimos, elas usavam muitas jóias. Ora, se Pedro tivesse aqui sendo contra o uso de jóias pelas mulheres, não usaria como exemplo quem as usava. Como entender o texto então? O que temos aqui são expressões idiomáticas como as seguintes:

· “Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito.” (Gn. 45:8). Veja no verso 4 que foram os irmãos de José mesmo que o venderam.

· “Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocausto. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus“. (Sl. 51:16-17). Mas veja o verso 19, e também Ex. 29; Lv.22: 17- 33, onde o próprio Deus é quem estabelece os sacrifícios.

· “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo. 6:27). Estaria Jesus proibindo o trabalho? É claro que não.

Quando os autores bíblicos escrevem assim, eles estão querendo colocar ênfase em certos detalhes que não podem ser esquecidos em certas práticas, mas não estão negando nada. Por exemplo:

· Em Gn. 45:8, José não estava dizendo que os seus irmãos eram inocentes se sua ida ao Egito como escravo, mas sim afirmando que ANTES dos irmãos dele fazerem o plano, Deus já havia feito.

· Em Sl. 51: 16-17, Davi não está dizendo que Deus não aceitava sacrifícios, pois o AT está cheio de ordenanças a este respeito (Lv. 1-7), mas está dizendo que ANTES de sacrifícios Deus queria o coração contrito.

· Em Jo. 6: 27, João não está dizendo que pessoas não deve trabalhar pela comida material, ANTES que se preocupe com a comida espiritual em primeiro lugar.

Portanto, nas duas passagens analisadas não há proibição do uso de ornamentos pelas mulheres, mas que ANTES elas saibam que a sua beleza deve está no interior, na vida espiritual dedicada, e não apenas no exterior, no que elas usam.

V- QUAL O CRITÉRIO DO CRISTÃO AO SE VESTIR E SE ADORNAR?

Depois de tudo o que foi dito fica a pergunta então devemos fazer tudo o que os homens e mulheres da Bíblia faziam; usar tudo o que usavam? Para responder a mesma temos que prestar atenção ao seguinte:

5.a- A Bíblia foi escrita em um determinado contexto e cultura onde havia muitos costumes diferentes dos nossos, assim nem tudo o que está na Bíblia é para fazer. Observe:

1- Gn. 16- Sara a esposa de Abraão, por ser estéril, dá empregada para que seu marido se deite com ela e gere um filho;

2- Ex. 21: 7- O pai podia vender a filha;

3- Ex. 21: 16,17 Lv. 20:9- Amaldiçoar ou ferir os pais era passível de pena de morte;

4- Lv. 23- Era obrigado celebrar as festas da Páscoa, Primícias, e o Dia da Expiação;

5- Dt. 21: 15-17- Homens podiam ter mais de uma esposa;

6- Dt. 21: 18- 23- Filhos desobedientes deveriam ser mortos;

7- Dt. 22:13-21- Mulher que casasse e ficasse provado que não era mais virgem deveria ser apedrejada até a morte;

8- Dt. 25:5-10- Se um homem casado morria sem ter deixado filhos, o seu irmão casava com sua esposa, era a lei do Levirato;

9- Dt. 26: 12-15- Quem dava o dízimo deveria fazer uma oração prescrita para todos.

Estes eram costumes do povo e da Lei de Israel, mas não são nossos. Ali eram aceitáveis, mas não são aceitáveis hoje, pois como já vimos costumes mudam de povo para povo e de época para época. Assim, devemos ao ler a Bíblia saber diferenciar o que é um costume local, que dentro daquela sociedade era permitido e aceitável, e o que não é aceitável em nossa sociedade.

5.b- Observe este fato interessante:

· 1Co. 11:4-16 – Em Corinto, era proibido as mulheres cortarem o cabelo, e os homens de terem os cabelos crescidos. Mas, em Israel era normal os homens terem longos cabelos (Jz. 13: 1-5; 2Sm.14:26);

· 1Co.11: 5- Aqui em Corinto as mulheres podiam profetizar e orar nos cultos, e profetizar também era ensinar (1Co. 14:31), mas em Éfeso onde Timóteo estava elas não podiam fazer nada disso (1Tm. 2:11-12). Acontecia assim porque estas duas cidades tinham costumes diferentes.

5.c- Todo cristão deve saber que deve respeitar a cultura na qual está inserido, se ela não fere a doutrina bíblica (1Co.10:32). Assim, no caso de usos e costumes devemos saber se tal costume no país em que vivemos é aceito ou não. Como a sociedade olha quem pratica tal coisa? Olha como cristão? Sendo práticos: homens de brincos no Brasil são vistos como cristãos pela sociedade? Mulheres com brincos pendurados no nariz são vistas como cristãs? Agora todos nós sabemos que a sociedade não vê nada de errado em uma mulher cristã se adornar com seu brinco na orelha, ou seu colar ao pescoço. A mesma coisa não existe discriminação em um homem usar um colar discreto.

5.d- Existem algumas coisas que devem ser observadas pelo cristão quando for se vestir e se adornar com seus enfeites. Não se deve usar tudo que a moda oferece, quando se for usar algo se deve fazer algumas perguntas:

· Isto que estou usando serve para a glória de Deus (1Co. 10:31)?

· Isto que estou usando me faz ser causa de escândalo para crentes ou descrentes (Rm. 14: 13-16,21; 1 Co.10:32)? Muitas coisas podem não ser pecado, mas para evitar o escândalo não devemos fazer (1Co. 10: 23-31);

· Isto que estou usando mostra que sou santo (1Pd. 1: 14-15)?

· Isto que estou usando Jesus usaria (1Jo. 2:6)?

· Isto que estou usando mostra que meu corpo é templo do Espírito Santo (1Co. 6:18-20)?

O cristão deve adotar a modéstia em todo o seu procedimento, se não adota o comedimento saiba que peca. O bom senso deve ser praticado pelos crentes no que usam como trajes ou adornos, sob pena de fazer do templo de Deus que é o seu corpo, um templo profano. Ao usar uma roupa ou adorno pense sempre no outro, e se aquilo está escandalizando o nome de cristão ou não. Que tipo de templo você é?

CONCLUSÃO:

a) As Escrituras estão fartas de textos que provam que os adornos eram usados pelo povo de Deus, não eram proibidos. Alguns tentam usar a Bíblia erradamente para tentar proibí-los, alegando que tudo isso é vaidade. É bom notar que na bíblia a palavra vaidade nunca esteve ligada ao uso de adornos pelas pessoas.

b) Os cristãos estão livres para se adornarem, mas observando o principio da modéstia. Devem saber que são diferentes, que devem ser santos. Se o que usam os transforma em motivo de escândalo ou de descrédito para com sua vida espiritual, estão em erro. Glorificar a Deus com seu corpo este é o critério básico para o comportamento cristão. Faça isso.

APÊNDICE:

a. Dt. 22: 5 – Igrejas têm usado esta passagem para condenar o uso de calças compridas por mulheres. A explicação que dão é que calças são roupas de homem, e, portanto, são proibidas aqui para as mulheres. O que estas pessoas não dizem é que na época em que este texto foi escrito as roupas eram semelhantes para homens e mulheres. Os judeus todos usavam vestidos e túnicas, homens e mulheres, a distinção dos sexos não estava no tipo de roupa, pois todos usavam vestidos, mas nos tamanhos e cores.

b. A palavra hebraica no texto que é traduzida por roupa é o hebraico “simlâh”, a mesma palavra que é traduzida por “capa’ em Gn. 9: 23. Esta palavra significa: capa, manto, envoltório, vestuário, de homem ou de mulher; especialmente uma grande roupa exterior. [1] Assim , o texto não se refere a calças, mas a estilos de capas, vestimentas que se distinguiam por tamanho, cores, detalhes, e não por tipo. Portanto, não se proíbe aqui o uso de calças por mulheres, pois se ela usa uma calça de modelo feminino não há problema, assim como na Bíblia os homens usavam vestido, mas de modelo masculino. O texto proíbe o travestismo, homem como mulher e mulher como homem.

c. Mt. 10: 16 – Este texto não fala nada sobre usos e costumes. Fala dos problemas que os apóstolos enviados por Jesus iam passar e Jesus está mostrando como eles deveriam enfrentar estes problemas. É só ler todo o capitulo 10 de Mateus. Portanto quem usa este texto para tentar falar de usos e costumes na igreja está falsificando as Escrituras.

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